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    Alex Saratt

    Alex Saratt, professor de História nas redes públicas municipal e estadual em Taquara/RS e dirigente sindical do Cpers/Sindicato.

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    Por cima é balangandã, por baixo é mulambo só

    A criança, mesmo crescida e criada, é a força que nos motiva e nos move, usá-la inescrupulosamente para finalidades políticas fanáticas é de uma tristeza profunda. Essa extrema-direita metida a sabichona, aparentemente científica e dialógica, não nos engana mais do que uma fração de segundos. Como naquele samba: por cima é balangandã, por baixo é mulambo só.

    (Foto: REUTERS/Amanda Perobelli)

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    A nova discursiva da extrema-direita é um doce. Dissimulam o negacionismo com uma pompa e destreza de fazer inveja. Vejam vocês, dia desses lia eu um manifesto de pais que defendiam a infância (de seus filhos, óbvio) usando da generalização como recurso matreiro para ter seus interesses e compreensões aceitas pelo conjunto. Respeitosos e preocupados, falavam com zelo irrepreensível sobre a pandemia e a justa e necessária vacinação prioritária dos educadores, mas cientes e ciosos da impossibilidade da mesma, colocavam sem pudor a máxima "já que tá lá dentro, que lá 'teje'", isto é, às favas a tal vacina, quero mesmo é minha criança na escola. 

    A desfaçatez é disfarçada pela manobra espertalhona de apontar uma queda nas taxas de contágio e mortandade, como se não tivéssemos recém visto e vivido uma tragédia várias vezes pior do que qualquer índice anterior e mesmo agora a estatística ainda seja devastadora. Mais: apontam protocolos que não se mostraram suficientes e eficazes (mesmo porque não têm sido cumpridos pelos que se recusam ao isolamento e uso de máscaras, mas confiam verdadeira devoção à cloroquina). O

     mantra do "retorno seguro" e a tendência à normalização sobre o platô do pico de COVID é uma dupla desonestidade, mas soa aos ouvidos como se fosse uma sinfonia. Aliás, o uso do que está errado e não deu certo como referência é outra jogada de mestre dos negacionistas low profile. Falam do funcionamento geral das atividades - um dos gargalos no combate à COVID - como se isso não fosse responsável pelo caos em que vivemos. Lógico que nessa hora, de forma oportunista e conveniente, os pobres e suas crianças passam a existir. 

    Apóiam as piores e mais criminosas políticas de destruição dos direitos sociais e trabalhistas, mas defendem que os filhos dos trabalhadores tenham a escola aberta, ignorando conscientemente a falta de estrutura e a exposição ao contágio. Como no ditado: "no dos outros é refresco". Na superfície, o atendimento de seus propósitos; no fundo, a defesa da linha de ação de Bolsonaro. 

    Tudo isso me provoca um "repuno", como fala o gaúcho, que não fosse minha intimidade com as letras faltariam palavras. A defesa da infância não é pauta ocasional ou conveniente, é princípio, valor, causa, luta, projeto de quem se dedica de fato a um mundo melhor e esse mundo só é possível quando as pessoas são tratadas com dignidade e decência a todo momento, em qualquer circunstância e independente do lugar, jamais por serventia à mesquinhez, muito menos ao fascismo e seus escaninhos

     Seja qual for o arranjo familiar e afetivo, quem ama, cuida, protege, defende, nunca deixa a descoberto e vulnerável aquele e aquela que é seu tesouro mais precioso e cuja vida preenche suas melhores esperanças. 

    A criança, mesmo crescida e criada, é a força que nos motiva e nos move, usá-la inescrupulosamente para finalidades políticas fanáticas é de uma tristeza profunda. Essa extrema-direita metida a sabichona, aparentemente científica e dialógica, não nos engana mais do que uma fração de segundos. Como naquele samba: por cima é balangandã, por baixo é mulambo só.

    #EscolasFechadasVidasPreservadas

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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