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    José Reinaldo Carvalho

    Jornalista, editor internacional do Brasil 247 e da página Resistência: http://www.resistencia.cc

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    Parceria estratégica com a China pode contribuir para industrialização do Brasil

    Lula começou a enfrentar o desafio do desenvolvimento. A parceria com a China deve ser vista como uma oportunidade

    (Foto: Brasil 247)

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    José Reinaldo Carvalho, 247 - A cooperação econômica entre a China e o Brasil teve um rápido desenvolvimento e alcançou conquistas nos últimos anos. A China é o maior parceiro comercial do Brasil por 15 anos consecutivos, e nosso país é o primeiro latino-americano a atingir um volume de comércio de mais de US$100 bilhões com a China.

    Produtos agrícolas, minerais e petróleo ainda são os pilares na cooperação econômica e comercial bilateral. Há um lado conjunturalmente positivo, pela contribuição que essa parceria dá à nossa balança comercial. E um aspecto negativo, o fraco efeito na industrialização do país.

    Pela primeira vez na série histórica iniciada em 1997, o Brasil superou a marca de US$ 100 bilhões exportados para um único país: a China. Foram exatos US$ 105,7 bilhões, superiores em mais de US$ 34 bilhões em relação ao total exportado para o segundo maior parceiro comercial do Brasil, os Estados Unidos.

    A corrente de comércio (exportação+importação) sino-brasileira estabeleceu no ano passado outra marca histórica, com um total de US$ 157,490 bilhões, uma alta de +4,9% sobre a cifra totalizada em 2022. 

    Outro dado relevante é que a China foi o destino dos três principais produtos que lideraram a pauta exportadora brasileira no ano passado. O principal deles, a soja em grãos, com exportações totais de US$ 53,241 bilhões (aproximadamente 102 milhões de toneladas embarcadas), teve na China seu maior cliente, com US$ 38,9 bilhões, equivalentes a 73,1% do total exportado.

    Estes dados demonstram que a parceria entre o Brasil e a China tem se mostrado cada vez mais importante no cenário global, com impactos significativos em diversas áreas. É uma parceria estratégica que, se bem aproveitada e consolidada permanentemente, pode se tornar um fator favorável à reindustrialização no Brasil, superando a fase de exportação de commodities de baixo valor agregado. 

    Por óbvio, a reindustrialização no Brasil depende de fatores endógenos e do enfrentamento pelos setores público e privado de vários desafios. O maior ou menor êxito nesse enfrentamento  pode impactar o seu sucesso e a eficácia de um projeto nacional de desenvolvimento. O Brasil tem ainda uma infraestrutura inadequada, com graves problemas de transporte, energia e logística; um baixo nível de investimento em pesquisa e desenvolvimento, numa época em que a inovação é crucial para o sucesso da industrialização 

    Um fator importante a frear o desenvolvimento é o  custo elevado de financiamento, com taxas de juros elevadas. 

    Na época dos desequilíbrios climáticos, um fator crucial são os desafios ambientais. A nossa indústria ainda não é exemplar nas práticas sustentáveis, que exigem investimentos em tecnologias mais limpas e processos produtivos sustentáveis.

    O acúmulo dessas deficiências deixa o Brasil em desvantagem em face da concorrência internacional, cada vez mais acirrada. 

    O governo do presidente Lula começou a enfrentar esses desafios ao lançar nesta semana um novo plano de política industrial com estímulos para empresas nacionais. 

    Estão previstas linhas de crédito, subvenções governamentais, e a exigência de conteúdo local na produção industrial, para fomentar empresas nacionais. Com metas para os próximos dez anos, a nova política é destinada especificamente para seis áreas: agroindústria; bioeconomia; complexo industrial de saúde; infraestrutura, saneamento, moradia e mobilidade; transformação digital; e tecnologia de defesa.

    A nova política industrial orienta-se pela máxima de fortalecer a indústria nacional, com investimentos de mais de R$ 100 bilhões, via Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), por exemplo.

    Enquanto faz o seu “dever de casa”, é justo apostar em que a parceria estratégica com a China desempenhe papel destacado em favor da industrialização do Brasil. 

    A China tem uma população gigantesca e um numeroso mercado consumidor em expansão com cada vez maior poder aquisitivo. O Brasil pode aproveitar esse imenso mercado para impulsionar suas exportações industriais. Setores como alimentos processados, produtos manufaturados e tecnologia podem encontrar fatias de mercado na China, proporcionando um aumento nas exportações e, consequentemente, fomentando a produção industrial nacional.

    A China tem demonstrado um interesse crescente em investir em projetos de infraestrutura em diversos países, como parte da iniciativa "Um cinturão, uma rota". Ao atrair investimentos chineses, o Brasil pode fortalecer sua base de infraestrutura, modernizando portos, estradas e ferrovias. A parceria estratégica com a China pode permitir a transferência de tecnologia, acelerando o desenvolvimento industrial no Brasil. A expertise chinesa em setores como manufatura avançada, inteligência artificial e energias renováveis pode ser valiosa para impulsionar a inovação e a competitividade da indústria brasileira. Acordos bilaterais que incentivem a cooperação tecnológica podem resultar em ganhos significativos para ambos os países. 

    A China tem feito investimentos substanciais em energia renovável e sustentabilidade. Ao colaborar nesses setores, o Brasil pode se beneficiar do conhecimento chinês em tecnologias limpas, promovendo o desenvolvimento de uma indústria sustentável no país. Essa cooperação não apenas impulsionaria a produção industrial, mas também alinharia as atividades industriais brasileiras com os imperativos globais de preservação ambiental. 

    Um setor decisivo é o da inovação, ciência e tecnologia, como se observou no lançamento do plano da nova industrialização. “O Brasil e a China aprofundaram muito o relacionamento na área de Ciência e Tecnologia desde o estabelecimento das relações diplomáticas em 1974, mas há ainda espaço para ampliar a cooperação científica e tecnológica entre ambos os países”, afirmou em entrevista à agência noticiosa chinesa Xinhua a ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos. A ministra considera que a China é um parceiro chave na industrialização e na ciência e tecnologia brasileira. 

    A parceria estratégica entre o Brasil e a China oferece inúmeras oportunidades para impulsionar a industrialização brasileira. Ao aproveitar o mercado consumidor chinês, atrair investimentos, promover a transferência de tecnologia, diversificar parceiros comerciais e colaborar em setores sustentáveis, o Brasil pode fortalecer sua base industrial, promovendo o crescimento econômico sustentável e se posicionando como um participante-chave na economia global. 

    A China é uma importante fonte de investimentos diretos para o Brasil, que possui  um amplo espaço para investimento em hidráulica, ferrovias, rodovias e construção urbana. O investimento chinês no Brasil aumenta rapidamente, cobrindo diversos setores e com formas diversificadas.  Além disso, a China e o Brasil têm amplas perspectivas de cooperação no campo de nova energia. A China tem o equipamento e a tecnologia, assim como apoio financeiro para desenvolver a nova energia, enquanto o Brasil tem recursos de alta qualidade e potencial de mercado, complementando assim os pontos fortes um do outro.

    A parceria com a China deve ser vista como uma oportunidade para o desenvolvimento nacional.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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