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    Marcelo Zero

    É sociólogo, especialista em Relações Internacionais e assessor da liderança do PT no Senado

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    Os perigos da dependência na área da Defesa

    "Exemplo trágico da Austrália deve servir de acautelatório contra decisões que coloquem o Brasil e outros países em situações de dependência"

    O presidente dos EUA, Joe Biden, o primeiro-ministro australiano, Anthony Albanese, e o então primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, fazem comentários sobre a parceria Austrália - Reino Unido - EUA (AUKUS), após uma reunião trilateral, na Base Naval de Point Loma em San Diego, Califórnia, EUA, em 13 de março de 2023 (Foto: Reuters)

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    A Austrália está com um sério problema na área da Defesa, especialmente no que tange à sua Marinha, força vital para um subcontinente insular.

    A Royal Australian Navy (RAN) estava procurando, faz mais de uma década, substitutos para seus submarinos envelhecidos da classe Collins, movidos a diesel.

    Em um primeiro momento, pensou-se no submarino francês da classe Attack, que fora descrito, em 2016, como sendo "regionalmente superior". Não obstante, “reavaliação” feita alguns anos depois mostrou que “tal submarino não era tão superior, afinal”.

    Por que isso aconteceu? Foi uma decisão técnica?

    Não. Foi uma decisão geopolítica.

    Na realidade, a Austrália foi pressionada pelos EUA a assinar o acordo AUKUS, em 2021. Tal acordo, firmado entre Estados Unidos, Austrália e Reino Unido visa à segurança de toda a região do Indo-Pacífico, tendo como principal objetivo “conter estratégico o avanço da China”. Ou seja, não prioriza a segurança da Austrália.

    Negociado em total segredo, esse pacto militar permitiria, por exemplo, que a Austrália construísse submarinos de propulsão nuclear pela primeira vez, a partir de tecnologia americana. Submarinos da classe Virgínia.

    Além disso, o acordo também inclui áreas como inteligência artificial, tecnologia quântica e cibersegurança.

    O pacto significou , na prática, que a Austrália abandonou o antigo acordo de cerca R$ 190 bilhões assinado com a França, em 2016, com o objetivo de construir 12 submarinos não nucleares, bem mais baratos.

    Assim, a Austrália, por pressões geopolíticas que não têm nenhuma relação com sua própria segurança, está agora totalmente dependente, para sua defesa naval, dos seus “parceiros” EUA e Reino Unido, incluindo os caprichos de futuros líderes políticos, como Trump, que quer conter gastos com Defesa e cobrar mais contribuição financeira dos “aliados”.

    O resultado prático é um desastre.

    A atual taxa de construção de submarinos dos EUA é de 1,2-1,3 por ano, o que precisaria aumentar para 2,33, se a Austrália quiser receber os seus previstos 3 a 5 SSNs da classe Virginia, na década de 2030. No entanto, o orçamento americano para o ano fiscal de 2025 ainda financia apenas um SSN.

    A bem da verdade, a Austrália está no caminho de um desastre financeiro e estratégico com seu projeto de submarino nuclear AUKUS, de bilhões de dólares.

    Um grupo de especialistas militares australianos, que apoia a aquisição pela Austrália de capacidade de submarinos nucleares, prevê que tal país poderá ficar sem submarinos, no final dos anos 2030 – submarinos convencionais ou nucleares. 

    É o cenário mais provável, caso o atual caminho "ideal" de aquisição de duas variedades dos submarinos da classe Virginia dos EUA, na década de 2030, e de um novo submarino nuclear construído pelos britânicos com um design inteiramente novo, no início da década de 2040 - for seguido.

    O grupo compartilha o ceticismo de muitos críticos australianos e norte-americanos de que é improvável, por razões políticas, que a Marinha dos EUA concordará em liberar submarinos mais antigos da classe Virginia para a Austrália, e de que o Congresso estadunidense autorizará a entrega das novas unidades.

    Tal grupo, que se autodenomina “Submarinos para a Austrália”, prevê também a probabilidade de atrasos graves decorrentes do estado desastroso da indústria de construção de submarinos do Reino Unido. 

    Como resultado, o submarino AUKUS custará mais para construir e será limitado operacionalmente às zonas costeiras e arquipélagos ao norte da Austrália. 

    Em outras palavras, ele será realmente projetado apenas para uma guerra com a China, em torno de Taiwan.

    A conclusão do grupo é a de que a Austrália precisa de um plano B, quando se verificar que o atual projeto nuclear submarino falhou. Mas não há plano B, e agora está claro que o governo australiano está amarrado, não a um projeto de defesa, mas a uma manobra geopolítica. 

    Esse exemplo trágico da Austrália deve servir de acautelatório contra decisões que coloquem o Brasil e outros países em situações de dependência de interesses geopolíticos que não correspondem aos reais interesses nacionais. 

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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