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    Flávio Barbosa

    Cronista, psicanalista

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    Por que se insiste em dizer que Ciro Gomes é de esquerda?

    Ciro está para a esquerda e o campo progressista, repito, como Iago estava para Otelo

    Ciro Gomes (Foto: Reprodução)

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    Ciro Gomes me faz lembrar um personagem de Shakespeare que é o Iago, da obra Otelo. O esforço que o senhor Ciro Gomes dedica à intriga não me lembraria personagem melhor.

    Iago era uma figura pérfida que se movia nas sombras e provocava destruição e escombros nas relações. Se aproximava das pessoas como amigo, mas era o mais íntimo de todos os inimigos que alguém pudesse ter e mesmo imaginar, embora imediatamente não soubesse.

    Ele era um conselheiro do Senhor, mas se sentira preterido por Otelo que escolheu Cassio e não ele para o posto de seu lugar-tenente e dessa forma odiou a ambos, Otelo e Cassio, de modo que jurou vingança aos dois e foi armando suas ações. Inventava situações, conspirações, traições, inimigos e de tal maneira se fazia convincente, inclusive nas provas que jurava possuir para a comprovação de suas armações que deixava a vítima de seus atos atônitos. Claro que essas vítimas nem sempre era tão vítimas assim, pois antes de buscar provas mais robustas, saber da pessoa que se estava sendo atacada o que ela teria a dizer, ao contrário, se deixava enredar pela narrativa de Iago. Este foi o caso de Otelo, um general mouro a serviço de Veneza que desposou Desdêmona, uma jovem branca e de família fidalga de Veneza que à revelia da própria família desposara Otelo, um homem negro. Otelo jurara a Desdêmona amor eterno, no qual era plenamente correspondido, contudo, Iago inventou uma história terrível sobre Desdêmona de que ela traía o general com um amigo dele, o seu lugar-tenente Cassio, e dessa maneira colocou veneno no coração do general que foi passo a passo se deixando conduzir pelas palavras e as supostas provas de Iago, seu conselheiro.

    Iago era meticuloso nas palavras, urdia as situações de tal maneira que as provas pareciam mesmo muito convincentes, assim levou Otelo a ter a princípio dúvidas da mulher que tanta amava e depois essas dúvidas foram se transformando em certezas, ou seja, uma ideia irreversível em sua cabeça que daí em diante só lhe pedia vingança e nada mais, e assim foi. No ápice dos acontecimentos, das conspirações, quando as aparências não poderiam gerar qualquer dúvida dos fatos narrados por Iago, eis que Otelo se vinga da suposta traição da amada e com suas próprias mãos mata Desdêmona.

    Após a execução da amada, Otelo descobre a verdadeira história. Que nada que ouvira de Iago em todo tempo fora real e verdadeiro, mas uma trama sórdida que envenenou sua alma, a que se deixou levar. Odiou a si mesmo e mais ainda a Iago, mas ali ele próprio já era uma alma morta e a vida já não fazia o menor sentido, então suicidou-se sobre o corpo da amada. Iago, descoberto, foi preso.

    Estamos falando de uma ficção de um gênio como Shakespeare que falou da alma humana em seu teatro e dramaturgia como poucos. Evidente que Ciro Gomes não é Iago, mas lembra muito.

    Ciro Gomes arma uma rede de intrigas no campo progressista e de esquerda, cria fatos com a maior maledicência possível, é sórdido e baixo como nenhum político brasileiro que conheço, mesmo esse demônio do Bolsonaro que não tem uma mente tão brilhante para isso. Bolsonaro é direto e objetivo na sua estupidez e delinquência, Ciro não! Ciro é Iago.

    A última dessa lamentável figura foi a trama que criou para jogar Lula contra Dilma, Dilma contra Lula, envenenar o campo progressista e de esquerda contra o Partido dos Trabalhadores (missão que se dedica noite e dia, madrugada adentro), dividir, confundir, jogar uns contra os outros num momento em que devemos estar juntos para enfrentar um inimigo terrível e comum. Ciro aí expôs toda sua sordidez e perfídia. Foi misógino, baixo, aliás, não foi! Ele é assim! E é cada vez mais claro que ele é assim!

    A sua obsessão política: ser presidente do Brasil não encontra limites e escrúpulos no que é capaz de dizer e fazer a lograr êxito em seu intento, e para tal é preciso enfrentar o seu fantasma: Lula... Reitero, Lula não é um simples adversário e/ou inimigo para Ciro, Lula é a materialização de um fantasma de Ciro, daí a sua militância errática inconfundível a demais adversários em qualquer tempo de sua trajetória política.

