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    Marcia Carmo

    Jornalista e correspondente do Brasil 247 na Argentina. Mestra em Estudos Latino-Americanos (Unsam, de Buenos Aires), autora do livro ‘América do Sul’ (editora DBA).

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    Potência da China no Mercosul e visita de Xi Jinping ao Brasil e ao Peru

    "Enquanto o impasse com os europeus persiste, a realidade regional encontra alternativa na Ásia", escreve Marcia Carmo

    Xi Jinping (Foto: Florence Lo / Reuters)

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    Num momento em que o acordo entre o Mercosul e a União Europeia volta a parecer utópico, a relação regional com a China é cada vez mais intensa, como mostra um estudo realizado pelo Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC). Neste contexto de maior aproximação, o presidente chinês Xi Jinping é esperado daqui a dois meses, em novembro, na reunião de Cúpula do G20, no Brasil, e no Fórum de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (APEC), no Peru. Será sua primeira viagem à América Latina desde a pandemia de coronavírus, e neste ano que marca os 50 anos de relações diplomáticas entre o maior país da região, em termos econômicos e populacionais, que é o Brasil, e o país asiático.

    A China é um país decisivo para as economias dos integrantes do Mercosul e com participação crescente inclusive no Paraguai, que tem relação histórica com Taiwan, e com a Bolívia, que neste ano aderiu ao bloco. Mais de 30% das importações paraguaias chegam da China. E, por sua vez, apesar das críticas ao “país comunista”, o presidente argentino Javier Milei tem buscado evitar novas polêmicas com o gigante asiático, do qual a Argentina depende em termos financeiros. O principal parceiro comercial da Argentina é o Brasil, mas recentemente a China chegou a superar nosso país e uma revista local batizou, então, essa relação de “ArgenChina”, pouco antes do desembarque de Milei à Presidência.

    Um estudo divulgado há poucos dias pelo CEBC indicou que o Brasil é o único país do Mercosul que registra “de forma constante superávits comerciais expressivos com a China”. E sinaliza como essa relação poderia ser ainda mais produtiva, incluindo valor agregado e a maior presença dos chineses em obras de infraestrutura nos nossos países. O estudo aponta as perdas e ganhos para um eventual Acordo de Livre Comércio (ALC) entre o bloco e os chineses. Prevê que o ALC com a China traria ganhos de 1,43% no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, que o grande beneficiado seria o agro, que tem na China seu principal mercado, enquanto a indústria sofreria perdas diante da competitividade da manufatura chinesa.

    Os autores do estudo mostram que um suposto ALC com a China deve ir além do âmbito comercial, com a criação, por exemplo, de cadeias de produção regionais. O que dependeria do amadurecimento do debate dentro do Mercosul, de acordo com seus autores. O estudo foi realizado num momento de novas dificuldades para um possível acordo entre o Mercosul e a União Europeia e ainda com Uruguai e Argentina, principalmente, defendendo a maior abertura do bloco. “A China tem importância crescente para os países do Mercosul como parceiro econômico, tanto comercial quanto como fonte de investimentos, em um contexto de polarização das relações econômicas e políticas entre China e Estados Unidos e de aumento de ações de política industrial e protecionismo pelos países de alta renda”, diz o estudo editado pela diretora executiva do CEBC, Cláudia Trevisan.

    Será neste contexto que o presidente chinês já teria sua presença confirmada no G20, segundo fontes do Itamaraty. Xi Jinping também é esperado no Peru, onde deverá participar, além da APEC, da inauguração do megaporto de Chancay, a cerca de oitenta quilômetros da capital peruana. Este porto será uma conexão dos países banhados pelo Oceano Atlântico com o Pacífico, ampliando os caminhos para a China. “Há grande expectativa aqui para a inauguração do porto, com a presença de Xi Jinping, e que vai favorecer também as exportações brasileiras”, disse à reportagem o economista peruano Carlos Aquino, da Universidade Nacional Mayor de San Marcos (UNMSM), de Lima.

    Enquanto o impasse com os europeus persiste, a realidade regional encontra alternativa na Ásia.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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