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    Marconi Moura de Lima Burum

    Mestre em Direitos Humanos e Cidadania pela UnB, abraçado às epistemologias do Direito Achado na Rua; pós-graduado em Direito Público e graduado em Letras. Foi Secretário de Educação e Cultura em Cidade Ocidental. No Brasil 247, inscreve questões ao debate de uma nova estética civilizatória

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    Por que a eleição de Trump é boa para o Brasil e para o mundo?

    Trump pode ser o início do fim do império americano: um colapso que favorece o Brasil e o mundo

    Benjamin Netanyahu (à esq.) e Donald Trump se reúnem na Casa Branca em 2020 (Foto: TOM BRENNER /REUTERS)

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    “Tudo o que é sólido se desmancha no ar”, já dizia Karl Marx. Nenhum império dura para sempre. Basta! Os Estados Unidos da América, por seus sádicos-cínicos líderes – e com a chancela de seu povo – têm levado crueldade, dor e exploração ao limite a centenas de povos. Por tantas vezes (e guerras), assassinam pessoas inocentes mundo afora. E tudo isso já dura um século. E não suportamos mais. A Palestina (seu povo inocente) não suporta mais. O continente africano, tão dividido intra-nação com guerras civis em diversos territórios seus, conflitos estes patrocinados pelos EUA e outras nações imperiais que doam (vendem) armas ao extremo, e levam destas nações suas riquezas naturais à última “gota”: a África não suporta mais. A América Latina, quase sempre tão instável; vítima das dezenas de golpes e ditaduras militares motivadas pela maldade estadunidense, não suporta mais. Basta!

    Pobreza e miséria; concentração extremista de renda; e um capitalismo cada vez mais selvagem é o legado dos EUA para a humanidade. E mesmo que digam que a ciência, os avanços tecnológicos da comunicação, das indústrias farmacêuticas e aeroespacial também são legados (neste caso, positivo) dos EUA, data vênia, discordarei. Afinal, restaria uma pergunta crucial para uma premissa honesta ao debate: seriam os EUA toda esta potência para o desenvolvimento científico-tecnológico do mundo não fosse cada metal, petróleo, planta (e tantos outros recursos) expropriados dos povos e territórios latinos, africanos, asiáticos, árabes – com toda a semântica de uma maldade sofisticada?

    Então! Começamos este texto com uma frase de impacto. É válido outra sentença para um melhor dizer que não seja o meu próprio. Dessa forma, concordamos que “impérios não são destruídos por forças externas, e sim por fraquezas internas”. Quem nos – estranhamente – ensina isto é a ficção. A frase foi proferida por Lionel Luthor, uma personagem da série “Smallville” que traz uma abordagem sobre um “herói” de gibis, o Super-Homem (aliás, não há nada mais cafona que esse espectro de “salvador” do mundo todo estereotipado: bem “americano” isso!). 

    É verdade que a premissa da frase em questão não é absoluta. Os impérios caem pela potência das circunstâncias (no caso econômico, por exemplo, a ascensão da China ameaça sobremaneira o poderio estadunidense); pela resistência dos povos (tantos os movimentos sociais, ambientais, quanto os organismos de representação dos Direitos Humanos, que mobilizam seus líderes mundiais para fazer contrapontos geopolíticos à arrogância e ignorância dos EUA). Portanto, as forças externas abalam sim as estruturas de um império. No passado, mesmo as guerras de outros impérios que se erguiam, ou de reunião de nações menos potentes eram capazes de fissurar as muralhas de grandes impérios. Com os EUA, ainda que nos arranjos infraestruturais da contemporaneidade, não será diferente.

    Contudo, esta frase do famoso adversário do Super-Homem, na intimidade, o Lex, tem um valor adicional para justificar o título deste texto. Existe um enorme risco, uma variável quase ao limite do verossímil que o próximo Presidente dos EUA (auto)destruirá os EUA. Problematizemos. 

    Faz tempo que este império está cambaleando. Sua economia não responde aos anseios de uma classe média que perdeu muito de seu padrão (do “American Dream”); de pobres cada vez mais pobres; de uma concentração de renda cada vez mais agudizada. E Trump, um bilionário excêntrico e um déspota ignóbil, como não soube governar para o povo no primeiro mandato, também não saberá (e não quererá) no segundo mandato. Com uma vantagem (para ele, claro!)… Agora o “homem alaranjado” terá mais poder, mais capital político (foi avassaladora sua vitória), com uma base maior no Congresso estadunidense, com a maioria dos juízes da Suprema Corte como seus aliados, com mais raiva no coração (não perdoa as instituições e a democracia por não ter implantado seu projeto ditador naquele 6 de janeiro de 2021), e com mais idade (o que deveria lhe dar sabedoria, em seu caso, tende a dar sentimento de urgência à concretização de metas fascistas).

    Ocorre que a variável que não se pode ignorar é o sofrimento de seu povo. Sim, é o mesmo povo que votou no “antissistema”. E sim, é o mesmo povo que está bastante decepcionado com o atual Presidente (Democrata) que não lhes devolveu – com ações concretas – a qualidade de vida e o padrão de consumo que é a máxima cognitiva do existir estadunidense. É um paradoxo, mas um dia – mesmo que para isso haja muita dor no habitar de um tempo histórico – o povo que votou contra o “sistema” porque este lhe faz sofrer, enxergará que Donald é ainda mais sistema (é o suco podre do capitalismo) e, portanto, levará ainda mais pobreza, desemprego e dolorosas agruras ao povo que nele votou. Logo, é muito possível que surja uma “primavera americana”; que haja uma convulsão social; que o país colapse a tal ponto de não-volta – como império.

    Se isso é uma esperança: ver o fim do império? Sim, mas tem base lógica e dado histórico a validar. E, se isso realmente acontecer como (parecido com o) que estou prevendo, finalmente o Brasil e o mundo encontrarão a paz mínima[1]. Até lá é torcer pelo desastre do Governo Trump (isto é, a não-entrega das promessas,:as de vida a seu povo e as de sofrimento aos seus inimigos imaginários)[2], assim, enfraquecendo-o  dia após dia o seu poder e, com isso rezar para que, i) o império sucumba e ii) seu povo – os inocentes – sofram o mínimo possível com essa tragédia que elegeram.[3]

    ………………….

    [1] O que denomino por “paz mínima” é racional e pragmático. Vejamos: o ser humano vive em tensão, em conflito, em disputa porque, a) é da natureza humana a linguagem, esta que permite construir cultura e defender sentimentos; e b) é da natureza da(s) sociedade(s) a diversidade humana, portanto, seu(s) acervos de interesses. Logo, não existe a possibilidade de “paz plena”. O que necessitamos é de “paz mínima”, o que é impossível quando nações super poderosas dominam e espoliam outros povos/territórios.

    [2] Faço uma ressalva ao título e ao conjunto do texto quanto a um perigo real, próximo e extremamente arriscado envolvendo Donald Trump: o risco de não-retorno das questões climáticas e ecológicas. Isto é, o Planeta (a Mãe Terra) está no limite das condições para a vida humana. E o modelo de governo e de existência; a visão política e moral de Trump é o negacionismo. Pior ainda: é a ação concreta para a destruição do Meio Ambiente. Isto, sinceramente, é a única coisa que me assusta com esse traste eleito presidente da nação – ainda – mais poderosa do mundo.

    [3] No mais, o que Trump fará com o mundo é o mesmo que o Biden fez, o Obama fez e o que todos os outros fizeram: impor sua ideologia imperialista – de dor e morte – ao restante dos países, neste particular, os mais pobres.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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