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    Rodolfo Fiorucci

    Doutor em História pela UFG, docente no Instituto Federal do Paraná – IF Jacarezinho

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    Para entender a guerra Ucrânia-Rússia em alguns atos

    Putin não é santo, tampouco Biden e outras lideranças europeias

    Joe Biden e Vladimir Putin (Foto: Reuters)

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    PRÓLOGO – aos asnos zurrantes

    a) Antes de qualquer crítica fica aqui esclarecido: a guerra é deplorável. Uma situação na qual jovens pobres se matam, economias são destruídas e os magnatas assistem a tudo de suas torres de marfim.

    b) Putin não é santo, tampouco Biden e outras lideranças europeias. 

    c) Esse texto dispensa as opiniões rasas de intelectuais de redes sociais ou de “especialistas” de balcão da Globo News. Cabe aqui apenas relatar episódios contextuais que levaram à guerra. 

    ATO 1

    Em 1991, após o fim da URSS, as conversações entre EUA e Rússia apontavam para uma não expansão da OTAN para o leste europeu. A própria diplomacia estadunidense alertava para o risco dessa ousadia, como no conhecido telegrama do diplomata James Collins, quando advertiu que a expansão da OTAN para o leste soaria como uma ameaça à Rússia.

    Independente disso, desde 1990, a OTAN já englobou vários países da antiga URSS e de membros do extinto Pacto de Varsóvia. Tal movimento vem sendo denunciado pela Rússia há tempos, como por exemplo num encontro entre os presidentes russo e estadunidense, em 1997, quando Boris Yeltsin disse à Bill Clinton que a “expansão da OTAN para o leste é um erro, e um erro sério”. 

    ATO 2

    Desde a independência da Ucrânia, em 1991, houve um embate entre regiões ucranianas que defendiam ou uma aproximação com o ocidente (centro-oeste) ou aproximação com a Rússia (leste e sul). Os EUA, no projeto de isolar a Rússia, financiou o que se chamou de “revolução laranja”, movimento que levou centenas de milhares de ucranianos à praça Maidan, em 2004, em defesa do candidato à presidente Yushchenko, com ligações ao Ocidente. Yushchenko tomou posse mesmo sob várias acusações de fraudes eleitorais. 

    Yushchenko, em seu governo, escolheu Yulia Timoshenko como 1ª Ministra, o que se revelou um problema. Timoshenko forçava políticas neoliberais e a aproximação com o ocidente de forma acelerada, o que acabou gerando divergências com o presidente e sua saída do cargo.

    Nas eleições de 2010 a disputa se deu entre Yushchenko (que apoiava a aproximação com a OTAN), Timoshenko (Pró Ocidente também) e Viktor Yanukovych (que defendia a não adesão à OTAN).

    Viktor Yanukovych venceu apoiado pelo Leste “pró-Rússia”, mantendo negociações e proximidade com a OTAN, contudo sem se render às pressões ocidentais. Quando se recusou a assinar um acordo que abriria o processo de entrada da Ucrânia na OTAN, uma “revolução colorida” (2013) foi armada para derrubar o governo. Jovens influenciados por instituições e ONGs estadunidenses passaram a levantar a bandeira do EuroMaidan (que exigia a entrada da Ucrânia na União Europeia). 

    Não havia maioria sobre essa tentativa de aproximação com a Europa, pois o país estava dividido. O governo reagiu aos protestos e as batalhas em Kiev causaram dezenas de mortes. O caos levou à derrubada do governo contrário ao ingresso na OTAN e colocou no poder Petro Poroshenko, pró-Ocidente. 

    ATO 3

    Com a política estadunidense-europeia de fomento de ódio para derrubar governos via revoluções coloridas, vem se criando um perigoso crescimento da extrema-direita neonazista pelo mundo. Para alcançar seus interesses econômicos os EUA e Europa Ocidental financiam grupos extremistas que tensionam a política dos países com discursos de ódio e fake news. 

    Na Ucrânia, após as manifestações do EuroMaidan, a extrema direita nazista ganhou força e passou a atuar como um grupo paramilitar de combate às regiões leste e sul da Ucrânia, que tem raízes russas. O mais destacado foi o Batalhão de Azov, comandado pelo chamado Fuhrer branco, Andriy Biletsky.

