Quer Papai Noel vermelho? Vai para Cuba!
O que antes tinha outra cor, o capitalismo transformou em vermelho e agora querem transformar em branco
Engraçado que mesmo o Natal sendo uma festividade conservadora, pode se piorar um cadinho mais. E mesmo imaginando que desde o proletário até os bilionários têm sentimentos nobres no dia da comemoração, quem conduz as promoções natalinas em shoppings e centros comerciais são os mais abastados. Não surpreende Balneário Camboriú destituir Papai Noel vermelho pelo verde e amarelo. Não à toa, o prefeito da cidade é do PL e elegeu o filho mais novo de Bolsonaro, Jair Renan. Em um shopping, em Florianópolis, Santa Catarina, um Papai Noel vestido de branco, com decoração de Natal ao redor sem nenhuma cor vermelha chamou a atenção também. O Estado de Santa Catarina, depois de Roraima, foi onde houve mais votos para Bolsonaro, por volta dos 62,21%. Antes de continuar, Cuba tem Papai Noel tradicional, assim como nos Estados Unidos, vestido de vermelho e é chamado de Santa Cló.
Desde que foram padronizados as cores de Papai Noel, nos Estados Unidos, por causa da campanha da Coca-Cola, todos reconhecem como a figura símbolo do Natal e não algum velhinho comunista que come criancinha. Vai fazer quase 100 anos que o artista sueco-americano Haddon Sundblom pintou o Papai Noel nos anúncios de Natal da Coca Cola de vermelho, afinal em sua cultura, casava com a imagem de Sinterklaas, parecido com o Papai Noel atual. O bom velhinho, com as cores da empresa americana, de bochechas rosadas cativou imediatamente a criançada e pegou no imaginário popular no mundo. Sendo uma companhia capitalista, nem isso pode ser atribuída à questão. O que antes tinha outra cor, o capitalismo transformou em vermelho e agora querem transformar em branco.
É bem verdade que o Natal é uma construção, uma colagem de tradições que foram atravessando os séculos. Papai Noel, que na verdade era São Nicolau de Mira, veio das tradições pagãs do norte da Europa, no século III. Um bispo caridoso da igreja católica, que distribuía presentes aos necessitados. Antes, suas vestes em imagens mais antigas variavam de tons de verde ou de marrom. Mas uma pintura bizantina já o retratava com roupas vermelhas. Era uma batina toda vermelha, com sobrepeliz branca e marcas de cruz pretas. Não é um sofrimento de purista, mas compreender o que está sendo feito e por quê.
Estão propondo a ritualização do aborrecimento. A situação é tão constrangedora que o ator que faz o papel de bom velhinho está com um semblante triste e amargurado. Os comentários são que as crianças não reconhecem como Papai Noel e preferem tirar fotos com um tradicional em outro lugar. Todos ao redor, principalmente as crianças, sentem uma certa estranheza. O próprio shopping está querendo processar todos aqueles que falarem mal de sua figura natalina. É evidente que os comentários vão se sobrepor, principalmente quando existe uma reação negativa por parte da empresa tentando calar opiniões, das quais tanto lutam por liberdade de expressão.
Com a polarização nacional, ficam normatizadas as intenções, mesmo que a intenção tivesse sido outra. Por isso, o cuidado que a equipe de montagem deve ter cuidado com o possível burburinho que possa acontecer, afinal, em outros períodos já tinha acontecido a mesma situação. Algo inclusivo poderia ser feito e que deu certo em alguns lugares, como um Papai Noel preto. Uma iniciativa que prega igualdade e diversidade. O sentido de mudança em uma figura já notória, precisa de conceituação dos tempos em que vivemos. As mudanças só têm sentido quando são para impulsionar uma ideia, um questionamento, e não fazer campanha ao contrário.
E cá para nós, quem resiste a um Papai Noel gordinho, de barba branca, todo sorridente e vestido de vermelho?
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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