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    Luis Pellegrini

    Luís Pellegrini é jornalista e editor da revista Oásis

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    Ostracismo. O grande terror de Trump

    Como todo narcisista-padrão, ele demonstra uma necessidade extrema de admiração. Busca elogios e lealdade absoluta de aliados e seguidores

    Donald Trump (Foto: Reuters/Carlos Barria)

    Tenho sérias dúvidas se todo esse blábláblá que a mídia mundial está produzindo a respeito de Donald Trump seja a melhor forma de fazê-lo baixar a crista de bravatas narcísicas que insiste em desferir. Parece bem evidente que o novo presidente norte-americano exibe muitos traços associados ao narcisismo. Vários especialistas em saúde mental já levantaram a hipótese de que ele pode ter um Transtorno de Personalidade Narcisista (TPN). Mas, é claro, um diagnóstico formal só poderia ser feito por um profissional que o avaliasse diretamente.

    Com base em seu comportamento público – como o exibido no show de horrores que foi seu discurso na recente cerimônia de posse -Trump demonstrou tantas características típicas do narcisismo exacerbado que a gravação dessa fala deveria ser conservada para todo o sempre nos anais da patologia psicológica e psiquiátrica. Alguns itens a ressaltar: Como sempre fez, desde que despontou no cenário do mundo dos negócios e da política, Trump exibiu um sentimento exagerado de grandiosidade. Ele se apresentou, o tempo todo, como o melhor em tudo, o centro do mundo, uma espécie de sol ao redor do qual tudo e todos devem girar e permanecer submissos.

    Nada de novo no front: Como todo narcisista-padrão, ele demonstra uma necessidade extrema de admiração. Busca elogios e lealdade absoluta de aliados e seguidores.

    Trata-se de uma pessoa destituída de empatia. Demonstra insensibilidade ao sofrimento dos outros, principalmente quando isso não lhe traz benefício. Exemplo? Apenas um dos mais recentes: o tratamento que dispensa aos imigrantes. E alguém se lembra do programa de televisão “The Apprentice” (O Aprendiz) em 2004, onde Donald Trump dizia “You're fired!” (Você está demitido!) No programa, os participantes competiam em desafios de negócios para conseguir um cargo executivo em uma das empresas de Trump. O bordão “You're fired!” se tornou uma das marcas registradas de Trump e reforçou sua imagem de empresário implacável antes de sua entrada na política.

    Exploração dos outros: trata-se de um dos traços mais evidentes de Trump, manifestado ao longo de toda a sua vida. Ele usa pessoas para seus objetivos e descarta quem não o serve mais.

    Reatividade a críticas: Trump responde com raiva ou ataques a quem questiona sua imagem, capacidade ou talento.

    Mentiras e distorção da realidade: Exagera conquistas e nega evidências que não favorecem sua narrativa.

    Comportamento impulsivo e busca por controle: Quer sempre dominar o ambiente e tomar decisões sozinho.

    Foi exatamente por manifestar reiteradamente esses comportamentos compatíveis com o Transtorno de Personalidade Narcisista que tantos especialistas já emitiram o diagnóstico de TPN em relação a ele. Embora se trate de um diagnóstico muito difícil, devido ao fato de ainda não haver provas formais de que seu comportamento narcísico tenha provocado sofrimento intenso em outra pessoa ou grupo de pessoas.

    Além disso, Trump teve muito sucesso financeiro e político e, como se sabe, infelizmente, parte da opinião pública e do eleitorado tende a considerar que só por isso trata-se de uma pessoa de grande valor, força, coragem, audácia. Em resumo, um herói, um líder, um mito.

    Mas, repito, vários especialistas argumentam que ele pode se encaixar melhor em um perfil de narcisismo maligno, um padrão psicológico que combina narcisismo extremo com traços antissociais, maquiavélicos e até paranoicos. De qualquer forma, seu comportamento público sugere um perfil altamente narcisista e, possivelmente, manipulador.

    Nestes dias, muitos discutem a teoria de que Donald Trump teria vestido sua esposa Melania de preto usando um chapéu que cobria metade do seu rosto e a “escondido” durante a cerimônia de posse, por medo de ser ofuscado por sua beleza. Esta é uma interpretação simbólica que circula em algumas análises psicológicas e de linguagem corporal. Mas não há provas concretas de que essa tenha sido sua intenção consciente.

    Na cerimônia de posse, Melania podia até estar elegante, gosto não se discute – em seu figurino que parecia inspirado na Maga Patológika, personagem da Disney - mas seu comportamento chamou atenção: parecia distante, e pouco envolvida, especialmente em comparação com outras primeiras-damas em ocasiões similares. Baixava com frequência a cabeça, o que, combinado ao efeito tapador do chapéu, acabou por esconder-lhe totalmente o rosto.