    O novo governo ucraniano pró-ocidente incorporou esse batalhão para atuar junto da Guarda Nacional, fechando os olhos para os diversos crimes e assassinatos que esse grupo cometeu contra a população ucraniana da região de Donbass, desde 2014. Um dos atos mais bárbaros foi o ataque ao Sindicato na cidade de Odessa, em que deixaram mais de 400 feridos, além de 42 pessoas mortas incendiadas. Mais de 13 mil pessoas já foram mortas nessas incursões.

    Esse batalhão passou a receber nazistas de todo o mundo para atuar na Ucrânia (inclusive brasileiros), com o discurso de que são voluntários para lutar contra os russos. Sob essa justificativa cometem crimes, violências, assassinatos e estupros no leste ucraniano. Seu líder Biletsky, em entrevista ao jornal The Guardian, em 2018, disse que o Azov lideraria a cruzada final da raça branca contra os sub-humanos.

    ATO 4

    Nesse cenário em que o ódio ascendeu estimulando uma bipolarização na Ucrânia, um comediante que se dizia não-político apareceu como candidato e ganhou as eleições, em 2019. Volodimir Zelenski se elegeu dizendo lutar contra a corrupção e contra o sistema. Sujeito sem nenhuma experiência política, Zelenski se tornou um fantoche na mão da extrema-direita ucraniana e das nações imperialistas ocidentais. 

    Os EUA se valeram das limitações de Zelenski para empurrar a Ucrânia numa situação de guerra com a Rússia, forçando a entrada do país na OTAN, o que transformaria a Ucrânia numa base militar do ocidente nas portas da Rússia. 

    ATO 5

    A guerra vem logo depois de Rússia e China anunciarem um pacto total de união política e econômica e num contexto em que claramente os EUA vem perdendo o papel central de única potência do mundo. 

    Além disso, Biden vinha bem desgastado e com alta rejeição da opinião pública. Uma guerra sempre cai bem para um presidente dos EUA.

    Os EUA empurraram a Rússia e Ucrânia para a Guerra e utilizaram do seu aparato total de comunicação global para passar a imagem de que a Rússia é a vilã e justificar sanções econômicas que estrangulam os russos. 

    A guerra veio a calhar para ao mesmo tempo em que ataca a economia russa e a imagem global de Putin, colocar a China numa situação delicada. Afinal, os chineses dependem de uma situação de paz global para continuarem a ascender como principal potência econômica do planeta. 

    Os EUA e a Europa Ocidental forçaram uma guerra na Ucrânia para enfraquecer o poderio leste-Ásia que vem se tornando imparável e utilizam os mesmos mecanismos de demonização do “inimigo” por meio dos veículos de comunicação do ocidente que agem como sabujos do capital.

    CENA FINAL

    EUA e União Europeia estão enviando armas para grupos armados nazistas lutarem contra russos e ucranianos do leste e conseguem fazer isso parecer lindo nos jornais do mundo todo. 

    Ao mesmo tempo o inepto e irresponsável presidente ucraniano Zelenski empurra a população civil para a batalha, estimulando-os a pegar em armas e lutar contra tropas treinadas russas. 

    Zelenski, o presidente que mantém nazistas assassinos do Azov em seu governo é aplaudido de pé na Assembleia Geral da ONU, enquanto de maneira infantil e anti-diplomática, embaixadores do ocidente viram as costas para o discurso da diplomacia russa.

    É assim que os EUA e Europa são contra a guerra: provocando-a, enviando armas a nazistas e virando as costas para a diplomacia.  

    EPÍLOGO – ao jornalista de aluguel

    Jornalistas de cativeiro no mundo todo constroem uma fantasia em torno da guerra na Ucrânia. Simplificam uma questão geopolítica tão complexa a um simplório jogo de bem contra o mal; do mocinho contra o bandido; de Ocidente contra Oriente.

    Mas nunca, jamais, superarão o jornalista brasileiro que chamou Zelenski de herói. Sim, de HERÓI. Chamou de herói o presidente que atua ao lado de tropas nazistas que assassinam o próprio povo! E a isso, chamam de democracia...

    Dá licença que preciso equilibrar os chacras.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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