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    Roberto R. Martins

    Autor de Liberdade para os Brasileiros – anistia ontem e hoje

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    Para onde vai Campos Neto?

    Acredito que seu destino é ver o sol nascer quadrado

    Roberto Campos Neto (Foto: Reuters/Brendan McDermid)

    Acredito que seu destino é ver o sol nascer quadrado. O mandato de presidente do Banco Central termina neste fim de ano; o TCU já tem iniciativas de investigar alguns de seus desvios; o TRF-1 suspendeu a liminar que o isentava de prestar contas das falcatruas no exterior. Mas isso tudo é só o começo. Assim que possível a PF deverá instaurar o competente inquérito, a justiça haverá de julgá-lo, e um cela, certamente ao lado de seu líder Bolsonaro, estará à sua espera.

    Os crimes de Campos Neto são inúmeros. Claro que, com as investigações, muito mais vai aparecer. Hoje, até juristas e outros nomes renomados, como o historiador Fernando Horta em recente entrevista ao Brasil247, o classificou como "... um sabotador, um criminoso. Precisa, quando sair do Banco Central, responder pelos absurdos que está fazendo". Seu papel como sabotador da economia brasileira, como agente do bolsonarismo infiltrado na estrutura do Estado brasileiro, é mais que evidente. Claro que contando com o apoio dos que se beneficiam com seus crimes: os grandes rentistas! sendo, ele próprio, um deles! Senão vejamos. 

    Ora, o Brasil é o segundo país do mundo com a taxa real de juros mais elevada. O primeiro é a Rússia, um país em guerra. Mas o Brasil está em paz, apenas com conflitos provocados pelos bolsonaristas. É um país em crescimento que já vislumbra a retomada da posição de oitava maior economia do mundo. A inflação está sob controle, desde que Lula retornou ao Planalto e isso sem arrocho nos salários e nas aposentadorias, e com elevação dos programas sociais. Com o novo governo, depois de várias infinitésimas reduções da taxa Selic (a taxa básica de juros que o governo paga aos rentistas que compram seus títulos), o BC congelou a mesma em 10,5%, o que significa um juro real em torno de 6,79%. Claro, com um juro deste, os rentistas lucram muito mais; a economia cresce muito menos; quem deve, paga muito mais! Lucram pois os bancos e todos os que vivem da especulação financeira como o senhor Campos Neto. 

    Quanto ele recebe, “por fora” de bancos e financistas? Quem sabe? Só a PF para descobrir.  Mas por que o senhor Campos Neto tem todo este poder de sabotar os rumos da economia brasileira? Foi o governo do senhor Jair, obviamente, que implantou a “autonomia” do Banco Central; sendo autônomo, mesmo como autarquia federal, ele não se submete ao governo: ao contrário, tem poderes de afrontar o governo! E o presidente e seus diretores, têm mandato certo. O Campos Neto foi indicado pelo inelegível, o mesmo que criou a dita cuja “autonomia”. 

    Ou seja: o Banco Central é autônomo, independente, do governo brasileiro; o governo é eleito pelo povo, logo: a “autonomia” do BC diz respeito a nosso povo. É um órgão que nós pagamos com o nosso imposto, mas sobre o qual não temos nenhuma ingerência! Um sabotador indicado pelo desgoverno anterior, continua, por dois anos, a mandar e desmandar na economia nacional.  Uma das primeiras tentativas de investigação das falcatruas do senhor Campos Neto começou ainda em 2019, quando a Comissão de Ética da Presidência quis saber das denuncias que um jornalista investigativo encontrou bom número de financistas do mundo inteiro, atuando em paraísos fiscais, surrupiando os impostos devidos a seus países. Nesta lista famosa (escândalo da Pandora Papers), estava o nome do sr. Campos Neto. A investigação de quebra de ética começou, mas o dito cujo anti-ético recorreu à justiça e não sabemos em que condições obteve uma liminar que suspendia a investigação. Claro, óbvio e evidente que o financista mantinha contas nestes “paraísos” fiscais e por cá, mantinha elevada a taxa Selic para mais faturar.  Por que óbvio? Quem não deve não teme, mas quem deve? Fica com a orelha em pé, a se esconder... se investigado poderia até perder a boca de presidente do BC.  

    Agora o Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1), por unanimidade de seus membros, suspendeu a dita cuja liminar e a investigação vai correr com liberdade. E o desemprego? O senhor Campos Neto teve o descaramento de declarar, em 10 de junho passado, diante de uma das mais significativas vitórias do governo Lula, quando o desemprego foi reduzido à menor taxa nos últimos 10 anos (7,5%), de que, o “mercado de trabalho apertado”, “gera preocupação”, pode afetar a inflação! Entendam bem, leitores: quanto maior o desemprego, segundo ele, melhor para o grande capital, pois, quanto maior é a oferta, menor é o valor do trabalho! Então, segundo o senhor Campos Neto, é preciso manter um bom “exército industrial de reserva” como Marx chamava os desempregados, para que o valor do trabalho se deprecie e o lucro dos capitalistas seja ainda maior! A fome do povo? Que importa para o senhor Campos Neto? Não faltando caviar e champanhe francesa, tudo bem. O lucro do senhor Campos Neto não está apenas em suas aplicações financeiras nos paraísos fiscais. Ele é membro de uma classe, a classe dos banqueiros, dos especuladores financeiros. 

    Ao favorecer sua classe, ele se auto favorece. E quem sabe quanto ele recebe de propinas ao manter elevados juros que sabotam o desenvolvimento econômico do país, mas favorece banqueiros e especuladores? Além disso ele serve a um projeto político, o projeto do senhor Bolsonaro que, mesmo inelegível mas ainda em liberdade, trama contra o Brasil, tem seus representantes menores a quem o senhor Campos Neto procura servir e se alinhar sem a menor vergonha na cara.  

    Mas a ação do senhor Campos Neto contra os interesses da economia nacional e a favor do mercado financeiro não fica por aí. A ata da última reunião da diretoria do Banco Central deixa claro, pela unanimidade (sic!) de seus membros, que os juros ainda poderão aumentar este ano. Expressamente a diretoria “reforçou que não hesitará em elevar a taxa de juros para assegurar a convergência da inflação à meta se julgar apropriado". Entendam, brasileiros, quem julga “o apropriado” não são os interesses do povo, nem da economia, nem do governo brasileiro: mas uma diretoria presidida por um sabotador! Além disso, por sua iniciativa, circula no Congresso Nacional uma proposta de emenda constitucional – a PEC-65/2023 – que amplia a dita “autonomia” do Banco Central, ou seja: constitucionaliza da independência do BC face aos interesses nacionais e o subordina por inteiro aos interesses dos especuladores financeiros!

     Mas o mandato do senhor Campos Neto está chegando ao fim. Perderá toda a imunidade. Poderá ser investigado, processado, condenado. Assim espero, assim esperam os funcionários do BC, o Brasil e nossa economia que quer mais prosperidade.

     

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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