Os planos de Trump para o Brasil
A ira do império ficará mais estridente e perigosa com o avançar do trabalho de abandonar o dólar como moeda de troca nas transações no Sul Global
Agora que o presidente dos EUA, Donald Trump, tomou posse, a indagação que paira de modo geral nas mentes dos brasileiros diz respeito à iminente política externa estadunidense para o Brasil, considerado estratégico no século XXI. O primeiro cenário imaginável – portanto, o que parece óbvio – está relacionado à conjectura de tentativa dos Estados Unidos de pressionar ao máximo seu parceiro sul-americano de modo a afastá-lo dos BRICS, sobretudo China e Rússia. Nesse caso, estar-se-ia sobretaxando as exportações brasileiras e, por vias oblíquas, tentando desestabilizar o governo Lula com o objetivo de desgastá-lo ou mesmo derrubá-lo.
Na pior das hipóteses do ponto de vista de Washington, o presidente brasileiro chegaria à condição de presa fácil nas eleições de 2026, de preferência sendo derrotado por um político de extrema direita. Evidentemente, atuando de forma não oficial, a Casa Branca poderia mobilizar a poderosa máquina de desinformação ou contrainformação e manipulação midiática proporcionada pelas fake news, impulsionadas, por sua vez, pelas big techs e suas redes sociais. É certo que o fará. Por outro lado, Trump, contando historicamente com o apoio de grande parte das elites tupiniquins – que não suportam Lula –, optaria por engendrar uma grande conspiração.
À semelhança da Lava Jato, uma nova operação surgiria para dar respaldo político-jurídico-institucional à tentativa de derrubar o presidente do Brasil. Não é uma suposição difícil. Pelo caráter de contaminação ideológica do governo estadunidense, demonstrado claramente por ocasião dos eventos de posse de Trump, muito será investido para derrubar o atual governante brasileiro. Afinal, além do fato de Lula representar um regime considerado de centro-esquerda ou social-democrata, há a necessidade de os EUA controlarem, para continuar explorando, as riquezas da América Latina. Mas logo ficará transparente para a Casa Branca que o Brasil não irá se afastar da China.
Multipolaridade inexorável
Isso reforça a percepção de que as turbulências, internas e externas, tendem a crescer para o Palácio do Planalto. Se os norte-americanos ainda não entenderam tal dinâmica – e pelo visto ainda não entenderam mesmo – da multipolaridade global inexorável, em breve, reagirão como o previsto, com cada vez mais intensidade ou ímpeto. Trata-se de se contrapor à realidade, hoje demarcada, por exemplo – no caso específico –, pelo aspecto de que os chineses são de longe o maior parceiro comercial brasileiro, relação na qual a parte latino-americana é amplamente superavitária. Mas essa parceria é ainda muito mais ampla e profunda, envolvendo investimentos importantes em áreas como infraestrutura.
No contexto presente, não haveria espaço para os yankees acreditarem num improvável afastamento do Brasil em relação aos BRICS, engenharia geopolítica bastante sólida, cujo compromisso mundial é incluir o máximo possível de nações pretendentes ao próprio desenvolvimento. Cansados da exploração secular por parte das potências ocidentais, países dos continentes sul-americano, africano e asiático começam a se agrupar em torno do surpreendente eixo criado pelos BRICS. Por isso, não será na base do porrete, resgatado da famigerada Doutrina Monroe, que será possível subjugar nossa soberania e nossos interesses econômicos e sociais em favor da versão revisitada desse triste sistema.
A ira do império ficará ainda mais estridente e perigosa com o avançar do complexo e articulado trabalho de abandonar o dólar como moeda de troca nas transações comerciais entre os países do Sul Global, substituindo a moeda estadunidense com iniciativas como abandonar o sistema swift. E o Brasil é protagonista desse processo, que é liderado pela ex-presidenta Dilma Rousseff, atual presidente do NDB (Novo Banco dos Brics) – , para adotar uma rede alternativa elaborada pelo bloco. A busca por implantar novo mecanismo de transferências interbancárias internacionais, em detrimento do swift e dólar, deve pôr lenha na fogueira de pressões, retaliações e conspirações desencadeadas por Washington.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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