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    Chris Hedges

    Jornalista vencedor do Pulitzer Prize (maior prêmio do jornalismo nos EUA), foi correspondente estrangeiro do New York Times, trabalhou para o The Dallas Morning News, The Christian Science Monitor e NPR.

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    Reflexões sobre a desistência de Biden

    "O Partido Democrata se recusa a aceitar a sua responsabilidade pela captura das instituições democráticas por uma oligarquia voraz", escreve Chris Hedges

    Kamala Harris e Joe Biden (Foto: Reuters)

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    Joe Biden foi descartado pela mesma classe bilionária que ele serviu assiduamente ao longo de sua carreira política. Mal conseguindo tropeçar nas palavras de um teleprompter e nem sempre ciente do que está acontecendo ao seu redor, seus apoiadores bilionários puxaram a tomada. Ele foi uma criatura deles – esteve em cargos federais por 47 anos – do início ao fim. Ele foi usado como um contrapeso para derrotar Bernie Sanders nas primárias de 2020 e foi ungido como o candidato em 2024 em uma campanha de primárias ao estilo soviético. A classe bilionária agora ungirá outra pessoa. Os eleitores do Partido Democrata são figurantes nesta farsa política. Donald Trump, ao contrário de Kamala Harris ou qualquer outro apparatchik que a classe bilionária selecionar como candidato presidencial, tem uma base genuína e comprometida, embora fascista.

    No livro 'Hitler e os Alemães', o filósofo político Eric Vogelin descarta a ideia de que Hitler – talentoso em oratória e oportunismo político, mas mal-educado e vulgar – hipnotizou e seduziu o povo alemão. Os alemães, ele escreve, apoiaram Hitler e as “figuras grotescas e marginais” que o rodeavam porque ele personificava as patologias de uma sociedade doente, assolada pelo colapso econômico e desesperança. Voegelin define a estupidez como uma “perda de realidade”. A perda da realidade significa que uma pessoa “estúpida” não pode “orientar corretamente a sua ação no mundo em que vive”. O demagogo, que é sempre um idiota, não é um monstro ou uma mutação social. O demagogo expressa o zeitgeist da sociedade.

    Biden e o Partido Democrata são responsáveis por esse zeitgeist. Eles orquestraram a desindustrialização dos Estados Unidos, garantindo que 30 milhões de trabalhadores perdessem seus empregos em demissões em massa. Como escrevo em 'America, The Farewell Tour', este ataque à classe trabalhadora criou uma crise que forçou as elites dominantes a conceber um novo paradigma político. Alardeado por uma mídia complacente, este paradigma mudou seu foco do bem comum para raça, crime e lei e ordem. Biden estava no epicentro dessa mudança de paradigma. Aqueles que passavam por profundas mudanças econômicas e políticas foram informados de que seu sofrimento não resultava do militarismo desenfreado e da ganância corporativa, mas de uma ameaça à integridade nacional. O antigo consenso que sustentava os programas do New Deal e o estado de bem-estar social foi atacado como facilitador da criminalidade dos jovens negros, das “rainhas do bem-estar” e de outros supostos parasitas sociais. Isso abriu a porta para um populismo falso, iniciado por Ronald Reagan e Margaret Thatcher, que supostamente defendia os valores familiares, a moralidade tradicional, a autonomia individual, a lei e a ordem, a fé cristã e o retorno a um passado mítico, pelo menos para os estadunidenses brancos. O Partido Democrata, especialmente sob Bill Clinton e Biden, tornou-se em grande parte indistinguível do Partido Republicano, o establishment ao qual agora está aliado.

    O Partido Democrata se recusa a aceitar a sua responsabilidade pela captura das instituições democráticas por uma oligarquia voraz, a grotesca desigualdade social, a crueldade das corporações predatórias e o militarismo desenfreado. Os democratas ungirão outro político amoral, provavelmente Harris, para usar como máscara para a ganância corporativa desenfreada, a insensatez da guerra sem fim, a facilitação do genocídio e o ataque às nossas [dos EUA] liberdades civis mais básicas. Os democratas, ferramentas de Wall Street, nos deram Trump, e os 74 milhões de pessoas que votaram nele em 2020. Eles parecem estar prontos para nos dar Trump novamente. Deus nos ajude.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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