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    Carla Teixeira

    Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em História Membro do Conselho Editorial da Revista Temporalidades - Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG

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    Quem vai (ter coragem de) prender os Comandantes?

    "Se a impunidade reinar entre os Oficiais golpistas, a indisciplina é certa e novos ataques ocorrerão", escreve a colunista Carla Teixeira

    Terroristas bolsonaristas no Palácio do Planalto (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil | REUTERS/Adriano Machado)

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    O Brasil e o mundo ficaram indignados com os ataques de bolsonaristas que depredaram o patrimônio histórico brasileiro no último domingo (08), em Brasília (DF). A completa destruição das sedes dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário representa a manifestação de fascistas que assumem o terrorismo como prática política, afrontam as instituições, achacam a democracia e desprezam a escolha soberana do povo brasileiro.

    Após a devastação nos prédios dos Três Poderes, os terroristas retornaram para o acampamento no Quartel General, em Brasília. Durante a madrugada, blindados do Exército impediram a ação da Polícia Militar (PMDF) para desmontar as barracas. De acordo com a imprensa, havia familiares e amigos dos militares nos acampamentos. O próprio ministro da Defesa, José Múcio, admitiu, semana passada, que possuía “parentes e amigos” participando dos atos em Pernambuco e Brasília, os quais classificou como “manifestações da democracia”. Ainda em novembro de 2022, os Comandantes das forças armadas divulgaram nota apoiando os atos instalados sob seu protetorado.

    Corretamente, o presidente Lula decretou Intervenção Federal na Segurança Pública do Distrito Federal, mas evitou adotar uma Garantia da Lei e da Ordem (GLO), que colocaria o Exército na rua e daria protagonismo de solução àqueles que criaram o problema. À noite, o ministro da justiça Flávio Dino informou que já havia identificado os financiadores e que todos os envolvidos seriam presos. Governadores de dez estados anunciaram o envio de efetivo policial para garantir a manutenção da ordem pública na Capital Federal.

    Está claro que, vestidos com a bandeira nacional, os terroristas não queriam tomar o poder, apenas causar destruição e impedir o governo de funcionar. Estavam guiados pelas palavras de Jair Bolsonaro, que tantas vezes incentivou a invasão dos Poderes antes de fugir para os EUA. Mas também lutavam por questões familiares: os cargos de militares no governo – perdidos com a derrota do capitão -, os pagamentos adicionais, a manutenção dos privilégios e da tutela militar sobre o poder civil. Não obstante, durante a posse dos atuais Comandantes o nome de Lula sequer foi mencionado.

    As forças armadas não aceitam seu Comandante Supremo e se colocam em situação de barganha. Os generais atuais viram seus mestres, na década de 1970, praticando toda sorte de delinquência e violação sob a proteção da farda que garantiu anistia pelos crimes cometidos. Jair Bolsonaro é apenas a marmita dos milicos sedentos pelo poder. O Partido Militar é a incubadora do terrorismo bolsonarista e principal responsável pelo vandalismo ocorrido em Brasília.

    Esses ataques, sem precedentes na história da República brasileira, mostram o custo histórico da conciliação com fascistas que utilizam sua função no serviço público para afrontar a democracia e destruir o patrimônio nacional. Tentam, em vão, abalar a democracia e a ampliação da cidadania conquistadas com a vida dos brasileiros mortos nos porões da Ditadura Militar ou no genocídio provocado pelo governo derrotado nas eleições de 2022. É imprescindível a identificação dos financiadores, executores e apoiadores (políticos, empresários, militares) desses atos. Os agentes públicos devem ser exonerados, pois não servem à confiança da sociedade brasileira e todos devem responder ao rigor da Lei.

    Afastar o governador bolsonarista do DF, Ibanês Rocha, prender Anderson Torres, os 1.500 terroristas em Brasília e até o próprio Jair Bolsonaro poderá até ser fácil. A questão é: Quem prenderá o Alto-Comando? Quais responsabilidades serão atribuídas ao ministro da Defesa e aos comandantes militares, especialmente os de Brasília? Quem deu a ordem para que blindados do Exército protegessem os terroristas no QG? Os integrantes da “Família Militar” envolvidos nos atentados terroristas serão processados? Os PMs e Oficiais do Exército que apoiaram os terroristas serão demitidos e presos?

    Neste momento, dois temas são fundamentais: primeiro, garantir que não haverá anistia para qualquer agente público ou privado que tenha contribuído para a destruição do patrimônio histórico nacional; segundo, que o poder civil controle o poder militar e faça valer a vontade soberana do povo brasileiro. Ambos os aspectos não puderam ser resolvidos pelos comandantes políticos da redemocratização – na década de 1980 – e hoje cobram seu preço. Os generais bolsonaristas precisam ser enviados à reserva e processados, e o ministro da defesa demitido. Os critérios de ascensão e formação dos integrantes das forças armadas precisam ser alterados para responder aos interesses do povo brasileiro, não da corporação.

    Se a impunidade reinar entre os Oficiais golpistas, a indisciplina é certa e novos ataques ocorrerão. Conciliar com terroristas selará a miséria profunda de um povo condenado à eterna tirania. Com apoio internacional, dos Governadores, dos Poderes Legislativo e Judiciário, e com a presença massiva do povo nas ruas, Lula, como Comandante Supremo das Forças Armadas e líder incontestável da frente ampla que se formou para derrotar o autoritarismo, dando sobrevida à Nova República, poderá dar um passo fundamental na luta política de sua geração: aprofundar a democracia e consolidar o poder civil sobre os militares. SEM ANISTIA! Terroristas e violentadores na cadeia! Democracia para sempre!!

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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