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    Hélio B. Costa

    Hélio B. Costa, 77, Bacharel em Ciências Econômicas (Escola Superior de Economia de Praga, Rep. Tcheca), Mestre em Planejamento Econômico (Universidade de Estado em Antuérpia, (Bélgica), Doutor em Ciências (USP). Pesquisador em estudos socioeconômicos, foi professor universitário, consultor de políticas públicas, planejamento, projetos de transportes/ logística e mobilidade urbana. Ocupou cargos de direção no setor público e na academia.

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    Política: os recursos de governo disponíveis ao dirigente público, suas estratégias de atuação e o Governo Lula

    O governo Lula entra na metade de sua gestão. É preciso que nossos dirigentes façam os balanços daquilo que prometeram no seu plano de governo

    Lula na galeria de ex-presidentes do Palácio do Planalto - 9/1/25 (Foto: José Cruz/Agência Brasil)

    Para governar, qualquer líder ou dirigente político - não importa em quais dostrês níveis  de governo - tem à sua disposição uma gama de recursos materiais e imateriais. A busca  por deter e acumular esses recursos fica evidenciada pelo placar do jogo sociopolítico que é indicado pelo nível da correlação de forças de cada um, em determinada  circunstância ou situação. Para obter sua governabilidade sobre o jogo, ele dependerá  de quanto de recursos detém, quer dizer, de seu poder político em relação aos outros  jogadores. Esse placar do jogo é situacional muda a cada instante, a depender das  jogadas dos atores sociais. A alusão desse processo é o jogo de xadrez; mas é também  um jogo de adesão e oposição. Nessa arena, digladiam-se ou se atraem atores sociais  que, por possuírem recursos políticos, econômicos, financeiros, tecnológicos ou de  organização e mobilização, dentre outros, estão aptos a jogar. Só pode jogar e interferir  nesse jogo, quem tem recursos para tanto, quem detém algum poder para influenciar a  mudança situacional do xadrez.  


    Na sociedade, é um jogo constituído pelos representantes de segmentos e de classes  sociais, que se constituem em atores sociais. Esse jogo é também um jogo de  acumulação e perda de recursos, quer dizer, de poder. Por isso, esse jogo tem  ganhadores e perdedores momentâneos, situacionais. Estamos aqui diante de uma  realidade que muda e se transforma constantemente, e até mesmo, de forma  instantânea. É, assim, um jogo situacional que muda a cada jogada dos atores sociais.  Esse é o jogo político da democracia. É um jogo de adversários, mas também de aliados,  portanto, como já referido, um jogo de correlação de forças e de permanente tensão e  espionagens mútuas. Cada ator busca se capacitar, com alianças estratégicas e táticas  para adquirir mais governabilidade a fim de emplacar seus objetivos. Quanto maior  força em seu favor, mais governabilidade e capacidade de governo das situações  representadas pela realidade das conjunturas. Nenhum governante detém 100% de  todos os recursos, mesmo em um regime ditatorial (aqui há, também, a ocorrência de resistências, mesmo que clandestinas). Mas é na democracia que esses recursos estão  distribuídos, de forma desigual, claro, entre os atores sociais que têm capacidade de  interferência na mudança das situações, em seu favor ou não. Podem acumular em uma  jogada tática ou podem perder e, assim, desacumular poder no jogo.

    Como atuar, então, em uma situação política em que não há determinismo (certeza) em  seu resultado, mesmo que momentâneo, mas sim incertezas quanto ao plano almejado?  

    Em artigo anterior, discorri sobre estilos de governar, quais sejam, um tipo mais duro de  agir em que o dirigente político detém muito poder e impõe sua vontade, não reconhece  qualquer oposição, sendo, portanto, um regime ditatorial. Um segundo estilo em que  há o reconhecimento de oponentes (do outro) e se é obrigado a, minimamente, pensar  antes de agir, usando de artimanhas e diversionismo diante de possíveis oponentes para  poder tentar congelar sua ação. E um terceiro, que é o estilo de uma permanente  negociação almejando o consenso entre as partes. Este último é como um verdadeiro  líder esclarecido e democrata atua preponderantemente. 

