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    Moisés Mendes

    Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

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    Os novos medos do racismo bolsonarista

    "Teremos cada vez mais negros médicos, engenheiros, administradores, arquitetos, físicos, professores. E agora também chefes. A presença dos trainees negros põe o branco racista diante dos seus limites", diz o colunista Moisés Mendes

    Vidas negras em tardes de domingo

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    O primeiro impacto de programas de recrutamento exclusivo para negros, como fizeram a Ambev e o Magazine Luiza, é o de provocar o racista. Os efeitos acionados de imediato são os colaterais.

    Um racista ameaçado denuncia fragilidade e medo. O recrutamento de negros para futuros cargos de chefia expõe o que o pretenso supremacista mais teme hoje: a competição em postos de liderança.

    Rompe-se uma convenção. O branco inseguro, defensor da meritocracia, sempre tentou manter a qualquer custo o que considera direito adquirido. Negros devem competir em 'igualdade de condições', porque é assim desde o que chamaram de abolição.

    Os negros foram libertos e empurrados para o mercado. Que desfrutassem das liberdades como pudessem. E que os aptos sobrevivessem no que diziam ser as mesmas condições dos dominadores e dos homens livres. Não eram.

    Foram três séculos e meio de imposição do escravismo. Até hoje, o branco racista médio, e não só os herdeiros das elites, engana-se a si mesmo com a conversa de que as condições seriam as mesmas.

    O racista sulista, descendente dos imigrantes europeus que chegaram aqui a partir do início do século 19, sabe bem, mas finge ignorância, que seus ancestrais não eram superiores, segundo os enquadramentos da época e de hoje.

    Esse descendente não é herdeiro do que o mundo tinha de melhor. Os ancestrais do racista vieram para o Brasil na condição do que o racista define hoje como inferior e perdedor.

    O racista poderia, se tivesse a chance de voltar no tempo, receber seu ancestral como um representante do que ele mesmo chama de escória social. Porque os homens e as mulheres que estão nas suas origens não eram proprietários de terras e não conseguiam, com suas habilidades, ser absorvidos pela industrialização. Eram o excedente e o estorvo do capitalismo.

    O imigrante é o expulso pela Europa em transformação. Muitos deles, os primeiros mandados para cá, eram criminosos. Pela emigração, a Europa se livrava de encarcerados. E aqui eles ganhavam, mesmo que não fossem agricultores, a terra sonegada aos negros.

    Os descendentes desses imigrantes são hoje os líderes do racismo como ideologia da era Bolsonaro. O bolsonarismo não só ofereceu discurso político a essa gente, como a folclorizou. O racista é um ser precário.

    Ele já vinha sendo ameaçado pelas cotas, pelo ProUni e pelas políticas afirmativas. Agora, é assombrado pela ameaça de perder espaços de chefia.

    O que as empresas estão fazendo é o recrutamento de futuros líderes negros. No Magazine Luiza, 53% dos funcionários são pretos e pardos, mas apenas 16% estão em funções de chefia.

    O racista que se considera superior reage aos programas das empresas e expõe o que o apavora. Um negro poderá ser seu chefe, com voz de comando, com as liturgias e a imposição do cargo.

    O negro não será mais apenas um concorrente em níveis subalternos. O branco está em situação de risco, mais do que já estava com a ampliação do acesso à universidade.

    Teremos cada vez mais negros médicos, engenheiros, administradores, arquitetos, físicos, professores. E agora também chefes. A presença dos trainees negros põe o branco racista diante dos seus limites.

    Quanto mais o racista espernear, mais irá denunciar sua fragilização e seus medos. O racista é, na essência, um covarde que despreza e desrespeita a própria ancestralidade.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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