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    Inez Lemos

    Psicanalista e autora de "Berro de Maria", ed. Quixote.

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    Quem produz a guerra?

    Guerra é a prova de que Freud tem razão, há algo na condição humana que vai muito Além do princípio do prazer. Chama-se pulsão de morte

    Bomba atômica jogada em Hiroshima pelos EUA em 1945

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    Guerra é a prova de que Freud tem razão, há algo na condição humana que vai muito Além do princípio do prazer. Chama-se pulsão de morte, gozo em ver o outro sofrer ou em provocar sofrimento em si próprio -  perversão, maledicência, maldade, sadomasoquismo, crueldade. Tudo que produz prazer em sentir o outro em situação inferior, em desvantagem, é da ordem do patológico. 

    Na lógica neoliberal não há espaço para dilemas trágicos, diante do imperativo de disputar e vencer, reverencia- se a matança, pouco importa se a guerra é injusta. Os motivos? Ambição por território, megalomania.

    Muitos pais estimulam o filho a levar alguma vantagem, a melhor. 

    Nascemos um pedaço de carne, o que nos constitui é a forma como somos educados, marcados, significados. Contudo, o conceito de humano, alteridade, o olhar sobre o outro com empatia está em declínio. O recrudescimento da extrema-direita no mundo coloca em prova o ato de educar. Como uma criança, até a idade adulta, deve ser educada? Não é tarefa fácil, exige muita dedicação, implicação, determinação. Formar, estimular um bom caráter, subjetividade criativa com boas referências é responsabilidade que poucos assumem. Com certeza não será o tik tok que fará de seu filho um cidadão comprometido com direitos, deveres, responsabilidades. 

    O Brasil é um dos paises em que as crianças mais tempo ficam diante de telas. Não é por acaso que os ataques nas escolas aumentaram. Educação obscena, beligerante, focada em resolver conflitos pelo ódio, armas. Vivemos o apagamento do diálogo. Conversar - versar e debater ideias não estão na agenda das famílias. 

    Se o inconsciente é estruturado como linguagem (Lacan), significa que o sujeito de hoje age em função de tudo que ouviu, presenciou e sentiu ao longo de sua vida. Como se forma um fascista, genocida? Desrespeitando, magoando, mentindo, maltratando, humilhando. Estamos sofrendo as consequências da ausência de uma educação adequada aos anseios de uma sociedade civilizada, ética - em que o outro seja visto como humano, um ser que sofre e precisa ser cuidado, ouvido em suas necessidades, demandas. Israel não quis saber desse outro, seu vizinho, apenas encurralá-lo, confiná-lo, massacrá-lo. Suas crianças, seus sonhos. Para tanto, numa disputa fálica de poder fez jorrar o sangue - massacre. O ataque do Hamas deve ser visto como um alerta, forma de colocar um ponto de basta, chamar atenção do mundo para a triste realidade que vivem os palestinos. Sem entrar no mérito se foi a melhor  estratégia, contudo, há tempos em que a extrema-direita de Israel, sionista, atua de maneira análoga ao nazismo na Palestina. Faixa de Gaza - campo de concentração. As consequências são terríveis. Freud tentou explicar as guerras ao debruçar sobre nosso núcleo psíquico, ao afirmar que nascemos perversos polimorfos. Sem esculpir, educar a criança, teremos a pedra dura de suportar.

    A função paterna e materna estão sofrendo um processo de putrefação - crianças educadas em jardins de rosas, excessos de mimos, ausência de interdição. Crescem se sentido poderosos, fora da realidade. Muitos, sem moralidade, apodrecidos em suas interioridades, sem conexão com afetos positivos. Educar bem um filho é redução de danos. Sem amor e limites, só podemos esperar coisa ruim. Estupor.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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