TV 247 logo
    HOME > blog

    Prefeitura do RJ desconsidera MPF e age com violência contra ativistas

    O Ministério Público Federal, há poucos dias, determinou que a Prefeitura do Rio de Janeiro não pode "adotar qualquer medida que implique na retirada dos manifestantes do movimento Ocupa Golfe"

    O Ministério Público Federal, há poucos dias, determinou que a Prefeitura do Rio de Janeiro não pode "adotar qualquer medida que implique na retirada dos manifestantes do movimento Ocupa Golfe" (Foto: Roberto Bitencourt da Silva)

    O Ministério Público Federal, há poucos dias, determinou que a Prefeitura do Rio de Janeiro não pode "adotar qualquer medida que implique na retirada dos manifestantes do movimento Ocupa Golfe". Contudo, ontem (06/01), a Guarda Municipal apareceu no local da ocupação, no bairro da Barra da Tijuca, contando com grande efetivo. Uma vez mais, agiu com o intuito de acabar com o protesto.

    Como noticiado em outras oportunidades, os/as pacíficos/as ativistas do Ocupa Golfe questionam a construção de um campo de golfe para as Olimpíadas de 2016. As obras estão sendo realizadas em área de reserva ambiental e guardam relação direta com controvertidas vantagens econômicas oferecidas, pela Prefeitura, a um empreendimento imobiliário que realiza a construção.

    A GM recolheu, à força, diversos pertences dos/as ativistas (isopores, medicamentos, faixas e alimentos). Pertences que asseguravam condições mínimas para a permanência no local, em boa parte fruto de doações de simpatizantes. A ocupação já dura um mês.

    Não foi apresentado qualquer documento oficial que justificasse a ação. Integrantes da GM reclamavam, exclusivamente, a apresentação de notas fiscais dos objetos e pertences. Não é desrazoável supor que, de maneira obscura e arbitrária, a ação da Guarda buscou apoiar-se em norma pública municipal já aventada em iniciativa similar e anterior, que trata do recolhimento de mercadorias do comércio ambulante.

    Contraditoriamente e resvalando na ironia, a motivação apresentada, depois da ação, foi outra. De acordo com relato dos/as ativistas, o comandante da GM alegou que a corporação esteve "presente para garantir a segurança dos ocupantes".

    Três manifestantes foram detidos/as e levados/as à 16ª delegacia de polícia. Um manifestante foi violentamente agredido, chegando a ter o dente quebrado. Outro sofreu uma fratura no braço. Segundo os/as ativistas, a fratura ocorreu "no caminho para a delegacia. O ônibus teria acelerado a mais de 100 km/h e o manifestante, mal acomodado, caiu da escada do veículo, estalando o pulso e batendo o cotovelo. O ativista ainda sofreu com deboches feitos pelos guardas".

    Uma adicional agressão relatada diz respeito a uma ativista que "foi jogada e arrastada no chão". Fotos e vídeos produzidos pelos/as ativistas dão uma amostra da violência praticada pela Prefeitura. Também foi mencionada pelos/as manifestantes a realização de disparos de balas de borracha para o alto. Vale observar que a GM do Rio de Janeiro não possui autorização legal para usar esse tipo de armamento, mesmo sendo classificado como não letal.

    O importante a ser destacado e, ao mesmo tempo, redundando na ociosidade ao se tratar do arbitrário prefeito Eduardo Paes (PMDB), é que as recomendações feitas pelo MPF foram rapidamente desrespeitadas. Os direitos elementares da cidadania à livre expressão e à organização coletiva popular, ressaltados pelo procurador da República, Paulo Sérgio Ferreira Filho, em 03/01, foram flagrantemente desconsiderados pela Prefeitura.

    Restam, desse modo, as seguintes indagações: existe alguma instituição pública, sobretudo o Poder Judiciário, atenta aos desmandos do prefeito? Determinações judiciais, que asseguram direitos individuais e coletivos basilares da democracia, podem assim ser desrespeitadas? Ou vivemos em um Estado de exceção?

    Em conformidade com as perspectivas dos filósofos Antonio Negri e Giorgio Agambem, medidas excepcionais (extraconstitucionais) tendem a prevalecer no mundo contemporâneo, com vistas à garantia de lucros extraordinários ao capital. No centro e na periferia do capitalismo, no norte e no sul, indiferentemente.

    Levando em conta as aspirações do capital imobiliário, financeiro e do conjunto de megaempresas interessadas nos negócios que envolvem as Olimpíadas, não é demasiado argumentar que, após a lamentável experiência de violências policiais – e controversas iniciativas judiciais – praticadas durante a Copa do Mundo, a cidade do Rio de Janeiro convive, acentuadamente, com um preocupante horizonte de violação das garantias e dos princípios democráticos mais rudimentares.

    Assista ao vídeo produzido pelo Ocupa Golfe e a Mídia Independente Coletiva, com as ações truculentas e as prisões de ativistas, feitas pela Guarda Municipal: 

     
     
    Assista aqui ao vídeo com as razões apresentadas pela Prefeitura para a ação, particularmente após 00:03:19 min.
     

    Saiba mais:

    – Com documentos irregulares, campo olímpico de golfe é construído no RJ em terreno do Governo Federal (ESPN Brasil, 02/09/2014):http://espn.uol.com.br/video/437036_com-documentos-irregulares-campo-olimpico-de-golfe-e-construido-no-rj-em-terreno-do-governo-federal

    – Olimpíadas para quem? Golfe para quem? (Brasil 247, 15/12/2014): http://www.brasil247.com/pt/247/artigos/163708/Olimp%C3%ADadas-para-quem-Golfe-para-quem.htm

    – Guarda Municipal tenta retirar manifestantes do Campo de Golfe Olímpico (Jornal do Brasil, 18/12/2014): http://m.jb.com.br/rio/noticias/2014/12/18/guarda-municipal-tenta-retirar-manifestantes-do-campo-de-golfe-olimpico/

    – Ocupa Golfe (Gazeta Esportiva.net, 21/12/2014): http://www.gazetaesportiva.net/blogs/joseinaciowerneck/2014/12/21/ocupa-golfe/

    – Protesto contra campo de golfe olímpico é reprimido no Rio. E a mídia? (Brasil 247, 22/12/2014): http://www.brasil247.com/pt/247/artigos/164448/Protesto-contra-campo-de-golfe-ol%C3%ADmpico-%C3%A9-reprimido-no-Rio-E-a-m%C3%ADdia.htm

    – Campo de golfe olímpico no Rio: MPF questiona a Prefeitura (Jornal GGN, 04/01/2015): http://ggnnoticias.com.br/blog/roberto-bitencourt-da-silva/campo-de-golfe-olimpico-no-rio-mpf-questiona-a-prefeitura

    Crédito das fotos: Ocupa Golfe.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

    ❗ Se você tem algum posicionamento a acrescentar nesta matéria ou alguma correção a fazer, entre em contato com redacao@brasil247.com.br.

    ✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no Telegram do 247 e no canal do 247 no WhatsApp.

    iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

    Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista: