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    Matheus Brum

    Mineiro de Juiz de Fora, jornalista e escritor

    40 artigos

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    Os R$ 1,8 bi de privilégios jogados na nossa cara

    Ou voltamos a ter a capacidade de nos revoltarmos, ou seremos para sempre isso: um bando que está doido para chegar numa função de status e fazer parte da “turma da boquinha”

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    Olá, companheiros e companheiras. Como vão? Nesta terça-feira, o jornal Metrópoles divulgou a “lista de compras” do governo Bolsonaro no ano de 2020. Para a surpresa de todos, descobriu-se que o Executivo gastou R$1,8 bilhão na compra de diversos tipos de alimentos. A reportagem mostrou que esse valor foi 20% maior do que o registrado, para os mesmos fins, em 2019. 

    Esse é apenas um, de diversos, retratos da desigualdade do Brasil. E mais, como os privilégios são brutais. Como esquecer da tentativa do Supremo Tribunal Federal de gastar milhões de reais em lagostas? Dos diversos auxílios aos parlamentares? Dos jetons e funções gratificadas de comissionados? Das duas férias anuais e diversas benesses dos membros do Judiciário? É muito esculhambação, parafraseando Guilherme Boulos, na nossa cara. 

    Por trás disso temos um governo de não aumenta o Auxílio Emergencial; que diz que o país está quebrado; que não promove ganho no salário mínimo; que corta investimentos básicos em nome da “austeridade fiscal”; que não investe em ciência e tecnologia no meio de uma pandemia; que reclama que o preço das seringas, indispensável para a imunização em massa, está caro, e que brada aos quatro ventos que é contra a corrupção. 

    É difícil, ao mesmo tempo indignante, viver num país assim. É fazer muito papel de trouxa ao ver a quantidade de regalias que alguns setores da sociedade possuem. Que este é um problema cultura e histórico, sabemos. Mas, até quando? Até quando vamos nos contentar em aceitar que isso é “normal” e nada pode ser feito? Até quando o “jeitinho brasileiro” vai ser um traço do nosso caráter? 

    O mais incrível é como o brasileiro perdeu a capacidade de se indignar. Uma notícia dessas, em qualquer país sério do mundo, seria o estopim para grandes manifestações. Onde já se viu gastar tanto com alimento enquanto não há insumos básicos contra a covid-19? Quando há pessoas morrendo por falta de oxigênio nos hospitais? Onde está a turma que bradou contra o preço dos estádios da Copa de 2014, dizendo que “o SUS não era padrão FIFA”?

    Precisamos voltar a ter a capacidade de reagir diante de absurdos como esses. Como aceitar um país em que bancos têm 17 bilhões de lucro (considerado um dos menores da história) e milhões não têm condições de fazer uma alimentação decente? Vamos tolerar isso para sempre?

    Ou voltamos a ter a capacidade de nos revoltarmos, ou seremos para sempre isso: um bando que está doido para chegar numa função de status e fazer parte da “turma da boquinha”. No caso atual, literalmente. 

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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