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Denise Assis

Jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".

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Passou da hora de se repensar a utilidade do GSI

"Chega de escândalos internacionais com os aviões da presidência", escreve Denise Assis

Gabinete de Segurança Institucional e o ministro da Defesa, José Múcio (Foto: Reprodução / Marcelo Camargo - Agência Brasil)

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Há limite para a incompetência. E o limite é a segurança do governo e do presidente da República. Em um governo progressista, em que os cuidados deveriam ser redobrados, o que se vê é a leniência, o despreparo ou a má-fé.

Não se pode admitir – e desde o 8 de janeiro de 2023 é lá que estão os maiores "furos" –, que o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (GSI) leve esse nome, sem que haja cobranças, ônus e punições àqueles que cometem falhas que podem custar vidas.

Não é possível que o general Marcos Antônio Amaro não conheça as regras da responsabilidade, da disciplina e do cumprimento do dever, considerando o extenso currículo que exibe em atividades na segurança presidencial. Não faltam, entre seus pares – militares exímios na exibição do "espírito de corpo" –, aqueles que o cubram de elogios, principalmente no alto comando do Exército. Ele trabalhou com FHC (PSDB), Dilma Rousseff (PT) e recebeu honrarias de Jair Bolsonaro (PL), o que, convenhamos, não deveria ser galardão para ninguém, muito menos para um militar.

Amaro segue no cargo, lépido e fagueiro, mesmo depois de ter mantido, como integrantes do quadro do GSI, dois militantes da escola de golpismo de Augusto Heleno, encarregados de mapear as viagens internacionais de Lula. O tenente do Exército Márcio Alex da Silva, por exemplo, foi escalado pelo GSI para ser o coordenador adjunto da viagem que o presidente Lula fez à África do Sul, entre 22 e 24 de agosto de 2023. Já o suboficial da Marinha, Jefferson Freire, foi auxiliar de coordenação de Lula na viagem à Bélgica, em julho, e na cidade de Salvador (BA), no início de maio do mesmo ano. Alex da Silva, como é conhecido, também foi coordenador adjunto nas viagens de Lula à China, Emirados Árabes Unidos (ambas em abril), Londres (maio), e França (junho). Só e apenas isso, senhores.

E vamos combinar: se as imagens do 8 de janeiro, em que o general GDias, então titular do GSI, aparece rodopiando e servindo água aos depredadores dentro do Planalto, não tivessem vindo a público, é possível que ele ainda estivesse lá. Nas fileiras, a prática é passar a mão na cabeça – vide a não expulsão do capitão terrorista nos idos de 1980.

Não se viu a cara do general Amaro, diretor do GSI, vindo a público explicar por que foi permitido ao presidente Lula viajar em um avião (lata de sardinha) que permaneceu 90 dias em revisão e, mesmo assim, apresentava falhas na telefonia, incapacidade de conexão com a internet e outras avarias, que o obrigaram a pairar sobre o céu da Cidade do México por cinco horas, num vexame internacional.

Quem veio a público, por dever de ofício, foi o comandante da Aeronáutica, Marcelo Damasceno, com platitudes do tipo: "Não descartamos a hipótese de ingestão de pássaro. A aeronave tinha acabado de recolher o trem de pouso, e essa é uma altitude em que pode haver ingestão de pássaro, mas não temos nenhuma indicação", declarou. "Não há sangue, pena ou nada que tenhamos identificado. Ao abrir o motor, pode surgir". Pode. Mas há que ter explicação mais aprofundada que essa, não é, brigadeiro? Conjecturas como essa até nós fazemos.

Mas, antes do comentário superficial do comandante da Aeronáutica, quem deveria se explicar era o chefe do GSI, o general Amaro. Onde deveriam voar penas era na sala do general Amaro! Mas tudo segue igual.

Chega de escândalos internacionais com os aviões da presidência. A sociedade brasileira fica constrangida. O episódio do embarque de 39 quilos de cocaína em um dos aviões da delegação brasileira, naquele governo de triste memória, já foi desleixo suficiente para nos envergonhar. Agora vimos o avião da presidência "urinando" combustível sobre o aeroporto alheio, com os três chefes de Poderes a bordo – quem traçou tal estratégia? Num acidente, ficaríamos acéfalos! – e uma comitiva de ministros, sem que ninguém da "inteligência" responda por isso.

Mal o presidente Lula chegou ao país, ainda abalado com o risco plausível de uma queda de sua aeronave, e já nos deparamos com outra falha vergonhosa! Uma operação que deveria se antecipar a qualquer risco para o presidente durante a eleição – o rastreamento de seu local de votação –, usou um carro alugado, com uma motorista "contratada" (com que credenciais???) e viu o veículo ser roubado, cheio de material do "trabalho de inteligência".

Segundo matéria do jornal O Globo, o carro, roubado na sexta-feira (04/10), foi encontrado por um vigilante de supermercado a cerca de um quilômetro do local do crime. A equipe do GSI estava a serviço na Escola Estadual João Firmino Correia de Araújo, quando a motorista foi rendida por assaltantes, a poucos metros do local. "O homem prestou depoimento e contou que, devido a obras em andamento, o local não possui câmeras de segurança", afirmaram os investigadores. Vexame!

Conforme o portal de notícias R7, além de o carro estar sem seguro, deixaram dentro dele: uma mala com roupas e calçados, uma mochila com notebook, óculos, coldre e porta-carregador, uma maleta com pins de identificação para eventos presidenciais, um terno cinza, carteira, CNH, funcional da Marinha, dois cartões de crédito e crachá da Presidência. Havia ainda mais um crachá, roupa, identificação do GSI, bateria de rádio, celular, caderno operacional, dois relógios de pulso, um colete balístico, mais um celular, outro notebook, fone de ouvido e um iPhone. Uma festa!

Já passou da hora de alguém se debruçar com seriedade sobre a real necessidade de manter esse bando de trapalhões como um apêndice do governo. E não podemos esquecer que, no 8 de janeiro, enquanto GDias fazia as "honras da casa" para os terroristas, os vândalos – como se conhecessem bem as dependências – levaram do GSI: laptops, estojos de armas e munições, todos devidamente etiquetados como bens do patrimônio público e "rastreáveis".

Desses, não temos notícias. O que nos chega é a incontestável incompetência do órgão, sem contar que de lá veio a conspiração golpista do 8 de janeiro. Vamos permitir que o ovo da serpente seja chocado ali, ao lado do gabinete presidencial? Os "empijamados" já começam a se movimentar. Desde ontem, nas redes sociais e nos grupos militares, circula um texto "incrementado" do general (de pijama) Luiz Eduardo Paiva Chaves, revigorando o "Projeto de Nação – Brasil 2035", o mesmo que deu suporte às conspirações para o 8 de janeiro de 2023. Ou se organiza essa "bagaça", ou, de vergonha em vergonha, podemos desembocar em desmoralização pior.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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