Os desafios do PT
Como viver, conviver e sobreviver, na prática cotidiana de partido real, a utopia e o ideal? Eis, no meu entender, o maior desafio do PT
Por mais que a mídia, a serviço de uma elite direitista, virulenta e sociopática, tenta negar, o ideal da PT, seus feitos como governo e sua construção política, fruto da união de diversas forças sociais, sindicais, políticas e religiosas como as Cebs, foi a mais bonita, a mais forte e a mais ousada experiência política construída, no pós-ditadura pelos operários, intelectuais, artistas, profissionais liberais e tantos outros que, ao Partido dos Trabalhadores, se juntaram para construírem um Novo Brasil.
Como esquecer as emoções do Lula Lá de 89?
Quem não se lembra da canção: Uma cidade parece pequena, se comparada com um país, aqui em Teófilo Otoni, na campanha eleitoral de 2000 e tantas experiências vivenciadas pelos filiados e simpatizantes do PT espalhados por esse país a fora?
Quem não se emociona quando resgatamos na memória as fala de seu Agostinho, seu Pedrinho Quebra-Queixo, ambos hoje fazendo políticas lá no céu e tantos Agostinhos e Pedrinhos espalhados nos rincões desta nossa nação?
Como esquecer e não valorizar os gritos de guerra, as palmas e a farda de Fidel Castro de seu Waldemar? E de tantas qualidades individuais e coletivas dos trabalhadores que faziam a diferença neste partido?
Que saudade dos encontros de formação política e da consciência crítica realizados na Casa Emaús com a presença nada mais nada menos que Leonardo Boff, Frei Beto, Hélio Bicudo, Pedro Casáldáliga, Patruz, Dulce e tantas pessoas, experiências e lugares místicos espalhados em todas as cidades do Brasil onde foi forjado o PT e suas lutas!
Os filósofos antigos já diziam que "A água do rio nunca é a mesma".
Não querendo ser saudosista, mas sendo, como seria bom se a água do rio contrariasse a filosofia e voltasse nesse novo tempo, com a experiência adquirida e a autocrítica exercida, a ser o mesmo?
Sem achar que em função da nobreza de nossos ideais, o poder pelo poder valha a pena.
Sem achar que, por ser militante de grandes causas, como são as nossas lutas sócias e políticas cotidianas, nos fazem melhores e por isso mesmo, para se chegar ao poder podemos transigir nos princípios éticos e valores morais, marca do partido desde a sua fundação.
Sem abrir mão das regras condicionantes para se fazer parte e garantir a coesão, o funcionamento e vida longo de um grupo.
Como conviver e sobreviver com campanhas bilionárias que o Partido, os filiados e candidatos do PT não têm, as quais levou o partido, antes arauto da ética, entrar na vala comum das arrecadações empresariais que pagam as campanhas e compram a consciência do governo, obrigando-o a se enquadrar numa estrutura fraudulenta, em relacionamentos promíscuos e no mínimo, que no meu ver é o máximo, impedindo o governo de fazer, concomitante com as políticas afirmativas, de assistência, de devolução de dívidas históricas, de organização da casa, de elevação dos excluídos, as mudanças estruturantes que rompam com o status quo de país mais injusto e desigual do mundo?
Como conviver e sobreviver como partido com uma organização que renuncia ao debate em torno de projeto de país e seus verdadeiros problemas, em função de projeto de governo, confundindo o lugar de um e do outro, desnorteando, desiludindo filiados, simpatizantes e toda a sociedade?
Como conviver e sobreviver com um processo natural dentro do partido de renúncia do debate democrático, da participação, da força de poucos líderes em detrimento da força do grupo e do projeto maior ao qual todo e qualquer filiados, especialmente quem ocupa cargo eletivo e de poder dentro do partido, deve se submeter?
Como viver, conviver e sobreviver, na prática cotidiana de partido real, a utopia e o ideal?
Eis, no meu entender, o maior desafio do PT.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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