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    Moisés Mendes

    Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

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    Preparem-se para as revelações do primeiro general delator

    “Se quase tudo é possível, Mauro Cid está perto de ganhar a companhia de colegas mais graduados”, escreve o colunista Moisés Mendes

    Mario Fernandes (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

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    A Lava-Jato profissionalizou a delação e ensinou que há delatores fortes e delatores fracos. Sergio Moro e sua turma classificavam os dedos-duros de acordo com a sua capacidade de dedurar.

    E assim estabeleciam trocas, privilégios e atenuantes. O bom delator não precisava contar a verdade, mas criar a verdade paralela que interessasse aos que iriam ouvi-lo.

    Como especialista em delação, Moro poderia ajudar a avaliar os delatores fardados, que estariam entrando em fila de espera para dizer o que sabem e ainda não foi contado sobre o golpe. 

    O mais valioso deles seria o general Mario Fernandes, uma figura que surge, a partir dos indiciamentos pela Polícia Federal, com ações e falas surpreendentes na estrutura montada em torno de Bolsonaro.

    Seria Mario Fernandes um grande delator? Mesmo se sabendo que não basta, para que um colaborador da Justiça seja considerado relevante, que esteja atormentado, como dizem que Fernandes estaria na cadeia?

    O certo é que ele tem informações importantes para acrescentar ao que já se sabe pelas deduragens de Mauro Cid, o maior de todos e único delator genuíno do golpismo até agora. 

    Cid era um coronel mandalete, um operador do leva e traz. Fernandes é um general, sem todas as estrelas mas com capacidade de interlocução com os mais graúdos e com poder de persuasão denunciado pelos vazamentos das conversas. Sua delação seria improvável? O golpe fracassado tornou tudo provável.  

    Quem mais estaria no estágio da alta traição, como aconteceu com a então improvável delação de Palocci, que não aguentou a cadeia e falou às vésperas da eleição de 2018? Disse o que, se soube depois, não valia nada.

    Mandam recados pela imprensa de que o núcleo militar já subjugado se sente traído por Bolsonaro, que orientou ou foi orientado pelo advogado a vender a versão de que, no fim, o tenente estava fora do jogo do golpe dos generais. 

    Pela linha apresentada da defesa de Bolsonaro, o gabinete de crise, com Augusto Heleno e Braga Netto, é que aplicaria o golpe e desfrutaria do poder.

    Os alvos dessa versão, que já estão presos ou quase na porta da cadeia, podem se somar a Mauro Cid, mas há sempre uma dúvida que inexiste em situações anteriores. 

    O delator civil corre riscos, mas tem que prestar contas às suas facções. O militar candidato a delator, submetido desde jovem a hierarquias e comandos, terá de superar os rígidos protocolos da caserna até pesar o que ganha e perde com uma delação que afronte chefias e desqualifique até as instituições que os acolhiam. 

    Aparece nesse momento o temor com as reações dos superiores, dos iguais e até dos subalternos. Há o risco de comprometer tudo o que foi conquistado numa carreira em que eles sobem escadas e tomam rasteiras. E tem que levar em conta a mulher, os filhos, a sogra. A família de um militar não é, pela rigidez, igual a uma família de civis.

    Não se pode imaginar que os possíveis delatores militares de hoje passem pelos constrangimentos impostos aos que foram escalados para acabar com Lula.

    Mas não pode ser descartada a hipótese de que Mauro Cid não ficará sozinho. Um improvável general delator, mesmo sendo de segunda linha, poderia derrubar o que resta da barraca, com Bolsonaro, Braga Netto e Augusto Heleno dentro.   

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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