Pesquisas apontam tendência: Bolsonaro tem leve recuperação
"Não é produtivo, nem inteligente, vociferar contra todas as pesquisas que apontam alguma recuperação de Bolsonaro", comenta o jornalista Rodrigo Vianna
Por Rodrigo Vianna
Existe entre setores de esquerda no Brasil uma desconfiança em relação às pesquisas eleitorais que pode levar a um autoengano.
É preciso separar o joio do trigo. Há pesquisas claramente enviesadas, encomendadas para sustentar a ideia de que Bolsonaro avança como um foguete. Sim, há. Mas há também diferenças numéricas provocadas por metodologias diferentes. Importante estar atento a isso.
Não é produtivo, nem inteligente, vociferar contra todas as pesquisas que apontam alguma recuperação de Bolsonaro: “estão compradas, não confio, tudo feito por telefone, Lula já ganhou”.
Alto, lá!
Algumas dessas pesquisas não presenciais (conduzidas por gente respeitada no mercado) apontaram queda de Bolsonaro e ampliação da vantagem de Lula em 2021. Agora, mostram tendência um pouco diferente. Serviam em 2021 e não servem agora?
Muita calma nessa hora.
Parece verdade que pesquisas presenciais captam melhor a intenção de voto porque não subavaliam o público de mais baixa renda: nas pesquisas por internet/telefone, há dificuldade objetiva de se chegar a esse público.
Ainda assim, há várias enquetes feitas por telefone que são sérias e que – ainda que não captem os índices de voto com absoluta precisão – são capazes de captar, sim, as tendências gerais do eleitor. E, convenhamos, com tamanha distância para a eleição, a tendência é mais importante do que o número exato.
Isso tudo pode ser confirmado, em levantamentos presenciais DataFolha, Quaest e IPEC, nas próximas semanas.
Aguardemos... Mas é possível afirmar que o Brasil chega ao Carnaval de 2022 com uma tendência bem delineada nas pesquisas, sejam elas por telefone/internet, sejam presenciais:
- Lula no mesmo lugar, com algo entre 42% e 48% dos votos totais (na média, 45%), é favorito;
- Bolsonaro, com discreta melhora em seus índices, marca de 23% a 28% (na média 25%);
- Moro, em queda ou parado, tem algo entre 6% e 9% (na média, 8%);
- Ciro, no mesmo patamar, tem entre 6% e 9% (na média, 8%);
- Doria, patinando, marca de 1% a 5% (na média, 3%).
O que é importante observar: Moro se torna inviável e Bolsonaro recupera (lentamente) algum terreno.
Esse é um fato que não surge apenas “nas pesquisas fajutas pagas por banqueiros”, ou “nas pesquisas manipuladas, feitas por telefone” – como dizem alguns nas redes.
O papel do jornalista é não brigar com os fatos. E apurar com mais de uma fonte.
Pois bem: há uma semana, ouvi de um dirigente do PT (parlamentar, deputado eleito por estado do Nordeste) a avaliação clara de que Bolsonaro “recuperou uns 5 pontos entre os mais pobres”. Isso surge em levantamentos internos, não divulgados. A explicação desse parlamentar para o fenômeno: Auxílio Brasil e Vale Gás.
Outro movimento parece estar em cena: eleitores conservadores, que haviam migrado para Moro, parecem voltar a Bolsonaro, na medida em que o ex-juiz se mostra inviável.
Esse movimento, tênue ainda, das últimas semanas é suficiente para que Bolsonaro se recupere de maneira estrondosa ao longo de 2022? Não. Até porque a guerra na Ucrânia deve provocar um repique nos preços de combustíveis e, portanto, impactar também preços de alimentos, apagando o pequeno alívio provocado por Vale Gás e auxílio de R$ 400,00.
Mas o quadro atual indica uma eleição que deve entrar na sua reta final com um cenário de Lula 45%, Bolsonaro 30%, Ciro/Doria/Outros 10%, Brancos/Nulos 15%. Com esse cenário, a eleição pode se definir em primeiro turno, mesmo que Lula não alcance patamares ainda mais altos.
Pequenos deslizamentos de voto “útil” podem ser suficientes para que a definição seja antecipada. E lembremos: o voto útil (pela direita) pode beneficiar também Bolsonaro.
Portanto, estejamos preparados para pesquisas em que a diferença de Lula para Bolsonaro se estreite para algo em torno de 15 pontos. Será o suficiente para ganhar (em primeiro ou segundo turno). Mas indica que a extrema-direita seguirá forte por vários anos no Brasil.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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