Porto do Açu como território de passagem exportou em 2024 R$ 34,8 bilhões, só em petróleo e minério de ferro
"A exportação de outras mercadorias pelo Açu é irrisória diante do volume de saída dessas duas commodities", escreve Roberto Moraes
Petróleo bruto (valor equivalente a US$ 3,558 bilhões ou R$ 21,5 bilhões) e minério de ferro (valor equivalente a US$ 2,154 bilhões ou R$ 13,1 bilhões) foram as duas mercadorias mais movimentadas e exportadas pelo Porto do Açu, São João da Barra, RJ. As exportações de petróleo (62%) e minério de ferro (38%), somadas em valores US$ FOB, chegaram em 2024 no Porto do Açu a US$ 5,712 bilhões ou R$ 34,8 bilhões.
A exportação de outras mercadorias pelo Açu é irrisória diante do volume de saída dessas duas commodities. O volume de importações que passou pelo Porto do Açu, também em 2024, foi de US$ 731 milhões, ou R$ 4,45 bilhões. Somando os movimentos de exportação (88,6%) e importação (11,4%) do Porto do Açu, eles chegam a US$ 6,443 bilhões ou R$ 39,3 bilhões.
Os dados são oficiais do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC). Os valores sobre as exportações de minério de ferro são de Conceição do Mato Dentro, MG, onde se situam as minas e de onde tem origem o mineroduto de 529 quilômetros que corta 33 municípios mineiros e fluminenses até chegar ao Porto do Açu, onde a pasta é filtrada, desidratada e o minério secado até seguir pelas esteiras até o terminal T1, processo de beneficiamento realizado pela empresa Ferroport (joint venture entre as companhias Porto do Açu e a mineradora anglo-sul-africana Anglo American).
Já as exportações de petróleo se originam na produção offshore nas bacias de Campos e de Santos e passam por transbordo (transferência de pequenos navios para grandes navios petroleiros para seguir viagem intercontinental), também através do terminal T1 do Porto do Açu.
A responsabilidade pelo terminal de transbordo de petróleo do Porto do Açu é da companhia Vast Infraestrutura (ex-Açu Petróleo), que em seus três berços de atracação atende aos negócios de nove diferentes petroleiras: Petrobras, Shell, Equinor, Total, Galp, PetroChina, CNOOC, Petronas e PRIO. Outro dado expressivo é que, em 2024, o Brasil exportou quase metade de toda a sua expressiva produção nacional de petróleo, sendo que o Porto do Açu tem sido responsável, por sua vez, por quase metade de todo o petróleo exportado pelo país.
Este blog já havia comentado sobre a movimentação de cargas e riquezas pelo Porto do Açu em 2022 e 2023 [postagem em 17 de fevereiro de 2024: "Por que os R$ 21 bilhões da movimentação de 2023 do Porto do Açu são tão pouco comentados?"] e a estranheza das razões pelas quais a companhia Prumo Logística, holding controladora do Porto do Açu, ou mesmo o fundo americano EIG Global Energy Partners, controlador da holding Prumo, não têm interesse na divulgação desses valores de cargas e riquezas movimentadas por sua companhia subsidiária no terminal portuário.
Esses dados são públicos e podem ser acessados por qualquer pessoa, jornalista ou pela mídia corporativa, sem a necessidade de ser pesquisador. Como afirmei na postagem do ano passado, muitas hipóteses podem ser levantadas sobre essa proposital omissão dos valores de movimentação portuária em dólar ou real. Porém, já destaquei uma das razões para se escamotear esse dado.
As informações corporativas e financeiras são, em sua grande maioria, fruto de releases produzidos pelas próprias corporações e sob a ótica de seus interesses. E, como a própria companhia, grupo ou seu fundo controlador não divulgou, essas informações não ganharam ampla divulgação.
Assim, a hipótese para essa omissão seria o desinteresse em divulgar o volume de riqueza que passa pelo Porto do Açu e pela região, deixando tão pouco em impostos e empregos, proporcionalmente aos negócios que utilizam, especialmente, a região como "território de passagem", em um empreendimento que, até aqui, se caracteriza como um enclave, com pouquíssimas conexões com a região. Isso reforça a caracterização de um porto como base logística transescalar, mais ligada ao extrativismo.
Os proprietários do porto buscam fluidez nas cargas para ampliar seus lucros com a produtividade portuária, mostrando pouco interesse em estabelecer vínculos com as comunidades locais, vistas, na realidade, mais como obstáculos do que como soluções e oportunidades.
Uma enorme riqueza circula pela região (quase R$ 40 bilhões apenas em um ano), no que tenho chamado de "território de passagem", uma das principais características de um porto de 5ª geração, com conexões em escala global (interligando pontos de uma cadeia de valor global - CVG) e, até aqui, com muito pouca agregação de valor industrial (porto-indústria, Zona Industrial Portuária - ZIP ou MIDAs, Maritime Industrial Development Area) na vasta retroárea de mais de 90 km², resultado, em boa parte, de centenas de desapropriações, muitas delas violentas, de pequenos produtores rurais.
As exceções são a unidade de geração de energia elétrica da GNA (UTE) e a FMC-Technip, com a produção de tubos flexíveis para uso nas instalações offshore das petroleiras para extração de petróleo, além do projeto já licenciado de hidrogênio verde.
Porém, mesmo o projeto de hidrogênio verde, se for voltado basicamente para a exportação de amônia e não para uso na industrialização no distrito industrial do porto, manterá essa característica de um porto focado na movimentação de cargas e riquezas de cadeias de valor global (CVG) e não na agregação de valor com produção local, ampliando o que os economistas chamam de externalidades dessa importante infraestrutura portuária do Açu, no norte do Estado do Rio de Janeiro.
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