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    Ligia Deslandes

    Formada em pedagogia, mestra em educação. Secretária-Geral da CUT-Rio e diretora de relações internacionais e sindicais do Sindicato dos Trabalhadores no Comércio de Minérios e Derivados de Petróleo do Estado do Rio de Janeiro – SITRAMICO-RJ, funcionária da Petrobras Distribuidora.

    3 artigos

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    Querem os anéis e os dedos da Petrobras

    Sem a BR Distribuidora, a Petrobras "some" fisicamente da visão dos brasileiros, deixa de existir, enfraquecendo a sua marca no inconsciente do povo, que tenderá a esquecer que ela existe, tornando muito mais fácil a sua total privatização e a venda do próprio pré-sal

    Sem a BR Distribuidora, a Petrobras "some" fisicamente da visão dos brasileiros, deixa de existir, enfraquecendo a sua marca no inconsciente do povo, que tenderá a esquecer que ela existe, tornando muito mais fácil a sua total privatização e a venda do próprio pré-sal (Foto: Ligia Deslandes)

    Você sabe porque a BR Distribuidora foi criada? Antes dela, a Petrobras só era visualizada por poucas pessoas, de poucas cidades litorâneas, como um navio ou plataforma em alto mar.

    A BR foi criada para que a Petrobras passasse a existir fisicamente para o brasileiro, com postos de gasolina na esquina de qualquer cidade, que o brasileiro vê diariamente e com o qual muitos se relacionam pessoalmente toda semana quando reabastecem o carro. Assim, a Petróleo Brasileiro passou a adotar a marca BR para se fortalecer.

    Outra razão é que qualquer grande petroleira do mundo possui uma distribuidora acoplada a si em sua estrutura. Ficava "capenga" a Petrobras ser, tão somente, uma prospectora de petróleo sem a parte de distribuição de derivados. Isso foi decisivo para valorizá-la quando lançou suas ações no mercado de capitais.

    Mais uma questão é o controle da inflação. É a BR que consegue controlar o preço final dos combustíveis e, consequentemente, a inflação interna.

    É também a BR que vai onde nenhuma outra distribuidora vai. Leva combustível de qualidade para todas as regiões, desde as mais desenvolvidas até as mais longínquas e inóspitas, pois, tem responsabilidade social com o Brasil e com o povo brasileiro.

    POSTO BR AQUÁTICO

    Sem a BR, como a Petrobras irá escoar sua produção no caso das outras empresas distribuidoras resolverem importar petróleo refinado e a BR "privatizada" se juntar a elas?

    Sem a BR como a população do norte e nordeste será abastecida sem pagar preços exorbitantes pelo combustível?

    Em suma, sem a BR Distribuidora, a Petrobras "some" fisicamente da visão dos brasileiros, deixa de existir, enfraquecendo a sua marca no inconsciente do povo, que tenderá a esquecer que ela existe, tornando muito mais fácil a sua total privatização e a venda do próprio pré-sal.

    A Petrobras voltaria a ser apenas um navio sonda nos confins do oceano, com uma bandeirinha verde e amarela, que raras pessoas veem. E será bem mais difícil, a qualquer governo, controlar a inflação sem uma interferência no preço da bomba de gasolina.

    Dividir a Petrobras em várias subsidiárias foi o primeiro passo para privatizar a Petrobras. Não conseguiram, em 1995, por conta do grande apego que o brasileiro possuía pela empresa. E mais uma vez a campanha do "Petróleo é Nosso" venceu.

    Agora, com a exploração negativa da imagem da Petrobras pela mídia por conta da Operação Lava-jato, tentam destruir o amor que o povo nutre pela Empresa. E, valendo-se do enfraquecimento de um governo com ideologia contrária às privatizações, as petroleiras estrangeiras, de olho em nosso petróleo, usam políticos e antigos técnicos da empresa como lobistas para baratear a Petrobras e o pré-sal.

    Aproveitando a crise mundial do petróleo, que desvalorizou momentaneamente os seus ativos, a BR DISTRIBUIDORA – estatal brasileira responsável pela distribuição dos derivados de petróleo produzidos pela Petrobras – está seriamente ameaçada de ser vendida abaixo do seu verdadeiro valor.

    Pra completar, fazem isso em meio a uma nova crise internacional que derrubou os preços do barril de petróleo, que destrói o valor de mercado dos seus ativos, ações e os enormes lucros da Petrobras.

    Os políticos e dirigentes neoliberais e entreguistas, por suas vez, dão entrevistas para a mídia, defendendo que o momento é de "desapego" para venda dos ativos do grupo, como única alternativa. A BR e a Transpetro, como empresas desagregadas há muito tempo, recebem as derradeiras propostas de compra de 100% do seu patrimônio, por grandes empresas estrangeiras, que podem levá-las barato.

    Por fim, lançam campanhas contra os sindicatos de petroleiros e suas federações, para minar qualquer resistência organizada, passeata ou nova greve, dos próprios empregados da Petrobras. Propagam mentiras na mídia contra a empresa e seus empregados, fomentando a divisão entre os petroleiros das várias empresas que fazem parte do sistema. Muitos petroleiros acabam por acreditar na privatização das subsidiárias como necessidade para manter a Petrobras estatal e não incluem a BR e a Transpetro na luta contra a privatização do sistema Petrobras. Outros da própria BR entram na onda do "se eu ficar quieto me livro da demissão". Outros acham que com uma BR privatizada vão ter mais liberdade e serão compensados. Doce ilusão de pessoas que não conhecem a história do Brasil e a luta de classes que existe desde a invasão de Portugal nessas terras.

    Por todo o exposto, é bem provável que muito em breve, ainda em 2016, a Petrobras poderá perder os anéis e os dedos da BR, da Transpetro e da Liquigas, mas perceberá que sua mão ficou aleijada... sem elas tudo que explorar e que refinar em pouco tempo não terá serventia, e todo seu parque industrial poderá ser vendido a preço de banana.

    O maior de todos os prejuízos para os brasileiros com esta privatização, entretanto, é a grande probabilidade dos preços dos combustíveis dispararem, uma vez que a nova empresa (privada e sem fim social) procuraria maximizar seus lucros. Com isso, o custo dos fretes – rodoviário, aéreo e marítimo – naturalmente subiria, o que elevaria automaticamente o preço de todos os produtos para o consumidor final. Por si só, esse risco torna a privatização da BR DISTRIBUIDORA uma tragédia, dificilmente reversível, para o povo brasileiro.

    E aí? Vamos deixar isso acontecer ou vamos lutar?

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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