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    Para não esquecer: Dia Mundial da Mulher e Revolução

    Na ‘História da Revolução Russa’ Trotsky menciona muitas vezes o papel fundamental das mulheres no processo revolucionário

    Marcha das mulheres em Brasília no eixo monumental - Brasília (DF) 08-03-2023 (Foto: Lula Marques/ Agência Brasil)

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    Assim começa o capítulo 7, intitulado ‘Cinco Dias’, da monumental ‘História da Revolução Russa’ de Leon Trotsky:

    “O dia 23 de fevereiro foi o Dia Internacional da Mulher. Os círculos social-democratas tinham a intenção de marcar este dia de uma maneira geral: por meio de reuniões, discursos, panfletos. Não havia ocorrido a ninguém que ele pudesse se tornar o primeiro dia da revolução. Nem uma única organização convocou greves para esse dia. Além disso, mesmo uma organização Bolchevique das mais militantes - o Comitê do distrito de Vyborg, todos  trabalhadores – se opunha às greves. O temperamento das massas, segundo Kayurov, um dos líderes deste distrito dos trabalhadores, estava muito tenso; qualquer greve ameaçaria se transformar em uma luta aberta. Mas como o comitê achava que o tempo não estava maduro para uma ação militante, o partido não era suficientemente forte e os trabalhadores tinham muito poucos contatos com os soldados - eles decidiram não convocar greves, mas se preparar para uma ação revolucionária em algum tempo indefinido no futuro. Tal foi o rumo seguido pelo comitê na véspera do dia 23 de fevereiro e todos pareceram aceitá-lo.”

    A data 23 de fevereiro utilizada por Trotsky  corresponde ao antigo calendário ainda vigente na Rússia Imperial, 13 dias atrás do calendário ocidental. O texto continua:

    “ Na manhã seguinte, entretanto, apesar de todas as diretrizes, as trabalhadoras  de várias fábricas de tecidos entraram em greve e enviaram delegados aos trabalhadores metalúrgicos pedindo apoio. ‘Com relutância’, escreve Kayurov, ‘os bolcheviques concordaram  e foram seguidos pelos trabalhadores mencheviques e pelos Revolucionários Sociais’. (…) Mas ninguém, positivamente ninguém - podemos afirmar isto categoricamente com base em todos os dados - então pensou que o dia 23 de fevereiro pudesse marcar o início de um impulso decisivo contra o absolutismo. (...) Assim, o fato é que a Revolução de Fevereiro foi iniciada a partir de baixo, superando a resistência de suas próprias organizações revolucionárias, sendo a iniciativa tomada de livre vontade pela parte mais oprimida e humilhada do proletariado, as mulheres trabalhadoras da indústria têxtil (...).”

    Poucas páginas depois, ainda no mesmo capítulo, Trotsky afirma:

    “No dia 23 de fevereiro, sob a bandeira do ‘Dia da Mulher’, começou a longamente contida revolta das massas trabalhadoras de Petrogrado.”

    Que a Revolução Russa tenha começado com uma greve chamada pela “parte mais oprimida e humilhada do proletariado” russo, as mulheres trabalhadoras da indústria têxtil, no Dia Internacional da Mulher, mesmo contra as decisões da direção das organizações dos trabalhadores, como Trotsky teve o cuidado de registrar,  é algo que não podemos esquecer, sobretudo hoje quando  qualquer mudança mais profunda na sociedade nem sequer parece mais fazer parte do imaginário comum. 

    Hoje abrimos mão de princípios, abandonamos a ética, construímos alianças duvidosas com os elementos mais reacionários, tudo para ‘tranquilizar’ o ‘mercado’, ‘acalmar’ os fascistas, em nome da ‘governabilidade’ e dos pequenos ‘avanços’. As mulheres operárias têxteis de Petrogrado não pensaram assim, mesmo contra a ‘cautela’ da direção de suas próprias organizações. Daí a importância decisiva da iniciativa destas mulheres, pois para elas a revolução, uma transformação profunda e ampla da sociedade, sempre esteve presente. 

     É claro que uma revolução precisa de um longo preparo e de  condições concretas para ocorrer, mas também é claro que se a possibilidade da revolução não estiver presente na consciência de um grande número de pessoas, esta nunca vai acontecer. 

    No Brasil de hoje precisamos urgentemente recolocar a transformação profunda da sociedade no horizonte do possível, recuperar a revolução como possibilidade real, ao nosso alcance. Pois a possibilidade da revolução dentro do imaginário comum, das discussões e dos programas políticos, por si só já começa a mobilizar,  organizar e  direcionar as forças sociais necessárias para  a sua realização. 

    Na ‘História da Revolução Russa’ Trotsky menciona muitas vezes o papel fundamental das mulheres no processo revolucionário. Também aqui a ação das mulheres será decisiva para iniciar a ‘longamente contida revolta’ de um povo tão oprimido mas também tão cheio de possibilidades de futuro.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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