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    Pedro Benedito Maciel Neto

    Pedro Benedito Maciel Neto é advogado, autor de “Reflexões sobre o estudo do Direito”, Ed. Komedi, 2007.

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    Para vencer a toxicidade informacional

    A extrema-direita está vencendo a guerra da comunicação. Temos de combatê-los com a verdade e com a tecnologia, as redes

    Fake news (Foto: Wilson Dias / Agência Brasil)

    Normalizando a barbárie - Enquanto cidades europeias eram bombardeadas, judeus confinados em guetos, civis e militares morriam, a revista New York Times publicava uma graciosa matéria ilustrada sobre o refúgio de Hitler nos Alpes de Berchtesgaden, na Alemanha.
    Num tom de neutralidade, a revista normalizava os horrores da guerra e o genocida Hitler, mostrando que ele alternava as questões da guerra com “passeios com seus cães pastores por trilhas majestosas pelas montanhas”, como escreveu Despina Stratigakos.

    É mais ou menos isso que a mídia corporativa faz.

    Isso mesmo o que o jornal dos Mesquita tem feito para atender aos interesses de uma classe e do capitalismo financeiro. Atacam panfletariamente, através de seus editoriais, o governo Lula e, mais recentemente, o STF, dando continuidade ao trabalho subversivo da extrema-direita, que busca descredibilizar toda a institucionalidade, sem propor nada que não seja uma ditadura de extrema-direita, financiada pelos interesses do mercado financeiro e aplaudida histericamente pelo neopentecostalismo. 

    E não se trata de negar o direito/dever da crítica aos governos, mas não é isso que o Estadão faz; o jornal dos Mesquita é instrumento de propaganda do mercado e dos interesses do seu novo sócio, a extrema-direita.

    Um pouco de cinema - O Estadão, nesse nosso universo, faz exatamente o como o Charada, que tem Paul Dano na interpretação do vilão, no filme The Batman de 2022.

    No citado filme, o Charada não propõe nada, não propõe a construção de uma nova sociedade, ele quer apenas destruir, seu modus operandi lembra personagens do naipe de Moro, Deltan e Bolsonaro.

    O Charada faz gera indignação e ódio, o faz denunciando a corrupção das instituições, de agentes públicos e sua relação com o crime de Gotham City, mas não propõe nada, por isso a consequência é o caos, tanto que surgem as milícias, muitos “Charadas” armados, matando inocentes durante o caos provocado pelo próprio vilão.

    Assistam ao filme de quase três horas, é o melhor dos filmes do Batman e contém uma crítica social profunda, assim como uma reflexão importante sobre o erro que representa a atuação de alguém que, mascarado, age como um vingador e à margem da institucionalidade.

    Sobre as críticas do Estadão - O Estadão está errado, pois, o STF não pratica “ativismo”, nem excede suas competências. Na realidade, a corte, ao lado da parte legalista das Forças Armadas e da coligação que levou Lula ao ao terceiro mandato, impediram a ruptura institucional.

    Para um veículo com DNA de extrema-direita e golpista como dos Mesquita, é dolorido ver um operário na presidência, pelo voto e pela terceira vez.

    Noam Chomsky - Antes de falar em “democracia militante” novamente, vale a pena lembrar do Noam Chomsky, que na obra Mídia: propaganda política e manipulação, mostra como o Estado, especialmente o americano, usa a mídia para manipular a sociedade a aceitar e apoiar suas atitudes.

    Segundo o livro, uma das formas mais eficazes é a de criar, por meio da propaganda, um inimigo público; algo ou alguém que represente ameaça e, por isso, precisa ser combatido. Esse cenário representa uma noção distorcida da democracia.

    Chomsky diz que é por meio da mídia que os Estados conseguem produzir e manter esse status quo e Lula, apesar de estar longe de ser um socialista revolucionário, representa e defende os interesses do povo e da classe média, o que colide com os interesses dos “patrões” do Estadão.

    O livro precisa ser lido por todos. 

    Logo no primeiro capítulo, ele mostra os primórdios da propaganda política durante a Primeira Guerra Mundial, quanto o governo norte-americano, por razões econômicas, queria entrar no conflito, mas a população pacifista era contra. Precisava-se, então, criar nas pessoas um sentimento de medo e histeria. A comissão de propaganda governamental conseguiu incutir nos americanos um rancor ficcional contra alemão, o inimigo havia surgido e tinha de ser destruído.

    Com o sucesso do feito midiático, o governo continuou a estratégia dentro de casa, reprimindo movimentos sociais. Quando operários entravam em greve para reivindicar direitos, mesmo com o apoio dos demais setores da sociedade, tinha início um bombardeio propagandístico contra os grevistas, que estariam prejudicando a ordem no país; talvez daí venha a ideia médio-classista de que grevistas são vagabundos, baderneiros, etc. 

    Sobre o mundo das fake news, Chomsky alerta: as pessoas não acreditam mais em nada do que lhes é apresentado; em março de 2018, ele afirmou ao El País que “a desilusão com as estruturas institucionais levou a um ponto em que as pessoas já não acreditam nos fatos. Se você não confia em ninguém, por que tem de confiar nos fatos? Se ninguém faz nada por mim, por que tenho de acreditar em alguém?”.

    O Estadão ajuda na descredibilização institucional e na amplificação do desencanto e da desilusão.

    Triste papel contemporâneo do jornal, do qual divergíamos substancialmente por ser liberal demais, convolado em estúpido panfleto da extrema-direita e do mercado financeiro. 

    O único caminho é a Política - A democracia não pode tolerar os intolerantes, os autocratas, os plutocratas, os coveiros da democracia (Fake News, algoritmos e jornais como o Estadão), nem aceitar as instituições serem capturadas pelo mal (hoje representado pelo bolsonarismo, novo rótulo do integralismo e do fascismo aqui em Terra Brasilis).

    Veículos de mídia como o Estadão devem ser denunciados como o que são: serviçais do sistema.

    Nós, democratas, não podemos tolerar essa gente porque sabemos que os ataques à democracia não ocorrem apenas através de golpes militares ou golpes civis-militares. Atualmente é cada vez mais evidente que os grandes perigos estão nas forças políticas antidemocráticas que, apoiadas pela grande mídia, se infiltram dentro do regime democrático, capturando e destruindo toda a institucionalidade e, pasmem, dentro da legalidade e sem grandes alterações constitucionais.

    No Brasil, o vírus antidemocrático tem nomes: Bolsonaro, Moro e toda a horda de autocratas que os cercam e apoiam.

    Há exemplos recentes de autocratas que chegaram ao poder pelas regras democráticas. Não precisamos citar apenas Hitler; nos EUA, nas Filipinas, Turquia, Hungria, Polônia, Brasil e Argentina, cada um dos eleitos recentes, de Trump a Milei, são personagens que representam o establishment político e econômico, mas que se apresentam como alternativas antissistema e antipolítica, que usam o mesmo método: ofendem adversários; tratam os adversários como inimigos; ignoram o trato democrático e as regras da política; são retoricamente violentos e às vezes fisicamente; mandam jornalistas “calar a boca” (especialmente as mulheres); têm discurso misógino, racista, etarista, sexista, preconceituoso. Mas, para nossa tristeza, vencem as eleições; venceram as eleições municipais em 2016, 2020 e 2024; venceram as eleições de 2018, 2022; vencemos a Presidência da República, mas eles mantêm o controle institucional em todos os níveis.

    Essa é a realidade.

    Mas, se temos o plano de nação mais honesto, se somos os mais justos e generosos, por que os desonestos, injustos e egoístas vencem as eleições?

    Porque, além do que Boaventura Santos chama de “dark Money” - responsável pela eleição das bancadas da bala, da bíblia e do boi -, as fake news, criadas em abundância pelo “gabinete do ódio bolsonarista” e que circulam, grandemente, pelas redes sociais, possuem um alarmante potencial destrutivo que se espalham através da desinformação e da mentira; “Isso é sobretudo grave em países como a Índia e o Brasil, em que as redes sociais, sobretudo o mensageiro WhatsApp (...), são amplamente usadas, a ponto de serem a grande (ou mesmo única) fonte de informação dos cidadãos – no Brasil, 120 milhões de pessoas usam WhatsApp.”, escreveu Boaventura.
    Há uma investigação publicada no New York Times, de 17 de outubro de 2018, que dá conta que das cinquenta imagens virais dos 357 grupos públicos do WhatsApp em apoio a Bolsonaro, só quatro eram verdadeiras. Essa é a extrema-direita bolsonarista, esse é o método.

    As mentiras difundidas nas redes sociais e nos grupos de whatsApp e Instagram, que tem em si efeito destrutivo, é potencializado pelo tal algoritmo, cálculo matemático que permite definir prioridades e tomar decisões rápidas a partir de grandes séries de dados (big data); no campo político, o algoritmo permite retroalimentar e ampliar a divulgação de um tema que está em alta nas redes sociais e que, por isso, o algoritmo considera ser relevante porque tem aderência junto ao público.

    As “informações” falsas, com alta aderência junto ao público graças ao uso do algoritmo, são fruto de gigantesca manipulação informacional levada a cabo por redes de robôs e de perfis automatizados que difundem a milhões de pessoas notícias falsas e comentários a favor ou contra determinado candidato, tornando-o artificialmente popular e, assim, levando-o a ganhar ainda mais destaque via algoritmo.
    Essa é a democracia 2.0, intoxicada pelas Fake News e pelos algoritmos; Boaventura pergunta: “Sobreviverá a opinião pública a esse tóxico informacional? Terá a informação verdadeira chance de resistir a tal avalanche de falsidades? ”.

    Como vencer a toxicidade informacional? 

    Na minha opinião, a mentira vencemos com a verdade e quem deve empunhar a verdade, a justa e necessária pluralidade de visões e opiniões, é a mídia progressista, é o Brasil 247 e seus pares.

    Mas a extrema-direita está vencendo a guerra da comunicação. Temos de combatê-los com a verdade, como escudo e aríete, e com a tecnologia, as redes, etc., de forma democrática e como instrumento capaz de amplificar a participação cidadã na democracia.

    Essas são as reflexões.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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