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    Rodrigo Portella Guimaraes

    Graduando da faculdade de direito da USP, e sonhador com um novo Brasil

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    Os editoriais a serviço da luta de classes no Brasil

    Soam mesquinhas e baixas as críticas direcionadas ao PT e ao recém-vazado programa

    Lula (Foto: Ricardo Stuckert | Reprodução/Twitter)

    No mesmo dia em que o STJ proferiu uma questionável decisão acerca do rol taxativo da ANS, das obrigações de cobertura dos planos de saúde, o que afeta, diretamente, o cuidado de nosso povo em face dos crescente lucros do setor, e do giro de notícias que marcam um recorde recente do número brasileiros que estão em estado de fome, os grandes jornais do país guiaram seus editoriais para proferir críticas mesquinhas à recém-divulgada prévia do programa federal da chapa Lula-Alckmin. Sintoma de como se dará a luta de classes daqui para frente.

    A elite econômica brasileira se encontra, atualmente, eivada de incertezas no âmbito eleitoral. Isto não se dá, por óbvio, por questões ideológicas, visto que esta é exclusivamente economicamente neoliberal e costumeiramente conservadora. Mas, sim, em saber qual representante político patrocinar, para que tenha capacidade de manter em prática o seu projeto de espoliação da classe trabalhadora, por meio da apropriação do salário (vide a contrarreforma trabalhista) e venda completa das riquezas do país (como, por exemplo, a venda da eletrobrás e a fatia da Petrobras, com sua completa desfiguração). 

    Parte considerável da burguesia brasileira, sobretudo aquela associada ao agronegócio e ao mercado financeiro, fechou questão em apoiar Jair Bolsonaro. Este, no claro intuito de manter seu poder, passa a boiada à estes interesses, decretando, a toque de caixa, as necessidades dos setores, que envolvem, desde a legalização irrestrita de agrotóxicos, a ocupação de terras indígenas para a mineração e a venda da maior empresa do país. Contudo, esta postura política enseja contradições, inclusive, o fechamento do mercado internacional aos produtos agrícolas do país, fazendo com que parte deste grupo rache, e veja a necessidade de apoiar outro candidato, mais limpinho, para dar seguimento ao seu projeto, com certo verniz humano. 

    Não à toa, apesar da completa inviabilidade eleitoral, alguns setores ainda vislumbram o lançamento de uma dita terceira-via que, em outras palavras, significa alguém com o mesmo projeto de Bolsonaro e Paulo Guedes, mas com capacidade de diálogo maior, afastando as cisões sempre presentes nos últimos anos. Neste campo trafegam desde Simone Tebet até, quem diria, o viajante Ciro Gomes. 

    Porém, realisticamente, uma das poucas alternativas eleitorais, ao lado de um eventual golpe de estado, que resta à elite econômica brasileira é a de precificar a eleição de Lula e, crendo em seu sempre presente pragmatismo político, pressionar para que abra mão de seus pequenos apontamentos a um novo horizonte de país. Essa estratégia começa a tomar forma a partir dos editoriais dos principais jornais brasileiros, a exemplo do O Globo e a Folha de S. Paulo. 

    Em uma das publicações, mesmo com a completa ausência de volatilidade de Lula nas pesquisas eleitorais, que o apontam como primeiro colocado, com possibilidades de vitória, inclusive, no primeiro turno, há a incrível consideração de que Lula, para sair vencedor no pleito deste ano, terá de esconder, além de Dilma, o próprio PT. Diante do atual cenário que, inclusive, conta com uma crescente presença de quadros históricos do partido, incluindo a ex-presidente, esta análise representa um absoluto erro de leitura da realidade ou uma completa ameaça desvelada? Só haverá Lula no Planalto caso este seja um inequívoco representante dos atuais interesses da burguesia e do imperialismo? 

    Soam mesquinhas e baixas as críticas direcionadas ao partido e ao recém vazado programa. Sob o rótulo de que o PT continua preso ao passado, as críticas, sempre vazias, não se limitam às ideias-força de reforma do Judiciário, aborto e taxação de dividendos, mas, sobretudo, à revogação das contrarreformas e do teto de gastos, que colocaram o Brasil, novamente, no mapa da fome, com perspectivas pífias de crescimento e com os maiores índices de concentração de renda no mundo. Talvez, o passado a que o PT se prende é o de uma realidade completamente diversa com relação à soberania do cidadão brasileiro. 

    Cabe a Lula e ao PT agir com coragem e firmeza, neste momento. O Brasil e seu povo exigem, para a sua sobrevivência, um novo modelo de país, mais inclusivo, desenvolvido e soberano. E, para tal, devemos romper, completamente, com este atual modelo de gestão neoliberal e financeiro, que expropria, claramente, o trabalhador brasileiro e acumula parte das riquezas e as exporta em outra parte, seja por meio de off-shores ou transferência direta às elites estrangeiras. 

    Quando um desses editoriais afirma que Lula deverá deixar de lado ideologias em favor do bom senso parece, na verdade, atuar de acordo com a metáfora freudiana, vez que falam mais de si do que de Lula. Este pseudojornalismo, travestido de imparcialidade, na verdade, põe em ação a narrativa da parcela da burguesia que vê riscos, ainda que mínimos, de ver seu projeto de dominação do país se acabar, nas mãos de um presidente que sempre se mostrou fiel, aliás, a estas pessoas. Porém, no país da escravidão e na permanente colônia, comer, viajar e ter moradia não são direitos, mas luxos que só podem pertencer aos nossos burgueses.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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