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    Rodrigo Portella Guimaraes

    Graduando da faculdade de direito da USP, e sonhador com um novo Brasil

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    Por uma nova campanha de legalidade

    O maior perigo é aguardar o dia 02 de outubro. A mobilização do campo progressista e popular é tarefa urgente e imediata

    (Foto: Reprodução)

    Os ânimos na política brasileira se encontram acirrados, sobretudo após a subida de tom golpista do atual presidente, em ações que se acumulam até o fatídico dia do lançamento de sua candidatura presidencial. Mas, se o tom radical e engajador emana na extrema-direita, a esquerda brasileira mantém sua linha de realização de eventos públicos regionalizados, voltados aos aplausos de Lula, sem qualquer interesse mobilizante, sendo mais um instrumento para a demonstração da verdadeira estratégia lulista, de conchavos e espera do processo eleitoral. Se este tom se mantiver, o risco da não ocorrência do pleito eleitoral, bem como, a instauração de um regime de exceção são, além de declarados, reais. 

    Jair Bolsonaro, a despeito do ser abjeto que é, possui uma competência relevante de fazer política, nos termos do seu interesse: realizar um golpe. Para tanto, sabe que consolidar uma base social favorável para tal é decisivo. E, a despeito de ser minoria de preferência eleitoral, com elevados índices de rejeição, sua base social, além de não ser pequena, é extremamente mobilizada, por conta do permanente estado de guerra que sua narrativa oferta. Ao lado disso, soube jogar a baixa política, literalmente comprando o apoio da maioria parlamentar, por meio da oferta de emendas, e, agora, almeja fidelizar parte considerável dos despossuídos, em um movimento que se inicia com o auxílio brasil e se materializa com a PEC dos Auxílios. Ao lado deste complexo, filiam-se os articulares públicos das pautas morais e as classes militares, em sua porção majoritária. 

    Hoje, pode-se dizer que Bolsonaro acumula elementos importantes para a realização de um golpe, embora a história da América Latina seja implacável em demonstrar que estes não se realizam sem o apoio sólido das elites econômicas e, sobretudo, do império yankee. Neste campo, faltam sinalizações expressas dos dois setores. Primeiro, há uma certa incerteza da burguesia brasileira que, ao mesmo tempo em que flerta com uma terceira via, promove jantares à Bolsonaro e afirma declarar já ter precificado a vitória de Lula. Para além disso, os EUA, por meio de seus principais porta-vozes, condenam veementemente as declarações de Bolsonaro. Contudo, além do fato de que as declarações norte-americanas não são confiáveis, o apoio do Partido Conservador, com potencial maioria parlamentar e na suprema corte, podem ser elementos a serem trazidos à conjuntura brasileira e que exigem maiores atenções.

    Nestes termos, o dia 07 de setembro tende a ser fundamental. O bicentenário da independência será, inequivocamente, marcado por grandes mobilizações de massa, envolvendo as bases bolsonaristas, que, apesar de estarem em franca decadência, ainda possuem atributos relevantes do ponto de vista quantitativo e qualitativo. Este pessoal fora convocado “pela última vez”, nos termos do fascita que nos governa, para uma bravata golpista a ser aclamada publicamente, por um volumoso público (orgânico ou não). Nestes termos, poucos são os elementos que indiquem que este golpe a) se realizará, ainda em setembro; b) se confirmará, nos dias posteriores. Todavia, a tática do ato é demonstrar força para impetrar um medo social voltado à desmobilização da esquerda, sobretudo, daqueles que não fazem parte de órgãos organizados. 

    Frente a este cenário, o maior perigo é aguardar o dia 02 de outubro. A mobilização do campo progressista e popular é tarefa urgente e imediata, não apenas para demarcar uma oposição, no sentido da negação ao golpismo, mas sim, de demarcar a possibilidade de um outro país, enquanto um grito de encorajamento e esperança às nossas bases. 

    Nestes termos, efetuando-se um giro na história brasileira, percebe-se que as tentativas de ruptura institucional apenas fracassaram quando houve mobilização popular sólida e de massas. Dentro disso, a Campanha da Legalidade representa um dos melhores modelos de análise para o período atual. Na tentativa de golpear João Goulart, após a renúncia de Jânio Quadros, os setores conservadores brasileiros, mediante a permanente narrativa do medo comunista, articularam um levante para impedir a posse do vice-presidente, com amplo protagonismo dos chefes das forças armadas, que obtiveram o caldo das pressões burguesas do momento. 

    Este processo, todavia, não teve sua derrota (parcial), por conta de negociatas ou jogos por cima, mas sim, centralmente, por meio da mobilização popular de base, a partir do estabelecimento da denominada Rede da Legalidade; uma construção majoritariamente popular, com camadas das classes mais baixas, ao lado de uma força militar associada por Leonel Brizola. Deste caldo, o resultado que precisamos compreender é a extremada necessidade de uma construção popular ampla como resposta às tentativas de ruptura institucional, como a única saída plausível, ainda mais, em uma conjuntura que parece ilustrar que as armas estão com os inimigos. 

    Nestes termos, para superar o tom golpista permanentemente presente, a esquerda deverá começar a pautar o debate. E, para que este cenário seja instaurado, apenas a partir do estabelecimento de um calendário de lutas, que consolide a linha de “um pé dentro e um pé fora da institucionalidade”, deveremos mobilizar nossas bases em torno de um projeto comum, antigolpe e que venda, novamente, a esperança à classe trabalhadora brasileira. Apenas com o povo na rua, demonstrando haver alternativa ao caos, as bravatas milicianas irão silenciar e, acima de tudo, demonstrar sua fraqueza frente às potencialidades de um outro Brasil. 

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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