    Se analisarmos Trump sob a ótica do narcisismo, é plausível que ele não gostasse da ideia de sua esposa receber mais atenção do que ele. Narcisistas frequentemente veem seus parceiros como extensões de si mesmos, não como indivíduos independentes. Eles podem querer que sua beleza os complemente, mas nunca os ofusque. Assim, embora não haja evidências de que Trump tenha “vestido” Melania de negro ou tentado escondê-la na posse, o comportamento do casal naquele dia, aliado à dinâmica narcisista que ele demonstra publicamente, levanta a possibilidade de que ele não queira dividir os holofotes – nem mesmo com a própria esposa.

    Gente narcísica costuma ser partidária daquele velho ditado: “Falem mal, mas falem de mim”. Para eles, pouco ou nada importa o conteúdo do comentário, seja ele bom ou ruim, positivo ou negativo. Interessa apenas o ruído. Sem o alarido que eles mesmos provocam com suas atitudes extremadas, se sentem diminuídos e enfraquecidos. Simplesmente porque não sabem de onde tirar mais energia para fazer o circo continuar a pegar fogo.

    Mas há, por sorte, uma ação capaz de neutralizar a exibição narcísica: o ostracismo. Ser ignorado ou excluído socialmente é um dos maiores temores de uma pessoa com traços narcisistas, especialmente aquelas com Transtorno de Personalidade Narcisista (TPN). Isso ocorre porque os narcisistas dependem excessivamente da validação externa para sustentar sua autoimagem grandiosa.

    Quando são ignorados ou excluídos, eles podem sentir uma intensa ferida narcísica, que pode se manifestar em raiva, ressentimento ou desespero. A falta de atenção os confronta com sua própria insegurança e vazio interno, algo que tentam evitar a todo custo.

    Além do ostracismo, existem outras coisas que costumam aterrorizar um narcisista. Entre elas estão:

    Críticas ou rejeição – Especialmente se questionam sua grandiosidade. Fracasso ou humilhação pública – Perder status ou ser visto como inferior. Perda de controle sobre os outros – Narcisistas gostam de manipular e influenciar. Indiferença – Preferem até atenção negativa a serem ignorados.

    Se você estiver lidando com um narcisista – e parece que, no momento, em nível mundial, todos nos estamos, a melhor estratégia pode ser justamente o “silêncio cinza” ou o “contato zero”, pois sem combustível emocional, eles tendem a perder o interesse.

    Não devemos esquecer que o ostracismo pode ser usado como arma política poderosa. Ele tem sido usado ao longo da história para enfraquecer adversários, silenciar vozes dissidentes e consolidar o poder de determinados grupos ou líderes.

    Estes são modos de como o ostracismo é usado na política:

    Exclusão de opositores – Governos autoritários e até democráticos podem marginalizar figuras políticas ao ignorá-las, dificultar sua presença na mídia ou excluí-las de processos decisórios. Exemplo: Líderes políticos são “apagados” da história ou afastados de cargos sem violência direta, mas por meio de isolamento.

    Boicote midiático – Controlar a narrativa ao impedir que um oponente tenha espaço na mídia ou nas redes sociais. Exemplo: Bloqueio de perfis, censura de discursos e retirada de entrevistas de circulação.

    Cancelamento social e político – Criar um ambiente onde um político ou figura pública se torne “tóxico” para alianças, forçando-o ao exílio político ou social. Exemplo: Partidos políticos deixam de apoiar uma figura por pressão pública, tornando-a irrelevante.

    Exílio e banimento – Em regimes mais extremos, líderes políticos usam o ostracismo para afastar críticos fisicamente, forçando-os ao exílio ou proibindo sua participação na política. Exemplo: Na Grécia Antiga, o ostracismo era literalmente um mecanismo legal para exilar figuras vistas como ameaças à democracia.

    Isolamento dentro do próprio governo – Um líder pode esvaziar o poder de um rival dentro de sua administração, ignorando suas opiniões ou retirando suas funções, sem demiti-lo diretamente. Exemplo: Presidentes que reduzem a influência de ministros indesejados, deixando-os “de lado”.

    Esses seriam recursos usados apenas no passado, na época de Maquiavel e dos seus príncipes autocratas? De jeito nenhum, o ostracismo é largamente usado como estratégia política hoje. No mundo moderno, o ostracismo político ocorre com frequência, muitas vezes disfarçado de decisões administrativas, narrativas midiáticas ou pressão social. Redes sociais e grandes plataformas também são usadas para tornar invisíveis certos discursos e fortalecer outros.

    O ostracismo é uma arma eficaz porque não exige confronto direto—em vez de destruir um oponente, ela simplesmente o torna irrelevante. Não será chegada a hora de aplicarmos essa vacina anti narcisismo a políticos como Trump e assemelhados?

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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