    Diante desse quadro, podemos alinhar várias estratégias de ação disponíveis a um  governante que atua, em uma democracia. Estamos aludindo a um dirigente que, por  princípio, atua no terceiro estilo acima descrito. Esse modo de governar concede ao líder  grande valor de força moral (credibilidade e confiança) para buscar soluções de  consenso através de uma permanente negociação dos objetivos conflituosos que se  estabelecem em determinadas situações entre os atores sociais do jogo democrático. 

    As estratégias do jogo sociopolítico que um dirigente público pode lançar mão são de  variados aspectos, e que, indubitavelmente, estão presentes na atuação de líderes nos  três estilos de governo. Os recursos disponíveis na sociedade para a efetivação do jogo  político-social são de diferentes dimensões: recursos econômicos e financeiros  (orçamento, máquina estatal, financiamento e investimento), tecnológicos e científicos  (know-how, conhecimento), comunicação social, organização e mobilização da  sociedade ou de aliados e outros ainda. Esses recursos, como já mencionado, são  repartidos entre os atores sociais atuantes no jogo. Alguns atoressão mais hegemônicos  na manipulação de alguns recursos, outros nos demais. 

    A regra do jogo é a acumulação de poder. De fato, cada jogador busca a governabilidade  das situações através dessa estratégica. As táticas são também variadas: alianças entre  os jogadores, dissuasão, dissimulação, cooptação, traição etc. Quem é aliado hoje, pode  ser oponente em outra situação ou indiferente lá adiante.

    Um estadista deve saber usar essas estratégias e táticas. Atrair o oponente para aderir  a seu projeto de governo, através da negociação e há de ter expertise em manejar os  três estilos de governar: o de saber dizer não a determinados pleitos da oposição, o de  lançar mão da postergação das respostas e o de negociar permanentemente, em  determinadas circunstancias, até mesmo como árbitro nas lutas e ambições de outros  jogadores. Em síntese, a atuação de governar pode ser descrita por três determinantes: (i) o Plano  de Governo do dirigente (é o rol de macroproblemas que prometeu resolver ao ser  eleito) (ii) a Governança do Plano (é o manejo dos recursos para realizar os objetivos do  plano- é a gestão do plano – tem a ver com todos os aspectos econômicos) e, (iii) a  Governabilidade do Plano (é a correlação de forças que o governante deve perseguir

    sempre ao longo de sua gestão- é a condução política do Plano, quer dizer do próprio  Governo em si). 

    Como atuar, então na condução do governo? Um bom governante deve estar atento  durante a sua gestão para três tipos de balanços: (a) o balanço político (está mais ligado  à questão de sua governabilidade, que por sua vez reflete o grau de adesão dos atores  sociais a seu projeto de governo; o balanço econômico (está ligado à governança; a  avaliação dos resultados dos indicadores socioeconômicos e a da utilização dos recursos  – foi eficiente, eficaz foi efetivo?) e, finalmente (c) o balanço dos resultados da solução  dos problemas prometidos em seu plano de governo).  


    Esses balanços hão de ser feitos e monitorados de forma permanente em todo o período  da gestão. Fica claro que o grande balanço, ao final do governo, se for deficitário nas três avaliações será a derrocada de seu líder, que se refletirá no resultado de sua  (re)eleição futura. Entretanto, como as situações são carregadas de relatividades, pode  ocorrer que em um ou dois dos balanços a avaliação não seja totalmente deficitária e o  dirigente se torna ainda capacitado a continuar no jogo político. 


    Tudo isso, para dizer de nossa preocupação, como cidadão, sobre a atual conjuntura  política do País. O governo Lula entra, agora, na metade de sua gestão. É preciso que,  urgentemente, nossos dirigentes façam os balanços positivos e os negativos daquilo que  prometeu em seu plano de governo. Ao ver os indicadores, eles nos soam positivos em  determinados aspectos, mas o quer falta ainda? O manejo dos recursos econômicos,  financeiros e de organização é o locus atual das grandes contradições e lutas, que por  sua vez, depende do constante balanço da governabilidade, onde efetivamente se dá a  luta de quem ganha e quem perde.  


    Como será o amanhã? Não nos é dada a capacidade de predizer o futuro. Entretanto, o  homem é o sujeito de sua História e acreditamos que, mesmo na adversidade, ele  poderá moldar uma perspectiva promissora, não em sua totalidade, como gostaria, mas ao menos, em parte. Será, contudo, preciso jogar com destreza e lutar  permanentemente para acumular força.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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