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    Camilo Irineu Quartarollo

    Autor de nove livros, químico, professor de química, com formação parcial em teologia e filosofia.

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    Pra "nós", será que melhora?

    Tem gente que ainda vive nos anos noventa, quando a ideia do neoliberalismo decadente era vender tudo

    Sabesp (Foto: Gilberto Marques/GovSP)

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    Se privatizar, melhora...

    O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, gongou a SABESP do serviço público e lhe deram o título de Thorcísio, o deus germânico do martelo. A plateia se estremeceu e ovacionou ao ver este rebatendo freneticamente o martelo de leiloeiro, tantas vezes e tão forte que espatifou o suporte de madeira chão abaixo. Porém, a Equatorial era a única concorrente no leilão, podia até economizar o martelo e estalar os dedos – estava privatizado. Mais um patrimônio público que a direita escorre das mãos nessa enxurrada de privatizações. Antes a Equatorial cuidava somente de energia elétrica e deixou um apagão no Piauí, durante uma semana e o caso se repetiu no Rio Grande do Sul, o que nos remete ao desastre atualíssimo da ENEL e, com o andar da privadagem, a empresa pode tomar de mão beijada o mui lucrativo saneamento. Lucro certo, pois todos pagam a conta. Quem fica sem água? A primeira coisa que as privadas fazem é demitir pessoal ou lançam mão de terceiros a salário vil, cortam custos sem atentar ao ativo elementar da experiência!

    Quando da outra crise de quedas de árvores doentes sobre ruas e casas paulistanas, o prefeito de lá aventou uma hipótese de solução. Ora, inventou até um nome bonito para arrecadar fundos e enterrar os fios. Pediu aos munícipes a tal “Contribuição de Melhoria”. Se a empresa privada precisa de taxas extras da população, por que privatizaram o patrimônio público?

    Em Piracicaba-SP, já ouvi à boca pequena gente falando de privatizar o SEMAE. Imagine?! É uma empresa a qual antigos funcionários sabem onde passam os canos velhos, e pendentes de troca, pontos de coleta e detalhes que engenheiros ou investidores não sabem. Canos enferrujados estouram. Metade da água tratada escorre à miúda pela ladeira abaixo ou em infiltrações por falta de trocas. Se não estouram, a água se contamina com o ferro oxidado e mancham as roupas da lavadeira. Contudo, os canos d’água estão enterrados como deveriam ficar a fiação de energia elétrica. Uma empresa de águas não pode economizar em cloro, carvão, cloreto férrico, cal, flúor, usados de acordo com o estado da purificação da água e, funcionários habilitados, com cursos de atualização.

    Tem gente que ainda vive nos anos noventa, quando a ideia do neoliberalismo decadente era vender tudo, passar nos cobres empresas públicas. A desculpa era sempre a mesma, dá prejuízo. Devíamos privatizar somente se passassem por um plebiscito, não por uma aventura burocrática.

    O ministro de Bolsonaro, Paulo Guedes, confundiu a cabeça do povo: “Vamos ter que fazer na saúde igual se fez no auxílio emergencial. Pobre está doente? Dá um voucher para ele. Quer ir ao Einstein? Vai ao Einstein. Quer ir ao SUS, pode usar seu voucher onde quiser”. Ou seja, nós vamos ao Einstein, o pobre que se vire.

    Você adoece e usa o voucher do Guedes, acabou morre, né. Pra “nós”, será que melhora?

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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