Paulo Guedes torna a crise pior do que já é
Perdido em fantasias ideológicas, ministro da Economia repete o destino de autoridades que jogaram outros países no abismo, escreve Paulo Moreira Leite, do Jornalistas pela Democracia
Por Paulo Moreira Leite, do Jornalistas pela Democracia
Perdido em fantasias ideológicas, ministro da Economia repete o destino de autoridades que jogaram outros países no abismo, escreve Paulo Moreira Leite, do Jornalistas pela Democracia
Todas as proporções assinaladas, Paulo Guedes caminha a passos céleres para desempenhar, na crise de 2020, o papel nefasto e ridículo assumido pelo banqueiro norte-americano Henry Paulson na crise dos derivativos em 2008.
Secretário do Tesouro no governo George W Bush, Paulson fazia o possível para não enxergar o desastre que se aproximava da economia mundial.
Enquanto gigantes do mercado financeiro desmoronavam a sua volta, Paulson mantinha o discurso de sempre. "O pior já passou," chegou a dizer, cinco meses antes da derrocada final dos mercados, assinalada pela queda do Lehman Brothers ("grande demais para quebrar"), que arrastou o planeta ao abismo, do qual a humanidade só seria capaz de sair muitos anos depois, fazendo sacrifícios pesados.
Doze anos mais tarde, quando o coronavírus e a crise do petróleo se encontraram numa esquina improvável do século XXI, alterando para muito pior as placas tectônicas da economia mundial, Paulo Guedes acha que não há nada para fazer -- embora todas as medidas paliativas e socorros improvisados pelo governo tenham se mostrado inúteis para impedir uma tragédia.
A Bolsa caiu 12,17% apesar de duas paradas técnicas: a maior queda desde 1998.Mesmo torrando U$ 3 bilhões de nossas reservas para tentar jogar o valor para baixo, o dólar atingiu a maior alta da história, R$ 4,72. Maior empresa brasileira, a Petrobras perdeu R$ 91 bilhões num único dia. Neste ambiente, a única idéia de Paulo Guedes é dizer que o país precisa prosseguir com as "reformas".O Brasil vai se recuperar "se as coisas certas forem feitas".
E assim por diante, no discurso típico de quem quer nos convencer de que dados terríveis, como o crescimento a 1,1% e desemprego a 12%, indicam que o país está no bom caminho.
Há 12 anos, quando Lula cumpria o segundo mandato presidencial e Guido Mantega era o ministro da Fazenda, a crise dos derivativos teve um percurso original no Brasil. Disposto a transformar o tsunami que vinha de Wall Street numa marolinha, a política econômica deLula-Guido abriu os cofres públicos para a liberação de estímulos generosos. A economia cresceu 5% em 2008, caiu 1,5% em 2009, saltou para 7,5% em 2010. Os trabalhadores mantiveram seus empregos e os empresários foram convencidos a investir -- com crédito de bancos públicos.
"Não é possível pensar, hoje, numa reação igual a de 2008 ", recorda o professor Antonio Correa de Lacerda, presidente do Conselho Federal de Economia. "O governo esvaziou o setor público e nem tem essa perspectiva de uma reação independente. Sua opção é adaptar-se aos movimentos do mercado e sabemos aonde isso vai nos levar".
Com a passividade confortável de quem finge não enxergar a gravidade da situação, o ministro da Paulo Guedes irá ajudar Jair Bolsonaro a tornar a crise de 2020ainda mais destrutiva do que já é. Sua única questão é saber se a oitava economia do mundo, o maior parque industrial da América Latina, irão suportar esse novo desastre.
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