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Miguel Paiva

Miguel Paiva é chargista e jornalista, criador de vários personagens e hoje faz parte do coletivo Jornalistas Pela Democracia

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Paris ainda é uma festa?

'A tradição francesa de humanismo, existencialismo, filosofia e psicanálise não pode aceitar os projetos reacionários da extrema direita', escreve Miguel Paiva

Olimpíadas de Paris (Foto: Miguel Paiva)

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Podemos não saber, porém, o que surpreende na festa de abertura dos jogos olímpicos de 2024 é, justamente, a festa. Será possível que um país, ou uma cidade pode votar e tentar eleger uma política de extrema direita tendo essa tendência tão forte à invenção, à variedade, à aceitação de gêneros, à criatividade moderna, à mistura de cores e pessoas como vimos na festa de abertura?

Parece, e é, contraditório. Só posso entender como um costume difundido e estimulado de não comparecimento às urnas. Um país com a riqueza cultural da França não deveria aceitar políticas tão anticulturais como as da direita. Uma tradição francesa de humanismo, existencialismo, filosofia e psicanálise não deveria conseguir conviver com projetos tão reacionários e próximos à barbárie como os projetos da extrema direita.

Não deveria ser um problema a questão migratória. O francês é hoje um povo totalmente miscigenado. Franceses são negros, brancos, muçulmanos e orientais naturalmente. Nasceram ou vivem na Franca e se sentem franceses apesar de preservar suas origens e dar valor a isso.

Foi o que vimos nos atores, dançarinos, cantores e atletas franceses.

A França é grande por conta disso também. A mistura de culturas, de hábitos, de comidas, de roupas e modismos deu à França uma característica moderna como se vê em poucos lugares. Como pode eleger uma gente tão contrária a isso tudo?

O povo francês e quem se ocupa dele deve se interessar novamente por política. Deve voltar às ruas, às reuniões comunitárias, aos livros e ao conhecimento. Essa tradição não pode se perder nas mãos de gente tão rude e primitiva. A cultura francesa corre em nossas veias e nas de todo mundo assim como corre o sangue variado de todas as pessoas que habitam o planeta. O povo não se mistura só onde o totalitarismo prevalece, onde os dogmas religiosos, sobretudo, acabam ditando o comportamento das pessoas.

A França é um dos países mais laicos que conheço. É importante que permaneça assim em defesa de um humanismo que distribui muito mais amor que as religiões. É assim que tem que permanecer para que se possa manter acesa a esperança no futuro, do mesmo jeito que a pira olímpica vai ficar lá acesa e iluminando as mentes que ainda desejam essa luz. É preciso manter esse espírito humanista vivo.

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