Os tons de cinza do trabalho e da felicidade
Nem todo mundo é feliz como o Mick Jagger que pode ganhar dinheiro enquanto produz endorfina e felicidade. O Rolling Stone foi usado de má-fé, para convencer o brasileiro médio, que pouco entende disso tudo, que ele será feliz trabalhando por mais tempo
Uma capa de revista com o rock star Mick Jagger tinha tudo pra ser algo ordinário, comum mesmo. Mas, dessa vez, não foi não. Jagger não estampou a capa da revista Exame para falar de seu álbum novo ou turnê internacional e nem de vida pessoal ou filho no Brasil. Desta vez, no primeiro mês do ano não muito promissor de 2017, sua imagem foi usada para motivar (ou consolar) brasileiros que, como alguns outros povos, terão que trabalhar por mais tempo até se aposentar pelo Estado - a matéria era sobre a mudança das regras da aposentadoria no Brasil. Ou seja, a idade mínima para se aposentar está para mudar e Mick Jagger se tornou viralmente a imagem-pilar do discurso pró-trabalhar-por-mais-tempo-feliz no Brasil.
A questão da idade mínima para se aposentar é bastante complexa e certamente não serei eu, sem especialização em Economia, em poucas linhas e de maneira rasa, que elucidarei tal drama. O máximo que deixo aqui são algumas perguntas quase ignorantes para desassossegar quem me lê e provocar o desejo de buscar várias fontes e se informar.
- Será que a Previdência administrada pelo Governo é a melhor e mais inteligente?
- Será que a contribuição é calculada e recolhida de forma correta?
- O aumento da expectativa de vida não faz com que tenhamos mesmo que repensar limites para determinados tipos de trabalho, ao menos?
- Colocar diferentes tipos de trabalho "no mesmo saco" não é de certa forma falta de conhecimento da própria condição humana, fisio e biologicamente falando? (Concretamente falando: colocar um homem de 70 anos trabalhando no campo não é contraditoriamente acelerar o seu processo de envelhecimento e prejudicar a sua saúde?)
- A Grécia tem uma Previdência Social que atende à esmagadora maioria da população precisando de muito pouco complemento na área privada. Invejável. Por outro lado, quando sofreu com a crise e as dívidas, me parece que uma das exigências dos que iriam lhe prestar socorro financeiro era rever sua previdência que gerava gastos imensos aos cofres. Como solucionar?
- Será a distribuição das aposentadorias feita de forma justa com a preocupação de contribuir de cada um? Não deveria cada contribuição ser capitalizada?
- Será que mexer na idade é a solução ou deve-se pensar em mexer no quanto se arrecada, mexendo assim na Matemática e não na Biologia?
Confesso que adoraria saber mais do assunto, tendo mais respostas que perguntas. Acredito que os povos devam ser educados a, desde jovens, cuidarem de seu futuro, pensarem nele e não deixarem essa função somente para o Estado. Coincidentemente é ele, o Estado, que deve cuidar da melhor educação de seu povo, incluindo a sua educação financeira.
O que sei é que existe, sim, uma parcela da população mundial cujo trabalho é fonte de alegria, saúde e rejuvenescimento até.
A pior coisa que pode acontecer a pensadores e mesmo a pessoas comuns é só enxergar preto ou branco.
Quantos tons perdemos entre um e outro.
O trabalho é adorado pela sociedade principalmente para se manter o consumo. Parece óbvio, né? Trabalho enobrece, trabalho dignifica. Trabalhar sempre! Felicidade seria assim algo resultante do trabalho, pois só ele lhe permite alcançá-la, mas se repararmos, a felicidade raramente é vista dentro do trabalho e sim o nirvana resultante de muito dele, o tal trabalho.
A felicidade pode fazer parte do trabalho. Segundo Domenico di Masi, a atividade humana se completa quando há trabalho, estudo e jogo. Ou seja, a gente é feliz sendo curioso, adquirindo informação e conhecimento, produzindo, vendo o bolo crescer e se divertindo com grandes pitadas de ludicidade em tudo.
Essa ideia faz todo o sentido pra mim. Então combinemos o seguinte:
Nem todo mundo é feliz como o Mick Jagger que pode ganhar dinheiro enquanto produz endorfina e felicidade.
O Rolling Stone foi usado de má-fé, para convencer o brasileiro médio, que pouco entende disso tudo, que ele será feliz trabalhando por mais tempo.
A questão da Previdência no mundo e especificamente no Brasil é complexa e requer esforço e mudança de mentalidade para tentar solucioná-la. No Brasil lidamos com desvios, corrupção, uso de fluxo de caixa corrente para se pagar as aposentadorias quando deveríamos pensar em fundos bem geridos e guardados.
Que entre tanta complexidade e tantos tons possamos, enquanto nação, saber envelhecer com honestidade, dignidade, sensatez e - por que não?- felicidade.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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