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    Igor Corrêa Pereira

    Igor Corrêa Pereira é técnico em assuntos educacionais e mestrando em educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Membro da direção estadual da CTB do Rio Grande do Sul.

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    Parir o futuro

    Só precisamos abrir o rumo. Lutemos a luta parteira de um futuro melhor!

    (Foto: Ricardo Stuckert)

    Há rancor e ressentimento em algumas análises de esquerda. Uma descrença nas pessoas, advinda de brigas com familiares que idolatram um mito grotesco, e nos apoios que vem de onde supomos que deveriam estar do nosso lado. A expressão “pobre de direita” é uma verbalização desse ressentimento. Nesse pequeno texto proponho analisar esse sentimento por outro viés menos azedo. A amargura não é uma boa parteira do futuro. E é com ele o nosso grande compromisso enquanto humanidade.  

    Recorro ao pensamento que inspirou a nação que melhor resistiu a COVID-19, o pensamento de Confúcio. Ele acreditava, em meio a uma China medieval mergulhada na guerra e na violência, que as pessoas são essencialmente boas. Sua natureza boa poderia resultar em práticas virtuosas se fossem corretamente orientadas. No entanto, essa tendência à bondade não significa práticas bondosas invariavelmente. A água pode saciar a sede e irrigar a plantação e também pode inundar as casas e destruir vidas. Da mesma forma pessoas, e principalmente sociedades, podem ser construtivas ou destrutivas. Tudo depende das circunstâncias e das condições materiais e morais. 

    O artista Criolo parece ter usado o pensamento de Confúcio para analisar nosso cotidiano ao cantar em seus versos que as pessoas não são más, elas só estão perdidas e dizer que ainda há tempo. A maioria das pessoas é boa nos anos bons e má nos anos ruins. Não há nada mais determinante de um ano bom ou ruim do que a economia. Refiro-me a economia real, vivida no bolso das pessoas, no ato de ir comprar alimentos, ganhar a vida. 

    A partir de 2013, essa economia começou a piorar. E as pessoas acharam no governo de ocasião, no caso o PT, o culpado perfeito para expiar os efeitos de uma crise econômica global. O que se seguiu não precisa ser repetido. E lá se vão quase dez anos. 

    Nesse período todo se deu a busca nacional por outro caminho para resolver a economia sentida. E um caminho contrário ao que havia antes teve 6 anos de oportunidades. A economia sentida só piorou. 50 milhões de pessoas mal têm o que comer. 

    A mesma sociedade que deu 4 vitórias ao PT, deu uma vitória a sua negação. As famílias que brigaram por política nesses tempos, por mais que tenham se colocado em trincheiras opostas, são produto do mesmo barro, e não há em seus corações uma maldade intrínseca. 

    Um governo capaz de inspirar práticas virtuosas pode surgir dessas eleições. As pessoas tem em si o potencial do que é belo e bom. Precisamos abrir caminho. Começa pela vitória eleitoral, mas é só o primeiro passo. Reconstruir a economia sentida, incutir boas expectativas que orientem a energia vital e a capacidade de luta para causas justas. É possível. 

    O lado de cá precisa ter garra sem ódio. Esperança ao invés de revanchismo. A virtude social é uma construção generosa, ampla. À luta sem briga. Trata-se de abrir o rumo. 

    A bondade intrínseca da maioria de nossa gente brotará novamente. O galo vai insistir em cantar, por que é de sua natureza cantar. Água nova brotará por que é de sua natureza brotar. E a gente vai se amar por que somos vocacionados para o amor. 

    Só precisamos abrir o rumo. Lutemos a luta parteira de um futuro melhor!

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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