Palavras certeiras de Marieta
"A condução literalmente demencial imposta ao país nos levou a situações não apenas inéditas, mas principalmente desesperadoras", escreve o jornalista Eric Nepomuceno
Por Eric Nepomuceno, para o Jornalistas pela Democracia
Leio no domingo 22 de agosto a entrevista que a atriz Marieta Severo concedeu ao jornal O Globo. E, na entrevista, uma frase tão certeira como demolidora. Diz ela: “Nunca senti uma angústia cívica tão profunda, apesar de ser de uma geração que viveu a ditadura”.
Pois eu entendo, ou ao menos espero, que essa angústia se espalhe para além da nossa geração. Que esteja atingindo milhões e milhões de brasileiros minimamente lúcidos e conscientes. Porque o que foi e está sendo destroçado por quem integra o pior e mais nefasto governo da história da República – me atrevo a dizer que, em termos de danos ao país e ao nosso patrimônio, é pior até mesmo que os tempos da ditadura tão elogiada por Jair Messias e a corja agrupada ao seu redor – levará um tempo enorme para ser refeito. E isso, para refazer o que for possível.
A condução literalmente demencial imposta ao país nos levou a situações não apenas inéditas, mas principalmente desesperadoras. E basta observar a conduta cada vez mais desvairada do presidente para entender que para ele, não existe limite na sua guerra pela sobrevivência.
Jair Messias sabe que sem as respectivas imunidades asseguradas pelos cargos que ocupam, e para os quais foram eleitos, ele e seus rebentos abjetos terão como destino inevitável a cadeia.
Sabe cada vez mais que conta apenas e tão somente com o apoio dos setores mais primatas e fanatizados de apoiadores. Que há contingentes de policiais militares e oficiais da ativa de baixas patentes dispostos a fazer o que ele propõe, ou seja, violência nas ruas. Mas também sabe que não conta com quem realmente poderia desfechar um golpe e mantê-lo na poltrona presidencial, o alto mando do Exército. Pode até ser que imponham um golpe, mas não para manter Jair Messias no poder.
Sabe, enfim, que está acuado. E sabemos nós que, como todo psicopata, quando acuado ataca de maneira mais furiosa.
O quadro que o país vive mostra, além do pior governo da história da República, que chegamos a um elevadíssimo grau de podridão atingindo parte substancial dos partidos políticos, com escassíssimos antecedentes nas últimas décadas, ao menos desde a retomada da democracia, em 1985.
A facilidade com que Jair Messias, para tentar sobreviver, distribui carradas de dinheiro público, além de ministérios, indica que não há limites para a políticos carentes de qualquer escrúpulo, cuja subserviência é determinada pelo apetite dos bolsos e bolsas.
Diante da incerteza que paira sobre nós não fazendo mais que crescer, diante do temor do que possa fazer o psicopata, da ruína da economia, da corrosão dos empregos – e isso, sem mencionar o drama da pandemia –, não nos resta mais que a indignação sem volta e a busca urgente de meios de fazer extirpar Jair Messias e toda sua cambada. Absolutamente toda.
E é daí que vem aquilo que Marieta classifica de maneira irretocável: uma angústia cívica, a mais profunda que ela e eu vivemos. E, espero, milhões de brasileiros mais. Porque tomar consciência dessa angústia é uma das armas necessárias para a batalha pela retomada do futuro que nos é roubado a cada hora de cada dia.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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