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Marina Utsch

Jornalista e permacultora. Co-fundadora do projeto Guia de Permacultura e do espaço LARboratorio, práticas de regeneração e tecnologias sociais como soluções para os desafios do esgotamento global dos recursos naturais. Bolsista da Soil Food Web School.

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Por que não precisamos importar fertilizantes

Quando passamos a acreditar que a ciência está neutra e desprovida de interesses, é quando esse imperialismo se apresenta da forma mais cruel

(Foto: Divulgação)

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Que é injusto que as nações de todo mundo tenham que se submeter à hegemonia econômica e bélica de uns poucos imperialistas no controle das coisas, estamos de acordo.

O que venho trazer aquisão reflexos desse imperialismo na colonização de nossas mentes porque quando passamos a acreditar que a ciência está neutra e desprovida de interesses, é quando esse imperialismo se apresenta da forma mais cruel.

Não precisaríamos ir longe para concluir que podemos produzir muito mais em toneladas de alimento sem adubos químicos e pesticidas. Isso já é feito e provado aqui no Brasil, mas tem difícil acesso à academia, dominada pelo interesse das corporações.

Se descolonizar as mentes e as escolas para escutar o que vem desta terra é tão difícil, pode-se recorrer ao que vem de fora, e só assim, para nosso desapontamento, conseguimos ser ouvidos. 

Com 40 anos de pesquisa em ciência do solo, Elaine Ingham prova que nenhum solo precisa de fertilizantes inorgânicos.  Qualquer componente mineral de que seja composto o solo (argila, areia ou silte) é perfeitamente capaz de prover todos os nutrientes que as plantas necessitam. 

Em outras palavras, cai o paradigma de que as plantas absorvem nutrientes que precisam ser repostos porque vão se exaurindo ao longo de repetidas colheitas.

gráfico 1

Figura 1 - Pesquisador da Universidade do Novo México demonstra que a adição de fertilizantes inorgânicos solúveis não apresentou relação direta com o aumento da produtividade das plantas. Fonte: Johnson, D.C. (n.d.). Soil Microbes: Their Powerful Influence in Agroecosystems. NMSU Institute for Sustainable Agricultural Research (ISAR). [PowerPoint slides].

Na estrutura cristalina de qualquer componente mineral do solo há todos os nutrientes que as plantas necessitam. O que é necessário é que eles sejam solubilizados e disponibilizados às plantas, o que é função da parte biológica (viva) do solo, composta por fungos e bactérias.

gráfico 2

Figura 2 - Já a relação fungos:bactérias do solo é diretamente proporcional à fertilidade

Ou seja, a quantidade de fertilidade de um solo é diretamente proporcional à vida que há nele, à semelhança de um intestino humano que quando bem “colonizado” por uma flora intestinal benéfica, nos dá uma pele e corpo cheios de saúde.

Enfezados que estamos por uma agricultura biocida, pesticida, bactericida e herbicida, ainda não acordamos para o fato de que esta ciência que necessita vender fertilizantes inorgânicos e minerais não é neutra. Ela é filha da segunda guerra. 

Com a mesma tecnologia que possibilitou a adoção em larga escala de explosivos, fazemos hoje a amônia e a ureia inorgânicas, sais que são majoritariamente desperdiçados quando usados como fertilizantes. As plantas absorvem uma pequena parte para crescerem (e pouco saudáveis) e o resto se lixivia causando poluição.

Assim também com o potássio ou o fósforo, aqueles minerais que estampam as manchetes, em função do medo de sua escassez numa nova ordem mundial cheia de sanções ao comércio entre países.  Nutrientes inorgânicos solúveis -a base da agricultura de commodities, filha da chamada “Revolução Verde” e do agronegócio- são totalmente desnecessários em solos saudáveis. Ao se solubilizarem e lixiviarem rapidamente no solo, acabam contaminando as águas. Um desperdício.

Nenhuma extração de potássio ou fósforo, nenhuma síntese de nitrogênio petróleo-dependente seria necessária, se a tecnologia de cuidar da vida do solo já estivesse difundida entre nossos cientistas. Mas a ciência não é neutra.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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