    Lula é a dimensão da pequenez e leviandade de Ciro, por isso o ódio que o sujeito nutre de seu adversário fantasmático. Ciro precisa projetar em um outro toda a sua incapacidade política e sofreguidão ética, e na sua cabeça perturbada imaginarizou em Lula o grande obstáculo aos seu jogo de poder, ambição e afirmação política.

    Não tendo recursos retóricos mais ricos e elevados para travar a disputa política e eleitoral foi para o terreno que mais conhece e domina que o da derrisão moral, então ataca Lula de tudo: de ladrão, corrupto pra baixo. Precisa afirmar que é competente e único, então diz que Dilma é uma incompetente sem demonstrar um fio de argumento que assegure a despeito dessa assertiva. Mal sabe Ciro que nas sombras de seus ataques na verdade dirige seu discurso em um movimento arco-reflexo a falar de si mesmo.

    A impressão que nos causa é a de que é do próprio Ciro que Ciro fala ao atacar seus inimigos, Lula e Dilma em especial. As propriedades que atribui aos outros são suas e daí sua paixão e perturbação demonstráveis em seu discurso cada vez mais tresloucado e ignóbil. Não há político mais inabilidoso no Brasil, quiçá no mundo. Ciro é óbvio, e só ele ainda não percebeu isso.

    Alguém que tivesse alguma ascendência sobre ele poderia dizer-lhe disso, adverti-lo, chamar a razão, mas parece que não há alguém capaz de fazê-lo, nem Tasso Jereissati, espécie de mentor dele.

    Uma coisa nos intriga e creio que está na hora de se cair na real. Muita gente na esquerda, sobretudo na centro-esquerda alimenta ilusões em relação a Ciro Gomes, inclusive de observá-lo como um político do campo progressista e de esquerda. De onde tiraram isso? Qual é a ética e o discurso de Ciro Gomes que nos faça imaginar ser um político com essas credenciais e identificação?

    Ciro está para a esquerda e o campo progressista, repito, como Iago estava para Otelo. Ele está para separar, desagregar, fazer intrigas e levá-la à humilhação e a derrota. Nada mais! Seu espírito é contaminado porque por mais que tente se esconder em discursos e supostos projetos políticos nacionais-desenvolvimentistas e de contestação ao neoliberalismo, o que Ciro Gomes serve realmente é ao projeto da direita nacional, aliás a sua origem na velha e oligarca Arena dos militares de 1964 é cada vez mais presente em sua trajetória.

    Ciro não passa de um coroné de casaca, como dizemos aqui no Nordeste. Perambulou e rodou por diversos partidos e ideologias absolutamente diferentes e ideologicamente contraditórios da direita mais arcaica à uma esquerda trabalhista e supostamente moderna, como o falecido PDT (que um dia foi um projeto político do respeitável, valente e histórico Leonel Brizola e hoje é apenas um partido moribundo).

    Se pudéssemos dar um conselho a alguém que orbita no campo político, diríamos que jamais desse abrigo a Ciro Gomes, jamais o convidasse a cear em sua casa, aproximá-lo da família, fazer-se amigo, oferecer mesmo a amizade e as confidências. Um dia essa será a munição real ou irreal que Ciro usará contra o seu ex-companheiro político. Por alguma razão perscrutável ou não Ciro o fará inimigo, e usará como munição contra a pessoa o fato de um dia ter participado de sua intimidade, aí ele dirá que sabe tudo sobre o sujeito, as tramas do sujeito, a sua corrupção. Não importa que isso seja verdade ou mentira, pois tendo a trajetória que Ciro tem ele certamente já lidou com toda espécie de político.

    Quando das eleições de 2018 e ele fez o que fez, fugiu para Paris num momento decisivo para a democracia e para o Brasil no segundo turno. Bem, eu me lembro de uns colegas e amigos que se entusiasmaram com os recursos retóricos, o gogó de Ciro Gomes. Lembrei a eles e a elas que Ciro com aqueles gestos e aquela retórica se apresentava como os heróis infantis que povoavam o nosso imaginário então, e nem sempre nos livramos deles na vida adulta, a saber, aquele super-herói que no grito e na força bruta resolverá todos os problemas da nação, até porque ele se apresenta como tendo a receita e a fórmula mágica para essa empresa.

    Perdido aos ventos desde sempre como um biruta de Posto de Gasolina, nunca passou de um dígito nas intenções e realizações de votos à presidência da república, mas gostaria que outros candidatos do campo progressista com uma trajetória de vida de fato consistente renunciassem em seu favor, e quando frustrado em suas ilações, só lhe resta o ódio, a inveja e o despudor com que se dilacera, mas pode causar muito estrago se lhe dão crédito.

    Ciro deveria causar pena, mas só causa asco! E cada vez mais... Não nos iludamos com ele, e não nos custa lembrar de uma frase do Barão de Itararé: “De onde menos se espera, é que nada virá mesmo”.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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