Quando Tio Sam tocou o tamborim
A visita de Lula à Casa Branca deve ser considerada histórica por vários aspectos
A visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao colega presidente dos EUA, Joe Biden, não foi um fracasso, ao contrário do que possa ter parecido à luz de uma abordagem apressada e um tanto superficial estabelecida por alguém que observou tal agenda internacional. Ainda que a expressão enigmática de Biden, com olhar aparentemente complacente e pouco entusiasmado, tenha suscitado interpretações decepcionadas, o enigma no olhar do yankee pode ter escondido sua percepção admirada diante do mítico líder trabalhista brasileiro.
Com efeito, a visita de Lula à Casa Branca, em Washington, DC, deve ser considerada histórica por vários aspectos, sobretudo pela demarcação de ponto importante no combate à ascensão de uma perigosa extrema-direita mundial representante de movimentos (neo)fascistas interessados em minar a democracia. Nesse sentido, a parceria entre os dois democratas é algo inegável enquanto anteparo a todo o obscurantismo e terrorismo, a toda a violência política proposta e perpetrada por extremistas em vários países.
Tal contraponto a ação desses movimentos distópicos, reunindo gente como Donald Trump e Jair Bolsonaro – e seu séquito de seguidores –, certamente é um ponto fundamental à derrota dos que praticam a necropolítica para fazer prevalecer os desejos de lucro sem fim do capitalismo predador, do neoliberalismo letal. O encontro de Lula e Biden serviu também como afirmação de um novo paradigma da geopolítica no qual os apelos pela preservação ambiental terão mais força à medida que a destruição da Amazônia começar a ser revertida.
Reinserção do Brasil
Como o presidente brasileiro ponderou, não foi um compromisso caça-níqueis destinado a passar o chapéu e recolher muitos dólares para o Fundo Amazônia ou na forma de investimentos produtivos bilionários a viabilizar atividades econômicas estadunidenses em solo brasileiro, ou coisa que o valha. Trata-se de mais um gesto de reinserção do Brasil no cenário internacional, com influência protagonista do Hemisfério Sul e suas aspirações globais no sentido de estabelecer uma nova governança mundial.
Por isso, foi significativo receber as palavras de Biden defendendo uma reforma do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), que passaria a ser integrado, como membros permantes, por pátrias como o Brasil, a Índia, o Japão, a Alemanha, a África do Sul, etc. Reivindicação brasileira de décadas, essa reforma começa a ecoar com maior intensidade até mesmo entre os atuais cinco membros permanentes, que inicialmente preferiram omitir-se de posicionamentos contrários ou favoráveis neste quesito.
A visita aos Estados Unidos se reveste de significados relativos à nova postura diplomática nacional, não mais subalterna à influência do Império, mas soberana, sem alinhamentos automáticos a ideias absurdas de fomentar a guerra na Ucrânia. Lula marcou mais um tento no que se refere a essa postura, à margem do açodamento de embarcar numa outra guerra fria, desta vez contra a China, maior parceiro comercial – estratégico na esfera dos BRICS, organismo multilateral que tende a dar as cartas daqui por diante.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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