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    Agassiz Almeida

    Foi constituinte em 88 e um dos principais artífices do fortalecimento do Ministério Público na Constituição. Recebeu a máxima comenda da Associação Nacional do Ministério Público pelos relevantes serviços prestados ao MP. É escritor brasileiro e ativista dos direitos humanos

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    Procuradores da Lava Jato, peçam desculpas à nação

    Os senhores e o justiceiro Moro ajudaram a alçar ao poder um bando de desatinados, cujo vértice da estupidez culminou numa verborreia odienta do despreparado dirigente da nação, que confunde a ONU com um botequim no Rio de Janeiro

    Num chamamento às suas responsabilidades, dirigi aos senhores mensagens no objetivo de salvaguardar a nossa Instituição dos rumos imprevisíveis da operação Lava Jato, sobretudo da força tarefa coordenado pelo desatinado e comprometido Dallagnol. Investidos numa postura de semideuses no Olimpo, apenas ouvi como resposta ecos de um grunhir intimidatório. 

    O Ministério Público não deve ser ultrajado por certos tipos, que, à sombra das suas funções, desandam-se em ações vis e escusas. Criminosa é a iniquidade de se forjar condenações no propósito de servir a interesses de poderosas forças, destacadamente, internacionais. Escancarou-se a entrega das nossas empresas, do pré-sal, da Embraer e da base de Alcântara aos norte-americanos. 

    Que contrassenso! Lá, em Curitiba, num templo de justiça, onde estavam os fiscais da Ordem Jurídica? Acumpliciados com um juiz carreirista, cuja magistratura renegou e se fez ministro da Justiça. 

    Praza à razão! Há um despertar da nação diante das iniquidades. Assiste-se ao desnudar de um autoritarismo delirante, diante do qual se curvou a sociedade, cedendo às suas vontades. E, num falso moralismo de Tartufo, a República de Curitiba deixou um legado de estagnação da nossa economia, com a destruição de empresas nacionais e milhões de desempregados. 

    Para onde vamos? Não se procura alavancar o desenvolvimento econômico, alimenta-se o ódio; ao chamamento ao diálogo, ouvem-se berros. Enfim, o fanatismo vence a razão; a inteligência não tem voz, cede lugar à mediocridade. Do plenário mundial da ONU, ecoou um primarismo de quintal a la Queiroz, a despejar baba epilética contra índios, ambientalistas e negros. Impactado e enojado, o mundo olhou indignado e riu do Brasil. Esta peça oratória metamorfoseou-se num arroto universal. 

    Os anais das Nações Unidas não registram um vulto com tamanha desenvoltura no grotesco e na ferocidade inconsequente como Bolsonaro. Nem Idi Amin Dada, Kadafi e Papa Doc. Nessa escalada da indigência mental, ele se faz insuperável. 

    Que fardo este infortunado Brasil carrega! Enorme idiotia pincelada por Rembrandt num painel genial. 

    Onde chegamos? Chegamos a mais deplorável condição humana: o ridículo raivoso. 

    Quando um povo se domestica e se fanatiza por um vulto perdido entre uma parada militar e a insensatez agressiva, calar-se é servir a um oportunismo de ocasião. 

    Quando os senhores, agentes do poder investigante, acumpliciam-se com o julgador e se desencaminham movidos por ambições pessoais, preconceitos ideológicos e partidários, a partir daí cairão sobre a sociedade prejuízos econômicos e políticos irreparáveis. 

    Procuradores, peçam desculpas à nação. Eis o cenário sombrio a que os senhores arrastaram o país. Empolgaram e manipularam a opinião pública com o apoio venal dos meios de comunicação, sobretudo da mídia televisiva. E, nesta escalada, os senhores e o justiceiro Moro ajudaram a alçar ao poder um bando de desatinados, cujo vértice da estupidez culminou numa verborreia odienta do despreparado dirigente da nação, que confunde a ONU com um botequim no Rio de Janeiro. Pasmem! Uma massa de incautos fanáticos ainda acredita no falastrão palaciano. 

    Vivemos num país surrealista onde o absurdo, o deboche e a ferocidade, vestidos de fanatismo, dão-se as mãos, tendo como paradigma uma elite burra e egoísta, enquistada numa mente de colonizado a se inebriar abestalhadamente diante dos ingleses, no século XIX, e, atualmente, dos norte-americanos, especialmente ante a parafernália Disneylândia e o consumismo infantil em Miami. Isto vem da nossa formação, desde o período colonial, atravessa o Império e chega até nós. 

    Analisem esta passagem humana. Os torturadores da ditadura militar (1964-1985), criminosos de lesa-humanidade, estão por aí, desfilando uma impunidade satisfeita, enquanto nos outros países estes tipos amargam pesadas cadeias. Que aberração! O dirigente da nação chegou ao absurdo de glorificar, no próprio palácio, um torturador confesso. 

    E no carrilhão dos insensatos, tramas estratégicas de operações punitivas são dramatizadas com forte impacto emocional na sociedade; prisões cinematográficas e vazamentos seletivos de peças de inquéritos e de processos. Execram publicamente os acusados e os condenam sem julgamento. 

    Assim, nesta marcha, regredimos dois mil anos, quando se lançavam na arena do Coliseu, em Roma, cristãos para serem devorados por leões. Nos dias atuais, degradam-se os indiciados sob holofotes televisivos e os assassinam moralmente e as suas famílias. Onde chegamos? A insensatez inebria uma sociedade enferma de esperança e desorientada. Armou-se uma verdadeira Medusa de mil tentáculos: cabo de polícia fala alto numa esquina, juízes e procuradores se transvestem em predadores da própria justiça, distorcem as leis e descumprem a Constituição Federal. 

