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    Miguel do Rosário

    Jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje

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    Pesquisa CNN/Intel frustra críticos de Lula

    Miguel do Rosário analisa pesquisa que mostra Lula com 51% de aprovação: "deve ter produzido uma grande frustração aos críticos do governo"

    Luiz Inácio Lula da Silva (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

    A nova pesquisa CNN/Atlas Intel, que mostra Lula com 51% de aprovação, traz um enorme alívio para o governo Lula, pois é a primeira após semanas difíceis para o Planalto, ou pelo menos que assim estavam sendo mostradas na mídia.

    Ela também deve ter produzido uma grande frustração aos críticos mais veementes do governo, à direita e à esquerda, que gostariam de ver suas respectivas teses comprovadas. 

    Antes de analisarmos a pesquisa em si, vamos contextualizar o seu ambiente político, e porque ela, efetivamente, veio em tão boa hora. 

    O inferno astral de Lula parecia ter começado já no primeiro de maio, quando a incrível incompetência dos organizadores de um evento em São Paulo expôs o presidente a um fiasco em termos de imagem.

    Depois vieram derrotas no Congresso, tratadas pela mídia – exageradamente, digamos logo – como uma crise terrível na governabilidade. Não eram. Em alguns temas, a oposição tem maioria no Congresso, e o governo vai perder. Não tem nem por que se angustiar demasiadamente com isso. É do jogo. 

    Por outro lado, toda a mobilização social contra a PL do Estuprador deixou claro que o governo Lula não está sozinho. Ele tem uma base social, que está disposta a se mobilizar sempre que a oposição tocar em pontos sensíveis.

    Posso estar sendo otimista demais, mas acho que esse PL do Estuprador foi enterrado pela mobilização social. Será engavetado, na Câmara ou no Senado, e se passar será bloqueado pelo STF, além do veto do próprio Lula. A “pegadinha” cínica e irresponsável que a oposição queria pregar no presidente Lula, de obrigá-lo a fazer alguma manifestação que o pusesse na condição de “abortista”, se voltou contra a própria extrema direita e seu grupo de fundamentalistas religiosos, que receberam a pecha de defender estupradores e agredir as vítimas, em especial crianças violentadas domesticamente. 

    O governo lidou com a polêmica de maneira prudente. Respirou algumas horas, esperou a reação social, e quando detectou a onda de indignação se avolumando, entrou de sola na briga, mas sempre com muito cuidado para não cair em nenhuma casca de banana retórica. 

    De qualquer forma, nenhuma dessas polêmicas no parlamento implicou em nada que atrapalhe a governabilidade ou a condução da economia. Quer dizer, mais recentemente o Senado devolveu um pedido do Ministério da Fazenda de acabar com isenções a vários setores, o que foi considerado como “aumento de impostos”. Isso impõe uma dificuldade orçamentária, mas igualmente não muda muita coisa, pois não é um recurso que se tirou do governo. As isenções já existiam, e apenas continuam a existir. 

    Houve ainda episódios de mal estar de setores da esquerda com declarações de Lula e Haddad, envolvendo a greve das universidades federais e questões fiscais. Lula foi duro com os grevistas, ao dizer que não via necessidade de paralisação, e com isso gerou uma crise quase que “afetiva”, ou “emocional” na sua própria base, com muitos insultos proferidos contra o presidente.

    Haddad, por sua vez, falou em mudanças nos pisos constitucionais de saúde e educação, além da desvinculação de alguns benefícios sociais do ritmo do salário mínimo, e também tomou um pesado “hate” da esquerda. 

    O ministro não defende “acabar” com o pisos constitucionais, mas apenas evitar que cresçam acima de 2,5% ao ano, porque esse é o limite de crescimento dos gastos federais imposto pelo novo marco fiscal, proposto pelo próprio governo Lula, aprovado pelo Congresso Nacional, e que é a nossa nova realidade. 

    Quanto às universidades, o problema estrutural delas vem desde o golpe de 2016, a partir de quando os orçamentos foram cada vez mais espremidos, obrigando as instituições a viver em modo de sobrevivência, sem fazer as reformas necessárias. A greve de agora convenceu o governo a injetar mais de R$ 5 bilhões para começar a resolver esses problemas. A questão dos salários para docentes e técnicos, a negociação avança e todas as propostas sinalizam para uma forte recuperação da renda desses servidores até 2026. 

    Tudo isso gerou a impressão – errada, como veremos – de que o governo Lula estava “derretendo”, e que um processo de instabilidade política voltaria a se instalar no país. 

    Alguns pediam reforma ministerial urgente. Outros alertavam para a possibilidade de impeachment. Aliás, a oposição chegou mesmo a organizar uma manifestação pelo impeachment de Lula e de… Alexandre de Moraes. O evento, contudo, não empolgou muita gente, e acabou por passar a impressão de uma oposição desorientada e descolada da realidade. 

    Vamos à pesquisa CNN/Intel. 

