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    Carla Teixeira

    Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em História Membro do Conselho Editorial da Revista Temporalidades - Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG

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    Porquê Bolsonaro é genocida

    "O que Bolsonaro pratica, ao escolher a imunidade de rebanho como resposta ao vírus, é o extermínio de vulneráveis por meio da saúde pública, especialmente a população indígena, preta e pobre", escreve a doutoranda em História pela UFMG Carla Teixeira em resposta a declaração do jornalista Glenn Greenwald

    (Foto: Divulgação)

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    A etimologia da palavra genocídio vem do grego: geno – raça + cídio – matar, referindo-se ao extermínio proposital que mata uma comunidade ou um grupo étnico, religioso, uma cultura ou civilização. Os exemplos históricos mais conhecidos remetem ao genocídio dos povos indígenas das américas e ao assassinato em massa de judeus e outras minorias durante a Segunda Guerra Mundial.

    Em entrevista ao jornal bolsonarista “Gazeta do Povo”, circulado no estado do Paraná, o jornalista estadunidense Gleen Greenwald apontou que considera desonesto dizer que Bolsonaro é genocida e trata tal adjetivação como uma ofensa intelectual e histórica. Para o jornalista, o mesmo se dá com o uso de termos como “racismo” e “misoginia”, cuja exagerada utilização acaba gerando o descrédito.

    À parte o desconforto (e a indignação) que causa ler falas proferidas por um homem branco, rico, cheio de privilégios que se acha no direito de dizer sobre o uso adequado de conceitos que procuram denunciar opressões seculares sofridas por povos violentados, há um completo desserviço nessa entrevista, principalmente quando se leva em conta a realidade que atualmente vive o Brasil e todo o povo brasileiro.  

    Aqui, genocida tornou-se o principal adjetivo (e ao meu ver, historicamente, o mais adequado) para caracterizar o presidente. Como mostrou a recente pesquisa realizada pelo Centro de Estudos e Pesquisas de Direito Sanitário da USP, em parceria com a Conectas Direitos Humanos, houve uma estratégia de propagação da Covid-19 no Brasil, implementada sob a liderança do presidente da República que sempre defendeu a imunidade de rebanho e boicotou as medidas de contenção ao vírus, incluindo o distanciamento social, o uso de máscaras e a vacinação em massa da população.

    De acordo com a pesquisa, a ação do governo se deu em três eixos: primeiro, a propaganda contra a saúde pública por meio de gestos protagonizados pelo próprio presidente, incluindo a propaganda de medicamentos ineficazes com o objetivo de oferecer uma falsa sensação de segurança à população; segundo, combate às iniciativas de governadores e prefeitos, com ameaças de utilizar o Exército contra as medidas de restrições tomadas localmente e o atraso no repasse de recursos; terceiro, a atuação normativa, com a publicação de decretos que definiram como essenciais uma série de atividades durante a pandemia e vetos às principais leis que buscavam conter a disseminação do vírus, principalmente relativas à obrigatoriedade do uso de máscaras e à proteção de indígenas.

    Ainda em julho de 2020, o ministro do STF, Gilmar Mendes, foi o primeiro a denunciar o morticínio em curso. Ao criticar o vazio de comando na pasta da saúde, comandada pelo general Pazuello (até então, ministro interino) e uma corja de milicos sem qualquer competência técnica, Gilmar disse que a situação ligava o Exército ao genocídio causado pela Covid-19 no Brasil, que naquele período sequer contava 100 mil mortes. À época, o ministro foi duramente criticado por militares, sendo alvo de uma contundente nota do ministério da Defesa. Enquadrado pelos fardados, Gilmar se retratou e disse que se referia ao genocídio dos povos indígenas que estavam sendo dizimados pelo vírus.

    Como exposto, é possível perceber que o homicídio em massa tem método e público alvo: são homens, pretos, indígenas, quilombolas e pobres que em sua maioria não têm acesso a atendimento médico adequado e acabam elevando as cifras do genocídio em curso no nosso país. Ao lembrar que o atual presidente se refere publicamente à população preta e quilombola medindo seu peso em arrobas (unidade utilizada para o peso de bois), dizendo que “não servem para nada, nem para procriar”, fica evidente o racismo do atual presidente e o seu completo desprezo pela vida da população preta e pobre deste país.

    De acordo com a jurisprudência penal internacional, as pressões públicas que levem a população civil a agir de determinada maneira, segundo um plano pré-concebido através da mobilização de meios públicos e privados, é considerado um crime contra a humanidade. O que Bolsonaro pratica, ao escolher a imunidade de rebanho como resposta ao vírus, é o extermínio de vulneráveis por meio da saúde pública, especialmente a população indígena, preta e pobre.  

    Hitler construiu campos de concentração e manteve uma intensa propaganda para garantir o sucesso de suas tenebrosas ações contra judeus e outras minorias étnicas. Aqui, Bolsonaro jamais precisou erigir câmaras de gás para sufocar o povo brasileiro. Mais triste do que tais episódios é ler jornalista estrangeiro, que se apresenta como defensor da liberdade e da democracia, passando pano pra genocida em folhetins da extrema-direita.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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