    Eis aí, escancaradamente, a prisão em 2ª instância. Quem responderá por um erro judiciário ou por uma condenação de má-fé, em caso de revogação da prisão por um tribunal superior? Quem? O destino... Que postura bizarra a do STF! A iniquidade nos induz a não calar ante aqueles que pisoteiam a justiça e manipulam a verdade, por meio de uma operação anticorrupção desencadeada há mais de cinco anos e cujas vísceras foram expostas pelo trabalho jornalístico do The Intercept Brasil e de outros veículos de comunicação. Destampou-se um conluio nefasto de procuradores e julgador. 

    Clamo aos indignados. O que se produziu deste conluio? Uma sociedade enferma que perdeu a sua capacidade de pensar e até de rir e de dialogar, anestesiada por um desvario fronteiriço à imbecilidade, e cuja mente se necrosa assistindo novelas e ouvindo aquela voz empostada de William Bonner no Jornal Nacional. 

    Arrancaram do povo brasileiro a sua alegria e mataram a sua esperança e confiança de olhar o mundo e o futuro. Nos dias que correm, não se ouve dos dirigentes governamentais uma palavra que possa descortinar o amanhã. Despeja-se raivosamente um besteirol quase diariamente, e o país vai se isolando do contexto mundial. Ao invés das qualidades positivas que embasam a formação do povo brasileiro, contrastantemente, incentiva-se um furor animalesco, e assim a sociedade queda-se dividida. 

    Isto tudo nos dá a sensação de que a classe média do país se posta como os passageiros do filme Titanic; enquanto o navio se afundava nas águas do Atlântico, eles dançavam ao som de uma orquestra. Observem o forjar desta iniquidade. 

    Do bojo processual de uma farsa criminosa condenaram o nordestino de Caetés. Onde estão os criminosos? Por aí, como danados fugitivos de suas próprias consciências. Neste país do reino de Abrantes, enquanto o mundo grita contra esta infame condenação, a elite tupiniquim ri cinicamente e se esparrama etilicamente nas suas mansões nos EUA e nos Alpes suíços. 

    Desastres ambientais e humano: para onde nos levaram os senhores procuradores 

    Nos momentos de graves conturbações naturais, políticas ou econômicas que se abatem sobre os povos, sobretudo os desastres ambientais, podemos mensurar o descortino geopolítico e a capacidade de decidir de um dirigente. Neste contexto, o homem público analisa os fatos e decide na projeção das circunstâncias que se desencadeiam, aí, ele catalisa as múltiplas ideias para um denominador comum e se sobrepõe às suas próprias energias. Eis um vencedor dos grandes desafios. 

    Analisemos. Confrontemos as lições dos tempos e da própria vida com a sombria realidade deste desencontrado Brasil. Em 2019, voragem de tragédias ambientais sacudiu a nação: o rompimento da barragem de Brumadinho, o devastador incêndio da floresta amazônica e, nesta hora, a avalanche de óleo petrolífero a se disseminar pelas praias do Nordeste. 

    Sobressaltado o país por estas catástrofes, onde estava o saltimbanco dirigente da nação e as medidas que adotou para enfrentá-las? Num mundo apequenado entre o despejar verborrágico contra líderes mundiais, ONGs e ambientalistas, e a preocupação inquietante com o seu clã, envolvido com traquinagens inomináveis. 

    Que cenário de indigência mental vivemos! Enquanto o Nordeste atordoado se debate com a inundação da orla costeira por borras de petróleo ameaçando devastar a vida marinha na região, o dirigente do país, o único nas Américas, viaja para a inoperante e suntuosa coroação de um imperador japonês. Enquanto o quixotesco viandante envergonha o Brasil perante o mundo, os nordestinos, aos milhares, enfrentam com as próprias mãos, arriscando a saúde, a tragédia ambiental. 

    Oh, inoperantes! Oh, incapazes! Mobilizem as forças vivas do Nordeste a fim de enfrentar este infortúnio ambiental! Rompam o tacanho primarismo de apenas procurar os causadores do desastre, e vençam esta medíocre incapacidade governamental. 

    De Tóquio, na sua obsessão paranoica por ditadores militares, o desatinado dirigente do país destampa a tumba de milhares de chilenos assassinados pela tirania fardada e berra: Pinochet, que grande estadista! Esta monstruosa infâmia fere a consciência dos povos livres. 

    Da insólita difamação excretada por uma mente doentia, a comunidade internacional estarrecida antevê: Que sombrio destino se abate sobre o Brasil! 

    Procuradores, despertem 

    Eis o cenário humano a que os senhores juntamente com o justiceiro Moro arrastaram o país. 

    Procuradores, os senhores empreendem uma caçada humana aos corruptos. Parabéns! E os grandes sonegadores fiscais que causam trilhões de prejuízos ao país, onde estão? 

    Procuradores, o que os senhores dizem de dezenas e dezenas de empresas destroçadas e milhões de desempregados causados pela operação Lava Jato? 

    Procuradores, o que os senhores opinam da fraude eleitoral da eleição presidencial de 2018 com o impedimento e prisão do candidato favorito? 

    Procuradores, peçam desculpas à nação. 

    Esta indignação não quer calar. 

    Que as últimas palavras se dirijam aos ministros do Supremo Tribunal Federal. 

    Guardiões da Constituição Federal, decidam com altivez, não se curvem ao poder da força e nem aos aplausos das ruas. Lembrem-se da grandeza de Ribeiro da Costa, que engrandeceu esta Corte Constitucional. 

    Brade-se esta verdade! Que escárnio à nação, ao mundo e à própria justiça a condenação do ex-presidente Lula! 

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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