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    Heba Ayyad

    Jornalista internacional e escritora palestina

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    Rafah e o Holocausto: uma coincidência que vai além das leis do acaso

    "Invasão de Rafah é a repetição ou retomada de crimes de guerra que lembram os horrores do Holocausto"

    Auschwitz (Foto: REUTERS/Kacper Pempel)

    Não foi surpreendente o comportamento do primeiro-ministro da ocupação, Benjamin Netanyahu, ao combinar a comemoração do Holocausto no Museu Yad Vashem com um anúncio de sua determinação em enviar o exército israelita para invadir a cidade de Rafah e cometer um novo massacre. Esse ataque seria nada menos do que uma clara lembrança de que os horrores do Holocausto estão sendo revividos nos dias de hoje, mas pelas mãos de descendentes transformados em algozes e criminosos de guerra.

    Também não foi incomum os truques de Netanyahu, ao enganar e chantagear a opinião pública mundial e ao evocar piedade ao lembrar o Holocausto, não ter usado a língua inglesa naquele discurso, exceto quando sugeriu que o mundo poderia abandonar o estado ocupante e que, no entanto, lutaria sozinho se fosse forçado. Além disso, ignorando as mentes que estão conscientes da extensão do apoio ou cumplicidade dos Estados Unidos e do Ocidente em geral, de que o Estado ocupante gozou e continua a gozar.

    Passaram-se algumas horas entre esse discurso extremista e de lamento ao mesmo tempo, e o exército de ocupação apressando-se a atirar panfletos aos residentes da cidade de Rafah, exigindo que evacuassem os bairros orientais da cidade e se dirigissem para a zona de Al-Mawasi, a sudoeste da Faixa de Gaza. Durante a ameaça de Netanyahu e o aviso do exército de ocupação, o brutal bombardeamento israelita não parou em toda a Faixa de Gaza, e depois em Rafah, sem excluir a própria área de Al-Mawasi, para onde os residentes foram obrigados a ir.

    Tornou-se estabelecido e conhecido que a invasão de Rafah continua a ser uma das opções extremas diante de Netanyahu para perpetuar a guerra de extermínio contra a Faixa de Gaza, adiar o colapso de sua coligação governante se a agressão parar e escapar dos processos judiciais e eleitorais que poderiam levá-lo à prisão antes de ser relegado à lata de lixo da história.

    Esta opção também continuou a ser uma ferramenta de chantagem usada por Netanyahu sempre que quis arrastar a administração do presidente dos EUA, Joe Biden, a fazer uma concessão aqui ou a recuar da pressão ali, e não há diferença significativa em relação a qualquer objeção estadunidense em qualquer caso devido a ocupação. O Ministro da Defesa informou o seu homólogo estadunidense da decisão de iniciar a invasão, assim como o fez com o Secretário de Estado dos EUA, o que indica que Netanyahu nem sequer se preocupa com o fato de o mestre da Casa Branca ser pessoalmente informado da decisão e do momento. É claro, por outro lado, que a novidade atual por detrás da ameaça de invasão de Rafah é o fracasso das negociações do acordo de troca e da trégua em curso no Cairo, ou mesmo a sua completa demolição, como continuação do procedimento de proibição do canal Al Jazeera, com a provocação que isso pode implicar para o mediador do Catar. Não é novidade, e por sua vez não é surpreendente, que o momento coincida com fatos como a comemoração do Holocausto, a presença do Diretor da CIA na região e declarações de uma fonte egípcia de “alto escalão” de que o bombardeamento de Kerem Shalom fez com que as negociações vacilassem, como se o martírio diário de dezenas de palestinos não estragasse a questão da negociação. Se a invasão de Rafah realmente começar, a sua coincidência com acontecimentos, fatos e circunstâncias anteriores, ou qualquer outra coisa que tenha ocorrido ou venha a ocorrer, não tem nada a ver com as leis do acaso, uma vez que se enquadra diretamente nas leis da guerra genocida e a repetição ou retomada de crimes de guerra que lembram os horrores do Holocausto.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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