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    Marcos Coimbra

    Marcos Coimbra é sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi

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    Povo não gosta de militar

    Sociólogo Marcos Coimbra avalia o desempenho das Forças Armadas no governo Bolsonaro. "Vê-las como sustentáculo de alguém como Bolsonaro é o fim de qualquer respeito que quisessem preservar. Daqui a pouco, muita gente vai querer a extinção das Forças Armadas"

    Jair Bolsonaro acompanha desfile de tanques em Brasília (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

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    Por Marcos Coimbra 

    É lenda que as Forças Armadas, por estar entre as instituições em que a população mais confia, são aprovadas e queridas. Figurar entre as primeiras, quando a má avaliação é a regra, não quer dizer muito. Talvez, apenas, que o povo desconfia de todas, de umas mais, de outras menos.  

    É certo, no entanto, que sua imagem vem descendo a ladeira desde 2018, quando se meteram nesse lodaçal do governo do capitão Bolsonaro. Ajudaram a eleger um presidente de última categoria, participam da lambança de sua administração e se tornaram grandes beneficiárias de decisões nada republicanas (para dizer o mínimo) que tomou. Estão metidas até a raiz dos cabelos em seu golpismo, intimidam adversários, acobertam falcatruas, inventam com ele mostrengos como o Bolsa Voto, para comprar o apoio dos necessitados.    

    Mas seus problemas de imagem são antigos. Em 1995, uma pesquisa qualitativa nacional feita pelo Instituto Vox Populi mostrou a desconfiança que, já naquela altura, se escondia por detrás de números positivos obtidos em pesquisas quantitativas: sua nota média de confiança era 3,2, de um máximo de 5. Não se pode dizer que fosse exuberante, estando na faixa que significava confiança “nem alta, nem baixa”, mas era o suficiente para colocá-las entre as três instituições mais confiáveis.  

    Ao procurar compreender melhor sua imagem através de métodos qualitativos, o que se via era outra coisa. Como registrou o relatório da pesquisa:  

    O primeiro questionamento dos entrevistados é a respeito da função das Forças Armadas hoje, tendo em vista a realidade brasileira, a experiência democrática e a ausência de ameaças à segurança do país. Uma parcela expressiva se pergunta: “Se não tem guerra, o que elas fazem?”

    A imagem mais comum é de ociosidade. Os participantes da pesquisa pensam o conjunto dos militares como uma mão de obra bem remunerada, que “vive dentro dos quartéis, treinando para uma guerra que não vai acontecer”, “Uma instituição fechada e que não se abre”,  “Um mundo à parte”, “A gente nunca sabe o que se passa dentro dos quartéis”.

    (...) Na maioria dos casos, percebe-se o temor dos pesquisados de que elas voltem a intervir na política brasileira. A imagem do “Exército na rua” é, por si só, ameaçadora.”  

    As pesquisas recentes indicam que o povo continua a vê-las com a mesma ambiguidade. De um lado, pouca transparência, desinformação, medo, suspeita de privilégios, conexões com a violência frequentemente desfechada pelas Polícias Militares contra cidadãos comuns. De outro, uma avaliação que permanece relativamente elevada.  

    Nos anos 1990, a razão para isso era clara:  

    (Para os entrevistados) a imagem é de uma instituição que, apesar de tudo, é sólida e confiável,  em função de alguns aspectos: disciplina interna, a continuidade moral de uma instituição que permanece inalterada ao longo da história, a qualificação profissional e os equipamentos de que dispõe”.

    Em outras palavras: uma instituição fechada, conservadora de suas tradições, amedrontante e rica, que talvez não seja querida, mas tem utilidade para a coletividade, desde que assegure a continuidade de valores morais respeitáveis.  

    Só que a atual liderança das Forças Armadas faz, em tudo, o inverso, como na defesa de privilégios descabidos. Que justificativa pode haver para o “adicional de habilitação” que acertaram com Bolsonaro, que permite que um praça, após rápido treinamento, ganhe um aumento maior do que recebe um professor de universidade federal ao se tornar doutor? Qual motivo há para que a sociedade arque com um rombo nas contas públicas de mais de 20 bilhões de reais apenas por causa desse “adicional”, que vai engordar o imenso déficit da previdência das Forças Armadas e levou à “reforma da Previdência”, em prejuízo dos trabalhadores civis? Qual o fundamento moral para identificar como “marechais” cerca de cem generais, alguns trabalhando no conforto do Palácio do Planalto, se a legislação reserva o posto a generais de exército que participaram de guerras? E qual a razão de um coronel torturador ser tratado como “marechal”?     

    Em julho do ano passado, o Vox Populi repetiu o mesmo tipo de pergunta a respeito da confiança nas Forças Armadas. Disseram que “confiavam muito” apenas 18% dos entrevistados, enquanto outros 32% afirmaram que “confiavam mais ou menos”, o que está longe de ser um elogio. Os restantes 50% responderam que não confiavam nelas ou não sabiam dizer.  

    Hoje, como mostram várias pesquisas, sua imagem só piorou: as pessoas são contra a presença de militares no governo, desaprovam que ocupem cargos civis e desconfiam de que estão envolvidos em bandalheiras, como no caso das vacinas. Vê-las como sustentáculo de alguém como Bolsonaro é o fim de qualquer respeito que quisessem preservar. Daqui a pouco, muita gente vai querer a extinção das Forças Armadas.  

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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