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    Paulo Henrique Arantes

    Jornalista há quase quatro décadas, é autor de “Retratos da Destruição: Flashes dos Anos em que Jair Bolsonaro Tentou Acabar com o Brasil”. https://noticiariocomentado.com/

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    Possível candidatura de Gusttavo Lima nada tem a ver com antipolítica

    "O discurso antipolítica é eleitoralmente eficaz, mas a verdadeira antipolítica nada tem a ver com a candidatura de figuras exóticas"

    Gusttavo Lima (Foto: Reprodução/Instagram)

    O cantor Gusttavo Lima, cujo repertório musical já bastaria para afastá-lo de mentes e ouvidos civilizados, diz almejar a Presidência da República do Brasil. Em tempos de Pablo Marçal e outras aberrações, o lançamento de nome tão pouco recomendável para tocar o país não surpreende. A direita insiste nos ditos “antipolíticos”, como se tais não fossem meros fantoches de políticos tradicionais.

    O União Brasil de Ronaldo Caiado e o agro, dito “pop”, estariam incensando-o, afora a sondagem de outros direitistas, como o inelegível Jair Bolsonaro. Por tóxico e quase preso, o capitão já teria sido escanteado pelo cantor, que, ademais, ainda não convenceu ninguém da lisura de seus negócios com bets etc.

    O discurso antipolítica é eleitoralmente eficaz, mas a verdadeira antipolítica nada tem a ver com a candidatura de figuras exóticas – e cheias de esqueletos no armário – a serviço de velhos caciques sem votos. Já tratamos disso neste espaço, e até arriscamos certa profundidade – era 2022. Recordemos, por oportuno.

    “Um símbolo global da antipolítica, aquela conceitualmente justificável, foi o presidente da antiga Checoslováquia e primeiro mandatário da atual República Checa, Vaclav Havel, um intransigente defensor da resistência não-violenta, além de escritor e dramaturgo. Líder da Revolução de Veludo, Havel é um ícone da “política da antipolítica”, tendo atuado contra o monopólio ideológico da vida pública, na qual, entendia, deveria prevalecer o pluralismo.

    “Também simbolizam a antipolítica em seu melhor sentido nomes como o de Gandhi, que esteve à frente do movimento de descolonização no período Pós-Guerra, e o de Martin Luther King, líder antissegregacionista americano dos anos 1960. Ambos conduziram verdadeiras rebeliões de massa de forma pacífica, absolutamente descasadas da negação da política como instrumento de superação de conflitos que a pior direita prega hoje.

    “Não é tarefa simples definir a antipolítica, algo maior do que o mero repúdio aos políticos em geral. Assim a conceituou o ensaísta húngaro Gyorgy Konrad, dissidente durante a dominação soviética em seu país: “A antipolítica é a atividade política daqueles que não querem ser políticos e que recusam sua cota de poder. A antipolítica não apoia nem se opõe a governos – é diferente. Seus adeptos vigiam o poder político, exercem pressão com base apenas no seu estatuto cultural e moral. A antipolítica é a rejeição ao monopólio do poder pela classe política. Se a oposição política ganhar o poder, a antipolítica mantém-se à mesma distância e mostra a mesma independência em relação ao novo governo.

    “Corrupção, fisiologismo, patrimonialismo, caciquismo, mandonismo e nepotismo - e, atualmente, negacionismo - somados a uma notável incompetência na gestão pública, têm caracterizado a política brasileira ao longo da História, salvo breves espasmos de correção e acerto. Não é de surpreender o surgimento de um forte sentimento antipolítico no seio da população. Só que parcela dessa população, conceitualmente perdida, fatalmente abraça a extrema-direita e seu discurso falso-moralista.”

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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