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    Moisés Mendes

    Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

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    Por que a Folha e a velha direita se bolsonarizaram

    O novo Projeto Folha é a defesa da bolsonarização permanente, com vários estágios e hierarquias, de pelo menos um terço dos brasileiros

    (Foto: ABr | Webysther/Wikimedia)

    Bolsonarizar-se não é apenas aderir a Bolsonaro, mas também oferecer-se como base e agarrar-se ao que resultou de quatro anos de fascismo no poder.

    A índole e o espírito da extrema direita são o que interessa, não a figura que os sustentam. Bolsonarizar é um verbo, é uma ação muito mais pragmática do que ideológica.

    Preste atenção no caso da Folha. Dizer que a Folha virou bolsonarista não é o mesmo – é preciso esclarecer a alguns jornalistas – que dizer que o jornal passou a ser seguidor de Bolsonaro.

    Não é nada disso. O bolsonarismo deixou de ser algo com conexão direta com seu criador e já é uma criatura com vida própria, pela desistência de outras alternativas.

    A velha direita bolsonarizou-se ao se acomodar na extrema direita, invertendo o que a História nos contava.

    Aprendemos com a ajuda da teoria dos conjuntos, na quinta série, que extremos estavam dentro dos grandes espaços políticos e sociais, principalmente do centro, mais à direita ou mais à esquerda, porque eram menores do que os redutos que ocupavam, ou não seriam extremos.

    Hoje, é a direita tradicional que se acomoda dentro da extrema direita e dela se serve para se proteger dos medos que a atormentam.

    Não é caricatura, é medo real, é o sentimento da classe média branca de que seu espaço no mundo, achatado entre os pobres que subiam e os ricos que ficavam mais ricos, não oferecia outra saída.

    A saída era bolsonarizar-se. A classe média que um dia até progressista foi desistiu dos seus planos e suas utopias humanistas por causa das dores da decadência.

    E se acomodou ao lado de quem talvez pudesse defendê-la de mais perdas. Por isso o bolsonarismo não é a expressão do que ainda possa ser Bolsonaro. Não é um adjetivo, nem um substantivo, é o verbo.

    Bolsonarizar-se independe de concordar com o pensamento raiz de Bolsonaro, Damares Alves ou Magno Malta.

    Estar bolsonarista é movimentar-se e aderir a uma ideia e suas circunstâncias a partir do que Bolsonaro criou. E agir com vontade bolsonarista.

    Por isso a Folha está bolsonarista e esconde há uma semana o que toda a mídia noticia sobre as joias.

    Por isso a Folha publica editoriais dizendo que o bolsonarismo pode ser uma alternativa saudável na democracia.

    Não, a Folha não concorda com a guerra dos costumes, com a exaltação da tortura, com os ataques a gays. Nem vai bater continência para Bolsonaro. Nada disso.

    A Folha é bacana e descolada. O jornal só concorda com a essência do bolsonarismo de resultados, esse que também mobiliza Roberto Campos Neto e Arthur Lira.

    Porque a Folha imagina que o bolsonarismo pode existir sem Bolsonaro e é até melhor que seja assim.

    Que fique a sua essência política e econômica e fiquem também suas crueldades, porque é preciso fazer concessões morais, ou o bolsonarismo não seria bolsonarismo.

    O bolsonarismo é, na era quase pós-Bolsonaro, o que resta no curto e no médio prazo à direita no combate a Lula.

    Só é possível enfrentar Lula se o bolsonarismo sobreviver, depois que Bolsonaro for tornado inelegível pelo TSE.

    O bolsonarismo político e econômico serve à Faria Lima, aos empresários, a grileiros, a garimpeiros, militares e milicianos.

    Há uma desistência de saídas ao centro ou à direita, com as referências e bases que existiam até antes da eleição de Bolsonaro.

    Todos estão ao lado de Roberto Campos Neto com os juros altos. Todos querem a volta do orçamento secreto gerido por Arthur Lira.

    Todos defendem a paridade internacional dos preços da Petrobras. Ninguém entre eles quer saber de SUS ou de universidade pública.

    Claro que não são pautas do liberalismo, são trincheiras do bolsonarismo. A direita brasileira desistiu de ter vida própria e passou a depender do que o bolsonarismo lhe entrega.

    Por isso ninguém se sensibilizou com o alinhamento de Armínio Fraga, Pedro Malan e Fernando Henrique a Lula nas eleições.

    Porque nenhum deles fala mais em nome dessa direita que admira Paulo Guedes e segue a boiada de Ricardo Salles.

    O que interessa a eles hoje é a sabotagem do governo Lula no nascedouro, para que as eleições municipais comecem a devolver a perspectiva de volta ao poder ou de um golpe.

    Isso é bolsonarizar-se. É admitir que o bolsonarismo deixou de ser provisório.

    A Folha que não dá mais Bolsonaro na capa e que produz manchetes diárias contra Lula quer a audiência e a fidelidade desse público, porque o jornal é parte decisiva da sobrevivência do bolsonarismo sem Bolsonaro.

    A extrema direita passa a ser hospedeira permanente da direita. É triste para quem já teve Fernando Henrique como guru e hoje pensa e se comporta sob as ordens de Valdemar Costa Neto.

    O novo Projeto Folha é a defesa da bolsonarização permanente, com vários estágios e hierarquias, de pelo menos um terço dos brasileiros. É a decadência indigna.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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