    Segmentação

    Avaliação de Lula, por gênero:

    • Mulheres: aprovam (53,6%); desaprovam (43,6%); não sei (2,8%);
    • Homens: aprovam (47,2%); desaprovam (51,5%); não sei (1,3%).

    Mulheres aprovam mais o desempenho de Lula na Presidência (53,6%) do que os homens (47,2%), segundo a pesquisa AtlasIntel. A discussão sobre o PL do Estuprador pode ter servido, ironicamente, para o governo aumentar mais ainda a sua aprovação entre mulheres. A razão é simples: no afã de criar uma provocação a Lula, a direita colocou em risco a vida e a liberdade de milhões de mulheres, de maneira que ela, a direita, passou a ser vista como um perigo para as mulheres, o que as empurra naturalmente para o outro lado, ou seja, para a esquerda e para a Lula.

    Avaliação de Lula, por nível educacional:

    • Até o ensino fundamental: aprovam (51,8%); desaprovam (48,2%); não sei (0%);
    • Ensino médio: aprovam (45,1%); desaprovam (50,7%); não sei (4,1%);
    • Ensino superior: aprovam (58,1%); desaprovam (40,2%); não sei (1,8%).

    Por nível educacional, a avaliação positiva de Lula é maior entre quem tem ensino superior (58,1%) e menor entre quem tem o ensino médio completo (45,1%). Este dado é particularmente feliz para o governo Lula, porque confirma uma notícia que nem sempre é fácil detectar em pesquisas, embora venha aparecendo cada vez mais, que é reconquista da classe média. Setores importantes da classe média brasileira, especialmente suas franjas mais instruídas, vem se distanciando da extrema direita, provavelmente pelo repúdio crescente ao radicalismo, à truculência e à falta de compostura desse grupo.

    Avaliação de Lula, por idade:

    • De 16 a 34 anos: aprovam (54,1%); desaprovam (39,9%); não sei (6%);
    • De 35 a 44 anos: aprovam (39%); desaprovam (60,4%); não sei (0,6%);
    • De 45 a 59 anos: aprovam (53,1%); desaprovam (46,7%); não sei (0,2%);
    • Acima de 60 anos: aprovam (53,9%); desaprovam (45,8%); não sei (0,3%).

    No quesito idade, a aprovação de Lula supera a desaprovação em todos os segmentos (16 a 34 anos, 45 a 59 e mais de 60 anos), com exceção de um: no dos adultos entre 35 e 44 anos, no qual chega a 39%. È muito interessante esse recorte: por alguma razão sociológica que devemos tentar entender, o bolsonarismo tem uma forte concentração no público masculino de 35 a 44 anos. A alta aprovação de Lula entre jovens de 16 a 34 anos é um trunfo valioso para o presidente, porque formam um eleitorado com grande poder de mobilização nas ruas e nas redes.

    Avaliação de Lula, por região:

    • Nordeste: aprovam (66,3%); desaprovam (27,2%); não sei (6,5%);
    • Norte: aprovam (58,5%); desaprovam (41,3%); não sei (0,2%);
    • Sul: aprovam (46,7%); desaprovam (52,3%); não sei (0,9%);
    • Sudeste: aprovam (39%); desaprovam (60,8%); não sei (0,1%);
    • Centro-Oeste: aprovam (29,2%); desaprovam (70,7%); não sei (0,1%).

    Na região Nordeste, a única a dar maioria de votos a Lula no segundo turno da eleição presidencial de 2022, a aprovação do mandatário é de 66,3%.

    Aqui temos o ponto mais negativo da pesquisa, a meu ver. Lula não pode se conformar com o nível de rejeição que atigiu no Sudeste, região mais populosa do país. Nem isso faz muito sentido. A propósito, a pesquisa parece um pouco fora da curva nesta segmentação. Vamos precisar aguardar outra pesquisa para confirmar os números do sudeste, que parecem exageradamente ruim para Lula.

    Avaliação de Lula, por renda familiar:

    • Até R$ 2 mil: aprovam (48,5%): desaprovam (46,2%); não sei (5,3%);
    • Entre R$ 2 mil e R$ 3 mil: aprovam (56,8%); desaprovam (42,9%); não sei (0,3%);
    • Entre R$ 3 mil e R$ 5 mil: aprovam (43,4%); desaprovam (55,8%); não sei (0,8%);
    • Entre R$ 5 mil e R$ 10 mil: aprovam (50%); desaprovam (49,3%); não sei (0,8%);
    • Acima de R$ 10 mil: aprovam (61,7%); desaprovam (37,5%); não sei (0,8%).

    Por renda, Lula é mais bem avaliado por quem tem rendimentos acima de R$ 10 mil (61,7%) e menos por quem tem renda familiar entre R$ 3 mil e R$ 5 mil (43,4%). Lula definitivamente caiu nas graças das classes médias mais abastadas e instruídas, o que é muito curioso pois é uma inversão total de uma tendência. Se este ponto se confirmar, o PT pode surpreender positivamente nas eleições municipais, porque essa classe média, por ser mais “ativista”, sinaliza tendências eleitorais. É também uma péssima notícia para a extrema direita, porque o seu núcleo duro sempre foram essas camadas. Se isso está mudando no Brasil, então isso pode ser um duro golpe para esses grupos neofascistas – e uma excelente notícia para a nossa democracia.

    Avaliação de Lula, por religião:

    • Católico: aprovam (55,4%); desaprovam (42,6%); não sei (2%);
    • Evangélico: aprovam (29,5%); desaprovam (69,3%); não sei (1,2%);
    • Outra religião: aprovam (56,3%); desaprovam (42,7%); não sei (1%);
    • Crente, mas não tem religião: aprovam (60,2%); desaprovam (32,5%); não sei (7,2%);
    • Agnóstico ou ateu: aprovam (66,8%); desaprovam (33%); não sei (0,3%).

    E na esfera religiosa, o desempenho de Lula é mais bem avaliado entre católicos (55,4%) e menos entre evangélicos (29,5%). A aprovação de 67% entre agnósticos e ateus não deve ser subestimada. Lula se tornou uma referência importante para um grupo pequeno, mas influente, de brasileiros que luta contra o fundamentalismo religioso.

    Eleições 2022

    Entre os que votaram em Lula no segundo turno da eleição de 2022, o presidente tem seu desempenho aprovado por 95,4%.

    Já entre os que depositaram voto no então presidente Jair Bolsonaro (PL), o cenário se inverte: 96,4% desaprovam Lula.

    Entre os que votaram em branco ou nulo naquela oportunidade, Lula é mais aprovado (51,4%) do que desaprovado (43,7%).

    A balança se repete entre os que não votaram no segundo turno: Lula é aprovado por 53% desses brasileiros e desaprovado por 32,3%.

    Avaliação de Lula, de acordo com voto no segundo turno na eleição de 2022:

    • Votou em Lula : aprovam (95,4%); reprovam (2,7%); não sei (1,9%);
    • Votou em Bolsonaro: aprovam (3%); reprovam (96,4%); não sei (0,6%).
    • Voto branco/nulo: aprovam (51,4%); reprovam (43,7%); não sei (4,9%);
    • Não votou: aprovam (53%); reprovam (32,3%); não sei (14,7%).

    Esses números também são bons para Lula, porque mostram que ele tem uma base de eleitores leal, que parece bastante consciente dos problemas e contradições de seu governo, mas que entende a realpolitik necessária para promover avanços reais. E aprova, decididamente, a maneira de Lula conduzir os grandes temas nacionais.

    Áreas do governo, por avaliação:

    • Relações internacionais: ótimo/bom (53%); ruim/péssimo (44%); regular (3%);
    • Investimentos, infraestrutura e obras: ótimo/bom (45%); ruim/péssimo (49%); regular (7%);
    • Redução de pobreza e políticas sociais: ótimo/bom (45%); ruim/péssimo (49%); regular (5%);
    • Turismo, cultura e eventos: ótimo/bom (45%); ruim/péssimo (44%); regular (12%);
    • Direitos humanos e igualdade racial: ótimo/bom (44%); ruim/péssimo (42%); regular (14%);
    • Agricultura: ótimo/bom (44%); ruim/péssimo (48%); regular (8%);
    • Educação: ótimo/bom (42%); ruim/péssimo (49%); regular (10%);
    • Meio ambiente: ótimo/bom (42%); ruim/péssimo (48%); regular (10%);
    • Política industrial e energética: ótimo/bom (41%); ruim/péssimo (45%); regular (14%);
    • Responsabilidade fiscal e controle de gastos: ótimo/bom (39%); ruim/péssimo (54%); regular (8%);
    • Facilidades para negócios/carga tributária: ótimo/bom (38%); ruim/péssimo (50%); regular (13%);
    • Justiça e combate à corrupção: ótimo/bom (37%); ruim/péssimo (52%); regular (12%);
    • Saúde: ótimo/bom (34%); ruim/péssimo (46%); regular (20%);
    • Moradia e urbanização de favelas: ótimo/bom (32%); ruim/péssimo (54%); regular (15%);
    • Transportes, estradas e aeroportos: ótimo/bom (29%); ruim/péssimo (46%); regular (26%);
    • Segurança pública: ótimo/bom (27%); ruim/péssimo (54%); regular (20%).

    Essas sondagens da avaliação por tema nos ajudam a entender a recuperação de Lula na classe média e a aprovação firme que tem entre seus eleitores. Chama atenção, naturalmente, que o tema em que Lula tem a maior aprovação seja o de relações internacionais. Isso reflete a consolidação, na sociedade brasileira, de que Lula estava absolutamente correto em suas críticas a Israel e à sua política de genocídio dos palestinos. Reflete também a satisfação e orgulho com que a maioria dos brasileiros está vendo Lula se converter numa das principais lideranças políticas do mundo, especialmente por seu papel de articulador e porta-voz do Sul Global.

    A soma de algumas porcentagens pode dar um valor diferente de 100% – 99% ou 101% – devido ao arredondamento dos números, sem comprometer a qualidade dos dados.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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