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    Ricardo Nêggo Tom

    Músico, graduando em jornalismo, locutor, roteirista, produtor e apresentador dos programas "Um Tom de resistência", "30 Minutos" e "22 Horas", na TV 247, e colunista do Brasil 247

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    Pastor Lucinho, e a igreja batista da lagoinha de fogo e enxofre

    "Ele é mais um dos deuses do Olimpo neopentecostal brasileiro", escreve Ricardo Nêggo Tom

    Lucinho Barreto (Foto: Reprodução)

    Os empresários da fé evangélica continuam se superando. Enviados pelo deus que eles criaram à imagem e semelhança de suas idiossincrasias, eles seguem disseminando a teologia do domínio religioso, social, econômico e político, sob a liberdade de culto religioso que a Constituição lhes confere. Eles são pastores, bispos, apóstolos, missionários, coaches, entre outros epítetos, que criaram um mundo de faz de conta dentro do mundo real. Um mundo onde eles, na verdade, acreditam ser deuses que habitam um Olimpo de onde governam milhares de ovelhas crentes em suas palavras, unções e poderes divinos. Nessa versão neopentecostal da mitologia grega, o néctar e a ambrosia que alimentam esses deuses da picaretagem são extraídos do dízimo de seus fiéis servos, que acreditam estarem adorando a Zeus, quando estão sendo induzidos a cultuar Hades.

    O Pastor Lucinho Barreto, que recentemente viralizou nas redes sociais com uma fala, no mínimo, infeliz, com relação à própria filha, poderia ser sincretizado de longe, de bem longe mesmo, com Apolo, devido ao seu instinto caçador. E eu explico melhor o porquê. Lucinho é conhecido no meio evangélico como uma liderança para os jovens e adolescentes, com os quais costuma organizar uma SS evangélica para combater o “mal”. E ele se orgulha tanto do seu nazifascismo religioso, que durante um culto fez questão de relatar uma de suas aventuras com o seu exército juvenil. Deus Lucinho diz aos fiéis que “só vai ter marcha das vadias, parada gay, boate gay e parada dos maconheiros”, se eles quiserem, sugerindo a suas ovelhas a obstruírem tais manifestações. Ou seja, intervirem na liberdade individual dos outros. E o que vem a seguir é muito pior. É o puro suco do racismo e da intolerância religiosa, que, se eu não me engano, é crime previsto por lei.

    O Apolinho da Lagoinha segue o seu relato dizendo que um dia alguém lhe disse que teria a festa do Preto Velho em Belo Horizonte. E ele respondeu: “Como assim? Ninguém me pediu. Não aceito”, e ironizou dizendo que não haveria festa nem do preto velho, nem do preto roxo. Como um deus indignado por não ter sido consultado sobre o evento, ele conta que recorreu ao grupo jovem de sua igreja para recrutar uns soldados para “dar um B.O na festa do capeta” e impedir a cerimônia do culto africano. Se decepcionou ao ouvir dos jovens na faixa de 25 a 28 anos, que aquilo poderia ser errado ética e juridicamente falando, pois constituiria um desrespeito a manifestação de outra religião. Irritou-se e disse aos jovens que não precisava mais deles, porque iria recorrer ao “melhor departamento” que tem dentro de qualquer igreja. O grupo de adolescentes.

    O bolsonarista diz que chega nos adolescentes e propõe: “Estou precisando de uns 20 malucos para dar uma busca e apreensão no preto velho”, no que foi prontamente atendido com um “Uow! É nós, pastor”, enchendo de orgulho a sua alma sebosa e cheia de ódio e o fazendo advertir a plateia para que “não percam o sangue nos olhos” e não ajam como os outros jovens que teriam se acovardado diante da missão proposta e se recusado a dar “uma busca e apreensão no capeta”, se referindo ao preto velho, uma entidade do culto africano. Sob um treinamento que continha entre as instruções vinte dias de jejum e oração, ele preparou os adolescentes para a batalha contra o “mal”. Outra recomendação dada por ele, foi para que os adolescentes fugissem do local caso a Polícia fosse acionada. Uma ungida confissão de crime que até hoje não foi punida pela justiça. Para quem tiver estômago, aqui está o link do vídeo onde Pastor Lucinho convoca o seu Jesus pessoal para destruir o preto velho em BH. https://www.youtube.com/watch?v=GoH2xPLL5dY

    Esse mesmo sujeito já gravou um vídeo simulando cheirar cocaína sobre uma Bíblia, como forma de atrair os jovens para a igreja, e também já comeu páginas da Bíblia durante um culto, para, segundo ele, reproduzir um versículo bíblico que fala de homens que se alimentavam da palavra de Deus. Atitudes coerentes com a personalidade de alguém que tenta tornar lúdico um beijo na boca da própria filha, para ser o primeiro homem a beijá-la, que costumava chamá-la de “mulherão” e dizer “ai se eu te pego” quando ela passava por ele dentro de casa. Como dizem alguns evangélicos: o que é loucura aos olhos dos homens, é sabedoria aos olhos do deus deles. Essa frase explica tudo. Ainda bem que o Deus que eu creio não é tão louco quanto o que eles creem. O fato é que Lucinho Barreto é mais um bolsonarista, cidadão de bem, conservador, defensor da família tradicional e religiosamente racista. Além de sua função dentro do Olimpo neopentecostal brasileiro, ser potencialmente destruidora para a sanidade mental e social da juventude que lidera.

    O tal pastor é apenas um recorte da estupidez e da ignorância que reina dentro da Igreja Batista da Lagoinha. A mesma que tem como principais expoentes os irmãos André e Ana Paula Valadão, que acaba de ser condenada por discurso de ódio contra a população LGBTQIA+, por associar a existência da Aids às relações homossexuais. A mesma pastora já declarou que mulheres gordas precisam jejuar mais no senhor e que homens gordos não combinam com liderança pastoral na igreja. Seria ela a Afrodite do Olimpo evangélico nacional? Seu irmão costuma se dividir entre o púlpito e o armário. Há pouco tempo sugeriu que os evangélicos fizessem a sua parte e dessem um reset na humanidade, como forma de acabar com a existência dos homossexuais. Autofagia gospel, talvez. Vale lembrar ainda, que essa mesma igreja foi a responsável pela ordenação do assassino Guilherme de Pádua como pastor e senhor de muitas vidas que se entregaram a ele para serem abençoadas pelas mesmas mãos que golpearam brutal e covardemente a atriz Daniela Perez, sua então colega de trabalho. Essa é a Igreja Batista da lagoinha de fogo e enxofre.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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