Privatização da Eletrobras: ainda há tempo de evitar este crime
A venda da Eletrobras não irá gerar um único emprego, mas cada brasileiro pagará mais pela conta da luz e o país perderá qualquer possibilidade de influir nesta relação
Por Henrique Fontana
Estamos assistindo a um anunciado crime lesa pátria contra o povo brasileiro. A proposta de privatização da Eletrobras, a maior empresa de energia da América Latina, construída ao longo de 70 anos por muitas gerações de brasileiros, fere de forma irremediável os mais altos interesses da população. Desafio alguém que sustente que ela trará qualquer benefício real para o país. Ao contrário, entregar esse patrimônio essencial e estratégico às mãos de grupos estrangeiros é abrir mão da nossa soberania e do nosso desenvolvimento, com consequências desastrosas para o Brasil e para os brasileiros.
O que justifica a privatização de uma empresa com essa enorme importância para o país? Não estamos falando de uma empresa deficitária e ineficaz que causa prejuízo ao país, argumento normalmente utilizado pelos privatistas para vender as estatais a preço de banana, e que, na grande maioria dos casos, não corresponde à verdade.
A Eletrobras responde hoje por 30% da geração de energia do país e 70% da distribuição dessa energia, com mais de 70 mil quilômetros de linhas de transmissão. Possui 48 usinas hidrelétricas, 62 eólicas, 12 termelétricas, duas termonucleares e uma solar. Concentra desde a Usina de Itaipu, Chesf, Furnas, entre outras, usinas eólicas e até a Usina Nuclear. Além disso, foi responsável pela operação do Luz para Todos, implantada durante o governo Lula, que levou energia elétrica para quase 17 milhões de brasileiros.
Só o parque eólico de Santa Vitória do Palmar, construído durante o governo Dilma, que custou R$ 3,1 bilhões e gera R$ 350 milhões por ano de lucro para o país, foi vendido por pouco mais de R$ 500 milhões. Agora, digam: qual o grupo privado venderia uma empresa sua por um valor menor do que o lucro de dois anos de operação?
Existe uma grande negociata por trás dessa ideia de privatizações predatórias voltada a beneficiar grandes investidores ou grandes grupos de investidores internacionais, que, provavelmente, nem conhecem o Brasil ou desconhecem a importância destas empresas no dia a dia dos brasileiros. A lógica destes grandes grupos é obter a máxima lucratividade no menor espaço de tempo possível com o menor investimento possível, sem nenhuma preocupação com a conservação dos nossos rios, com a qualificação do serviço prestado e com os interesses do povo.
Diante deste quadro perverso, é legítimo prever que daqui para frente enfrentaremos uma amarga realidade de precarização dos serviços, o surgimento de apagões e o aumento incontrolável da conta da luz. Privatizar a Eletrobras, segundo cálculo da Abrace (Associação dos Grandes Consumidores de Energia e Consumidores Livres), custará R$ 20 bilhões a mais por ano, que serão pagos pela população.
A venda da Eletrobras não irá gerar um único emprego, mas cada brasileiro pagará mais pela conta da luz e o país perderá qualquer possibilidade de influir nesta relação. Não haverá agência reguladora que controle os eventuais abusos que surgirão a partir desta nova realidade.
Esta iniciativa nefasta contra o interesse nacional parte de um governo que se orienta pelo fanatismo liberal cuja obsessão é torrar o patrimônio estratégico nacional de forma irresponsável e que, infelizmente, encontra respaldo em setores absolutamente descompromissados com o futuro do país e o bem-estar dos brasileiros.
O Governo Bolsonaro e o Congresso Nacional, a se manter essa decisão inconcebível para uma nação que preza a sua autonomia, acabam de colocar uma cunha no nosso desenvolvimento futuro.
É um processo ainda não finalizado que exige de cada brasileiro a consciência de que, caso confirmada a privatização da Eletrobras, estaremos reduzindo drasticamente a possibilidade de termos um futuro sustentável do ponto de vista ambiental e seguro quanto ao fornecimento de energia essencial para a vida dos brasileiros para as atividades produtivas.
Ainda há tempo de evitar esse crime.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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