Players neoliberais no menu da "democracia"
O cardápio está sendo servido, espero que você leitor/eleitor reflita muito bem, para não escolher o fel em lugar do mel.
“Se excluirmos de todos os sistemas de governo registrados ao longo da história os regimes despóticos, nos quais as decisões estão completamente fora do alcance da vontade e influência dos cidadãos, restam para nossa análise dois grandes sistemas de governo: a democracia direta e o sistema representativo. Para traçar a diferença precisa entre eles, é preciso evitar dois erros muito presentes em nosso senso comum. De acordo com o primeiro erro, na democracia direta, o povo, reunido em assembleia, é responsável imediato por todas as decisões. Não haveria, portanto, mandatários, sejam eles eleitos ou escolhidos por sorteio. O problema é que um sistema como esse jamais existiu.
Pelo menos, não é o que os dados disponíveis nos dizem sobre os exemplos históricos de democracia direta, seja na Grécia clássica, seja nos cantões suíços de hoje. Nesses, e em todos os demais casos conhecidos, sempre houve e há funcionários eleitos e/ou sorteados incumbidos de tomar decisões importantes para a comunidade”.
Os debates que se apresentam na frente dos olhos dos “telenautas”, “telespectadores” ou o termo pejorativo que o valha, revelam o quanto ficou fácil para qualquer um adentrar o tapete vermelho da política partidária. O elenco é assombroso, parece até um circo dos horrores, com todo respeito ao fenômeno histórico que o espetáculo circense representa.
Como é fácil brincar de ser um representante do povo. Este povo pobre e herdeiro da colonização, que até hoje cambaleia pelas ruas, com fome, com frio e sem educação de qualidade.
Um país que oferta para seus alunos um ENSINO MÉDIO medíocre e comprometido com os ditames do neoliberalismo não pode gerar políticos de verdade, mas sim players que saem do mundo fantasmagórico das redes sociais, com seus bolsos recheados do dinheiro advindo da audiência sui generis, proporcionada pelos seus ditos seguidores, que neste nicho tecnológico e midiático já o elegem seu santo protetor.
Quanto mais o indivíduo – outsider - for agressivo, com seu leque de narrativas fakes, mais quórum ele alcança. E aí, como será o destino dos trabalhadores brasileiros, dos precarizados nacionais, que nunca perderam o título de Jeca Tatu, vejamos: “Jeca Tatu é o homem do campo real, que leva uma vida miserável nos rincões brasileiros e é praticamente ignorado pelos governantes. É lembrado pelos políticos apenas no momento do voto nas eleições. "O fato mais importante da sua vida é votar no governo. (...) Vota. Não sabe em quem, mas vota. Esfrega a pena no livro eleitoral, arabescando o aranhol de gatafunhos e que chama 'sua graça''', diz Lobato, em um dos trechos do livro: Urupês.
E assim caminhamos sem uma reforma na politicagem de auditório, que vem transformando um possível representante democrático, em um fantoche do neoliberalismo cheio dos guizos da incoerência e do oportunismo; isto se explica pela chamada democracia de audiência, que retorna, portanto, o elemento da confiança pessoal como decisivo da escolha do eleitor. Ao invés de uma escolha partidária previamente determinada, de motivação classista, o eleitor sente-se livre para responder a um leque de ofertas que as diferentes campanhas apresentam. Seu voto passa a ser flutuante e a figura central da política passa a ser a do perito de mídia nas suas várias formas: o marqueteiro, o especialista em pesquisas de opinião, o candidato com talento midiático.
O cardápio está sendo servido, espero que você leitor/eleitor reflita muito bem, para não escolher o fel em lugar do mel.
#ValReiterjornalista
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