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Florestan Fernandes Jr

Florestan Fernandes Júnior é jornalista, escritor e Diretor de Redação do Brasil 247

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Quantas vidas valem o equilíbrio fiscal?

"Eduardo Leite, depois da tragédia, está chorando o leite, ou o sangue derramado", escreve Florestan Fernandes Jr.

Eduardo Leite (Foto: Maurício Tonetto/Secom)

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Em entrevista à Folha de SP, o governador Eduardo Leite cometeu um sincericídio. Reconheceu que foi alertado, que sabia da previsão de chuvas intensas e intermitentes em maio deste ano, mas afirmou que a prioridade dele, naquele momento, não era a prevenção à tragédia anunciada; era a “agenda do equilíbrio fiscal”.

Por mais estarrecedora e imoral que seja essa declaração, há um ditado que não falha: “de onde nada se espera, é que nada sai.” Digo isto porque a fala do governador, defensor do estado mínimo, é o puro suco do “neoliberalismo” que se vê por aí, que prioriza “equilíbrio fiscal” em detrimento de vidas. Era essa a tal “agenda” impostergável de Leite.

Lembro aqui que durante a pandemia de COVID, para esses vassalos do mercado e adoradores do “Mito”, a prioridade do Estado era a economia: mais valia um CNPJ do que um CPF.

Trocando em miúdos, a fala de Eduardo Leite seja grotesca e perversa, nada há de novo aqui. A declaração nada mais é do que uma repetição das “prioridades” neoliberais. Lembrando que a tragédia no RS devastou famílias e a própria economia do estado. As “outras agendas” que Eduardo Leite tinha que cuidar, a ponto de nada fazer para evitar a imensidão da catástrofe, também foram afetadas. O tiro saiu pela culatra. Pais, mães, filhos, irmãos, foram levados pelas águas, assim como empresas e toda a economia do estado. Terra arrasada, potencializada pelo descaso de quem deveria cuidar.

Havia muito a fazer, os efeitos da catástrofe teriam sido bastante reduzidos se houvesse o mínimo de interesse e responsabilidade humanitária. Não se trata de mera incompetência administrativa. Em setembro de 2023, aconteceu uma cheia devastadora, mas o que se viu depois disto foi inação. Diante dos alertas de repetição da tragédia em proporções diluvianas, não houve enfrentamento: “a questão fiscal se impunha”.

Havia muito a ser feito e existem recursos para prevenção, tanto junto ao governo federal, quanto junto a organizações financeiras, como o BID, Banco Interamericano de Desenvolvimento. Para isto, basta que o estado apresente projetos. Foi o que fez João Campos, prefeito de Recife, após uma enchente na capital de Pernambuco. O contrato com o BID previu um desembolso de 2 bilhões de reais, a serem aplicados em obras de contenção de encostas, construção de muros de arrimo, projetos de drenagem, canaletas, entre outras ações em áreas de risco na capital pernambucana.

Com perdão ao trocadilho, mas Eduardo Leite, depois da tragédia, está chorando o leite, ou o sangue derramado. Além de tudo, politiza a tragédia. Prova disto é a completa ingratidão com o governo federal, que está investindo muitos bilhões de reais para arrumar a destruição causada pela crise climática, potencializada pela falta de projetos de manutenção das comportas do Guaíba e da prevenção às enchentes. Nenhuma manifestação positiva em relação ao governo federal; elogios rasgados ao dono do “X”. E mais, agora que vê seu capital político junto aos municípios derreter, começa a falar em adiamento das eleições municipais no Rio Grande do Sul. Pra bom entendedor, o recado é claro.

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