Por uma jornada mais justa e mais humana
"PEC é uma resposta necessária às demandas de uma sociedade que valoriza o bem-estar e a produtividade em equilíbrio"
A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que estabelece o fim da jornada de trabalho 6x1 e institui uma jornada de quatro dias de trabalho e três de descanso é uma vitória significativa para a classe trabalhadora. Esta luta, apoiada pela CUT, pela Contracs e demais entidades sindicais, marca uma trajetória de anos em defesa de uma jornada que priorize não só o bem-estar e a dignidade dos trabalhadores e trabalhadoras, mas também a construção de uma sociedade mais justa e equilibrada.
Ao alcançar as 171 assinaturas necessárias para iniciar a tramitação no Congresso, a PEC deu seu primeiro passo rumo a uma realidade que sempre foi desejada e defendida por aqueles que se dedicam à valorização do trabalho e dos direitos humanos. A luta, no entanto, está apenas começando. Para que a matéria avance no Congresso, será preciso muita mobilização, pressão e união de toda a classe trabalhadora. E é neste ponto que reside a força da nossa luta: cada trabalhador e trabalhadora que se levanta em defesa do 4x3 deve se juntar a essa corrente histórica, que há décadas busca a valorização do trabalho e da vida além dele. Este é um movimento que carrega os valores de justiça social e respeito aos direitos humanos e que seguirá forte até a conquista plena de uma jornada de trabalho digna.
E quanto ao medo – plenamente difundido – de que a proposta acabaria com a economia brasileira e levaria pequenas e médias empresas à falência? Balela! Em 1888, disseram o mesmo sobre a abolição da escravatura, assim como afirmaram que em 1936, a criação de um salário mínimo quebraria o país. Em 1962, não foi diferente e houve forte oposição ao pagamento do 13º. Isso só comprova que, quando é para beneficiar o trabalhador, os esforços da elite dominante são sempre contrários.
Sem contar com as inúmeras experiências exitosas no mundo que já comprovaram que com jornada reduzida, o trabalhador tem melhor desempenho. No Reino Unido, por exemplo, uma iniciativa piloto envolvendo 61 empresas revelou que 71% dos empregados reduziram sintomas de burnout e 54% acharam mais fácil conciliar a vida pessoal e profissional. No Brasil, empresas participantes do projeto da "4 Day Week Brazil" relataram melhorias na energia dos profissionais (82,4%), redução do estresse (62,7%) e aumento da disposição para momentos de lazer (78%). A experiência britânica demonstrou que 92% das firmas continuarão com a semana de quatro dias, enquanto no Brasil, 61,5% das empresas notaram melhoria na execução de projetos, e 58,5% observaram mais criatividade e inovação. Isso reflete que trabalhadores e trabalhadoras mais descansados e menos estressados são, na verdade, mais produtivos e inovadores.
Na realidade, a proposta oferece uma visão coerente com as transformações no mundo do trabalho. Com os avanços tecnológicos e as novas dinâmicas produtivas, não é mais justificável que a classe trabalhadora siga submetida a jornadas exaustivas que comprometem o convívio familiar, o autocuidado e o lazer. Trata-se de um marco que visa respeitar a dignidade humana e que reconhece a importância do tempo livre.
Esta PEC é uma resposta necessária às demandas de uma sociedade que valoriza o bem-estar e a produtividade em equilíbrio. Assim como em outros países, onde já se observam avanços na redução das jornadas de trabalho, comprovando que essa mudança, além de saudável, pode ser proveitosa e sustentável, o Brasil, com sua força de trabalho diversificada e dedicada, também merece avançar nesse sentido, garantindo aos seus trabalhadores e trabalhadoras uma rotina mais digna.
A aprovação desta PEC representa mais do que uma mudança de escala; é uma afirmação de que o nosso país valoriza o trabalho, mas acima de tudo valoriza a vida. Conquistar o fim da jornada 6x1 não será fácil, mas estamos juntos, firmes e determinados. É hora de fazermos história e de garantirmos uma vida melhor para todos, todas e todes.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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