Os submarinos da Austrália, novo episódio da crise imperialista
A “pirataria” dos EUA em relação a aquisição de submarinos pela Austrália, que havia acordo com a França, não agradou nada o imperialismo francês, que foi a público denunciar a "punhalada nas costas”
Por Juca Simonard
Um novo fato joga lenha na fogueira da crise do regime imperialista mundial. O pacto bélico estabelecido pelos Estados Unidos e a Inglaterra com a Austrália (Aukus) frustrou os planos da França, que tinha um contrato de U$90 bilhões relativo à aquisição de submarinos com o país da Oceania.
Com o novo pacto, os EUA passaram por cima dos acordos feitos com a França em favor da aquisição pela Austrália de submarinos nucleares norte-americanos, em sua estratégia para intimidar a China. A França, importante exportadora de armas no mundo, pode perder o equivalente a US$ 65 bilhões, assim como sua autoridade no setor armamentício no Indo-Pacífico - onde o país mantém cerca de 7 mil soldados e patrulhas regulares no Mar Sul da China. Estima-se que na região vivam por volta de 2 milhões de franceses, como na Polinésia Francesa e na Nova Caledônia, entre outros territórios.
A “pirataria” do imperialismo norte-americano não agradou nem um pouco o imperialismo francês. O ministro das Relações Exteriores francês, Jean-Yves Le Drian, foi a público denunciar os membros da Aukus por “mentira, duplicidade, uma grande quebra de confiança e desprezo”. Le Drian denunciou que o torpedeamento dos negócios franceses foi uma “punhalada nas costas” e comparou o atual presidente dos EUA, Joe Biden, a seu antecessor, Donald Trump. Outras autoridades, como a ministra das Forças Armadas da França, Florence Parly, também denunciaram os norte-americanos.
Pela primeira vez desde o século XVIII, a França chamou de volta seu embaixador nos Estados Unidos para uma “consulta”. Da mesma forma, o embaixador francês na Austrália retornou ao país. O governo francês também cancelou uma recepção iminente na Embaixada da França em Washington, capital dos EUA.
Fato é que a disputa é mais um episódio da crise imperialista que se arrasta há décadas, e pode atiçar os planos do presidente francês, Emmanuel Macron, de deixar a OTAN. Principalmente após a devastadora derrota do imperialismo no Afeganistão, deve se aprofundar a luta de classes entre as diversas potências imperialistas em busca de espoliar os recursos do mundo, o que coloca em perigo a própria União Europeia - da qual o Reino Unido já saiu - e seus acordos comerciais com os EUA.
Para manter o sistema capitalista internacional funcionando, o imperialismo precisa atuar de forma conjunta, fazendo acordos. Porém, volta e meia os países imperialistas brigam entre si para garantir seus interesses materiais diante da situação de crises econômicas e políticas ao redor do globo. A História já demonstrou o que acontece quando esta briga é levada até às últimas consequências, com a I e a II Guerras Mundiais, que quase levaram o capitalismo à bancarrota, não fosse o esforço da União Soviética e de seus aliados internacionais para derrotar a série de revoluções proletárias que explodiram no momento, como na França, na Itália e na Grécia.
O aprofundamento da crise mundial tende a aumentar as tensões entre as diversas forças imperialistas do planeta, como ficou claro durante o governo Trump. Conforme observado nesta ocasião envolvendo a Austrália, a situação deve se estender com Biden. O racha do bloco imperialista dá bons sinais para os trabalhadores ao redor do mundo, pois significa que seus opressores estão em franca decadência. Nesse sentido, a derrota do imperialismo no Afeganistão aponta um caminho amplo de novas insurreições contra as classes dominantes internacionais.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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