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Paulo Moreira Leite

Colunista e comentarista na TV 247

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Recado mostra que Lula compreende a lição do golpe que derrubou Jango

"Não tenho que prestar contas a nenhum ricaço ou banqueiro desse país," disse Lula. "Tenho de prestar contas ao povo pobre", acrescentou

Lula na Bahia (Foto: RICARDO STUCKERT)

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Como tem ocorrido durante suas viagens pelo interior do país, nesta segunda-feira, em Salvador, Lula mandou uma mensagem clara ao país.

Referindo-se à resistência que permitiu a recuperação de seus direitos políticos, a anulação da Lava Jato e o retorno à Presidência, ele fez questão de reconhecer sua dívida – acima de tudo política – com a grande massa de homens e mulheres que permitiram o retorno ao Planalto para cumprir um terceiro mandato.

"Não tenho que prestar contas a nenhum ricaço ou banqueiro desse país," disse. "Tenho de prestar contas ao povo pobre", acrescentou, durante uma cerimônia de anúncios de investimentos do governo federal em Salvador.

No discurso, onde também mencionou a perseguição sofrida por Dilma Rousseff, Lula lembrou que em 2016 "esse país entrou num processo de retrocesso de conquistas sociais. Inventaram mentiras, me prenderam, disseram que agora acabou, mas não vão acabar comigo, porque eu não sou eu, eu sou vocês."

Antes de encerrar, o presidente acrescentou: "o que deixa meus adversários nervosos são vocês."

É preciso recordar os traços fundamentais do golpe de 1964, que marcou com ferro e sangue a formação política de várias gerações de brasileiros e brasileiras – Lula tinha 19 anos na época – para compreender o sentido dessas palavras, que possuem uma gravidade fora do comum no rame-rame convencional das visitas presidenciais.

Sabemos que João Goulart, retirado da presidência após uma campanha infame de mentiras que tentava atingir inclusive sua família, era um chefe de governo com apoio popular muito superior ao que dizia a mídia adversária.

Num segredo que só seria revelado em 2020, 46 anos depois do golpe, o mesmo empresariado que contratou o Ibope para fazer um levantamento de opinião destinado a alimentar a campanha para derrubar um presidente legítimo impediu que os números fossem divulgados na época. O motivo era óbvio. Os dados eram bons para Jango e para a democracia, e péssimos para os golpistas.

Apurada entre 9 e 25 de março, e só divulgada publicamente quatro décadas depois, a pesquisa mostrava que para 30% dos eleitores entrevistados, o governo Goulart era bom. Para 15%, chegava a ser ótimo. Para 46%, era regular. Embora os grandes jornais estivessem em campanha aberta pela deposição de Jango, apenas 16% consideravam seu governo péssimo.

Apesar disso, na semana seguinte, o golpe avançou com apoio dos grandes grupos de comunicação, numa imensa conspiração, ajuda escancarada da CIA e outros serviços do império.

Meio século depois, ao se tornar o único político a ocupar a presidência da República pela terceira vez – sempre pelo voto direto – Lula tem razão em lembrar ao povo seu papel único na História do país.

Num tempo de muitas incertezas, Lula mantém uma conversa olho no olho de cada um dos presentes, para percorrer infinitos séculos de evolução humana quando diz, encarando aquela multidão de rostos humanos que ousam encarar a própria História: "O que deixa meus adversários nervosos são vocês."

Alguma dúvida?

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